Saiba quem é Kast, o presidente eleito de ultradireita com um plano 'implacável' para governar o Chile

Em sua terceira tentativa, José Antonio Kast conquistou a Presidência para a ultradireita no Chile, após vencer neste domingo o segundo turno das eleições contra a esquerdista Jeannet Jara, que reconheceu a derrota. Mais moderado do que outros líderes da mesma ideologia, esse católico devoto promete um plano "implacável" para restaurar a segurança e a ordem no país. Contexto: Eleições presidenciais no Chile ocorrem em meio ao avanço da extrema direita, fadiga política e medo da violência Guga Chacra: Ultradireita no Chile será como a do Brasil e Argentina? Kast, de 59 anos e pai de nove filhos, é um advogado intransigente e ultraconservador: ele rejeita o aborto mesmo em casos de estupro, a pílula anticoncepcional de emergência, o divórcio, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a eutanásia. Ele está na política há 30 anos sem a estridência de líderes de direita como Jair Bolsonaro, do Brasil, ou Javier Milei, da Argentina, com quem é comparado. — Ele é muito mais conservador como personagem e não tem uma personalidade muito carismática — disse à AFP Robert Funk, professor de Ciência Política da Universidade do Chile. Initial plugin text Suas realizações como congressista se limitam à aprovação de leis que permitiram a colocação de estátuas, a venda de óculos de leitura sem receita médica, a concessão de um passaporte chileno a uma freira e a regulamentação de loterias. Admirador da ditadura imposta por Augusto Pinochet de 1973 a 1990, conquistou o apoio dos chilenos com a promessa de combater o crime de frente e deportar quase 340.000 imigrantes irregulares, em sua maioria venezuelanos. A percepção de insegurança supera em muito as evidências de que o Chile é um país assolado pelo crime, apesar do aumento da criminalidade nos últimos anos. — Este governo gerou caos, desordem e insegurança. E nós faremos o oposto — afirma durante a campanha Kast, que assumirá o cargo em 11 de março. Ele foi eleito em meio a uma onda conservadora que varre a América Latina e após a segunda vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Blindado e com um revólver O fundador do Partido Republicano realizou diversos eventos de campanha atrás de vidros à prova de balas e revelou que possuía um revólver com cinco tiros. Uma de suas promessas é aumentar a capacidade ofensiva da polícia. Ainda assim, "ele parece muito sóbrio, muito pragmático, muito ponderado e muito calmo em comparação com os demais" líderes com quem é comparado, afirma a jornalista Amanda Marton, coautora do livro "Kast, a ultradireita chilena". Entrave: Próximo presidente do Chile enfrentará resistência em um Congresso dividido Ele é casado com María Pía Adriasola. Em 2017, sua esposa relatou em uma entrevista que Kast a proibiu de usar pílulas anticoncepcionais. Kast é o caçula de dez filhos de um casal alemão que imigrou para o Chile e construiu um próspero negócio de salsichas, do qual ele herdou. Investigações jornalísticas revelaram em 2021 que seu pai era membro do partido nazista de Adolf Hitler. Mas o pai de Kast alegou ter sido recrutado à força para o Exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial e negou ser nazista. A aposentada María Eugenia Rosas, de 69 anos, se sente atraída por seu jeito e franqueza: — Ele não se irrita, não insulta e não provoca — disse ela à AFP em Temuco (sul). Em contraste, a aposentada Erika Arredondo, de 70 anos, sente medo. — Ele é como o menino do conto do lobo. Um lobo disfarçado de boa pessoa — diz ela em Santiago. Sua ascensão ao poder representa a primeira vitória da ultradireita desde o fim da ditadura. Moderado? Sempre impecavelmente vestido, ele ocasionalmente esboçava um sorriso durante momentos tensos nos debates da campanha. Embora geralmente mantenha a calma, ele pode ser autoritário, segundo ex-colegas. — Ou você está com ele, ou ele está contra você — disse à AFP Lily Zúñiga, que trabalhou com ele na União Democrática Independente (UDI), onde ele atuou por duas décadas. — Ele sente que não nasceu para coisas menores. Kast renunciou ao partido em 2016 por considerar que sigla deixou de "transmitir as ideias" que ele defende. Três anos depois, ele fundou o Partido Republicano, que dirige com uma mistura de "simpatia pessoal" e "controle rígido", segundo Javiera González, coautora do livro "Kast, o messias da direita chilena". Sua porta-voz de campanha, Mara Sedini, destaca sua "ética de trabalho". — Ele é teimoso em relação a coisas que exigem teimosia, nas também é capaz de ser flexível e continuar aprendendo. Nesta campanha, ele relegou ao segundo plano agenda social conservadora, que lhe custou votos em 2021, para se concentrar na segurança e atacar a imigração, que ele considera uma conspiração da "esquerda radical" para acabar com as liberdades. — Algumas pessoas dizem que ele moderou seu discurso, mas não moderou. Ele simplesmente evitou tudo o que pudesse lhe custar votos — afirma Claudia Heiss, analista política da Universidade do Chile.