Marcella Rica estreia como diretora na primeira novela vertical de terror brasileira, fala sobre inovação e representatividade feminina

Com 20 anos de carreira, Marcella Rica construiu um percurso sólido como atriz, somando mais de dez trabalhos na televisão, três longas e nove peças teatrais. Mas sua trajetória não se limita às câmeras: cineasta de formação, ela também dirige, produz e comanda a Rica Conteúdo, desde 2018, assumindo direção criativa e produção executiva em mais de 600 projetos para grandes marcas. Giovanna Antonelli vive policial em novo filme e fala sobre força de suas personagens: 'O público sente verdade' Flávia Alessandra fala sobre menopausa, autoestima e liberdade após os 50: 'Hoje me sinto mais dona de mim' A estreia na direção de dramaturgia veio em grande estilo, com uma novela vertical de terror brasileira, chamada "Chamado na Madrugada", formato pensado para o consumo via celular. "Eu venho me dedicando nos últimos seis anos à direção em diferentes formatos… mas é minha estreia nesse formato. Foi um convite que recebi da Bianca Comparato e chegou no melhor momento possível. Esse desejo de dirigir e produzir dramaturgia é antigo e tem andado cada vez mais latente", conta ao GLOBO. Segundo Marcella, ela vê as novelas verticais como mais uma possibilidade de expressão artística. "Como mais um formato e veículo, o que significa mais possibilidades e aberturas de trabalho para todos nós do mercado. Consumimos dramaturgia desde a Grécia Antiga, então seja nos palcos, na TV, no computador, no cinema ou no celular, continua sendo dramaturgia que é passado, presente e futuro, em todo formato ou lugar", destaca. Para se aprofundar, Marcella passou a consumir ativamente conteúdos verticais, estudando a lógica de retenção e a estratégia das plataformas. "É importante acompanhar o que está sendo feito aqui e lá fora, pesquisar, estudar a curva de aprendizado, os acertos, as falhas e os cases que já existem. E tem toda uma estratégia de tech envolvida para impactar essa audiência, uma lógica de retenção, que é fundamental nesse formato", explica. Marcella Rica fala sobre carreira, direção e representatividade na dramaturgia digital Divulgação Luz Guerra A diferença entre uma novela vertical e a tradicional vai além do formato da tela. Os capítulos curtos, geralmente entre 60 segundos e 3 minutos, e a narrativa fragmentada criam ganchos que mantêm o público engajado. "Eu diria que é como assistir a um filme dividido em pequenas cenas… cada uma delas termina com um gancho que te leva para o próximo capítulo. A duração total lembra um longa-metragem, mas a estrutura narrativa é mais novelesca: mais diálogos, temas cotidianos… É um formato pensado para ser consumido de forma rápida, contínua e para gerar curiosidade", detalha Marcella. A experiência da atriz a conduziu naturalmente à liderança criativa. Desde cedo, ela observava o set com curiosidade e interesse por todas as etapas de produção. "Sempre gostei de olhar o todo… Depois da faculdade de cinema comecei a fazer assistência de direção e fui me aprofundando mais e me apaixonando. Mas acho que o mais decisivo mesmo foi o desejo de ter mais estabilidade e mais controle da narrativa", observa. Entenda como Marcella Rica passou da atuação à direção e estreia primeira novela vertical brasileira Divulgação Luz Guerra À frente da Rica Conteúdo, Marcella enfrentou um mercado historicamente masculino e conquistou espaço como mulher e CEO. "Acho que fui me entendendo como artista na hora de ocupar espaços e impor meus limites enquanto atriz. Dei sorte de começar a dirigir no momento em que o mercado estava buscando mais diversidade e liderança feminina. Sempre escolhi com muito cuidado os profissionais que caminham comigo. E poder escolher muda tudo, por isso produzir foi a grande virada para mim. Poder gerar oportunidades, criar uma rede de apoio e um ambiente saudável de trabalho, de admiração e respeito mútuo", comenta. Para ela, a representatividade feminina na liderança é essencial. "Não há outro caminho para transformar uma sociedade moldada por homens, machista, misógina, preconceituosa e com lacunas estruturais gigantes. Ter mulheres em espaços de liderança é o primeiro passo em direção a uma sociedade mais justa, inclusiva e representativa. É poder finalmente contar nossas histórias, dar voz a milhares de outras mulheres, provocar reflexões e abrir diálogos que provoquem mudanças reais, quebrar padrões e criar novas referências", destaca. Marcella Rica estreia como diretora em novela vertical e comenta representatividade feminina Divulgação Luz Guerra Marcella também compartilha sua vivência pessoal com autenticidade. Sobre a orientação sexual, relembra os desafios de não se expor publicamente. "Ouvi de muita gente e durante muitos anos que não era uma opção ter uma vida pública como atriz e ter também uma relação pública com uma mulher… Ter conquistado minha independência financeira, me deu voz e coragem. E ter conquistado o controle da minha própria narrativa, a liberdade de amar, de ser, de respirar em paz em todo lugar, foi das coisas mais lindas e importantes que já me aconteceram", relata. Hoje, em uma relação mais discreta com a atriz Natália Rosa, Marcella revela que preservar a intimidade é uma escolha consciente: "A gente vai amadurecendo e as prioridades vão mudando… Tá tudo bem ter uma vida pública e não obrigatoriamente superexposta o tempo todo." Marcella Rica namora a atriz Natália Rosa Reprodução Instagram A artista reconhece sua responsabilidade social. "Independentemente do momento de vida, sei da importância da representatividade e de abrir espaço para dialogar sobre diversidade, sobre assuntos que permeiam minha vida e a de outras mulheres que me seguem… É importante plantar amor, sempre. Falar de amor. Tem muita gente falando de ódio, a gente que fala de amor, precisa se multiplicar", pontua. Quando o assunto é conselho para mulheres que querem criar, liderar e produzir, Marcella é enfática: "Quando conquistar, puxe outras com você, é assim que a gente vai transformando os ambientes, moldando as narrativas, conquistando espaços e liberdade criativa para contar nossas histórias, imprimindo nosso olhar." Para Marcella, o que move cada escolha, dentro ou fora das câmeras, é a mesma força: impactar vidas, gerar transformações e abrir caminhos. "Fui descobrindo que empreender é também abrir portas, gerar oportunidades e consequentemente impactar vidas… Entendi que essa vontade que me move é latente em todas as áreas da minha vida, mesmo não só profissionalmente. Tá na disponibilidade do dia a dia, no cuidado… no desejo mesmo de querer ser luz no mundo", conclui.