UE/Mercosul: táticas de Macron para adiar pacto ameaçam acordo

A pressão de Emmanuel Macron para adiar a votação crucial da União Europeia sobre o acordo comercial com o Mercosul corre o risco de inviabilizar o pacto por completo. O presidente francês está preocupado com a situação enfrentada pelos agricultores franceses e acredita que o acordo, em sua forma atual, não oferece salvaguardas adequadas, de acordo com um assessor. Por isso, ele pediu à chefe do braço executivo da UE, a Comissão, que adie a assinatura do acordo. Roland Lescure: Ministro francês alerta que acordo UE-Mercosul 'não é aceitável' em seu estado atual Mercosul - UE: Marina Silva diz que derrubada de vetos na legislação ambiental traz risco grande de retrocesso no acordo Após 25 anos de negociações que travaram várias vezes perto da conclusão, a UE está próxima de finalizar nesta semana o pacto histórico com quatro nações — Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai — com o objetivo de diversificar os laços da Europa com as economias ricas em recursos naturais da América do Sul. Embora Macron seja amplamente favorável ao livre comércio e o acordo fortaleça a influência geopolítica da Europa contra as ameaças de tarifas dos Estados Unidos e a instrumentalização de matérias-primas críticas pela China, o momento para ele dificilmente poderia ser pior. IPVA 2026: desconto à vista ou parcelado? Calculadora do GLOBO mostra a melhor opção Agricultores no sudoeste da França têm bloqueado estradas e incendiado fardos de feno em protesto contra regras sanitárias do governo que exigem o abate de gado para evitar a propagação de uma doença altamente contagiosa. Proteção aos agricultores Durante o fim de semana, o governo francês afirmou que as medidas de salvaguarda propostas pela Comissão Europeia para apaziguar Paris eram insuficientes. Elas não protegem os agricultores locais de aumentos repentinos nas importações ou da volatilidade dos preços de produtos sensíveis, disseram ministros. Fabio Graner: Governo prepara novo Desenrola voltado para micro e pequenas empresas Estas medidas ainda precisam ser finalizadas nesta semana pelo Parlamento Europeu, onde a votação está marcada para amanhã, e pelos Estados-membros. A França agora busca adiar a votação para pelo menos janeiro, com apenas alguns dias úteis restantes em dezembro, de acordo com uma pessoa familiarizada com a posição do país. Embora os agricultores representem uma parcela relativamente pequena do eleitorado — cerca de 400.000 pessoas trabalham em fazendas, segundo a agência de estatísticas da França — eles exercem uma influência política desproporcional. No ano passado, o ministro do Interior, Gerald Darmanin, disse que não reprimiria o movimento, apesar dos bloqueios de estradas e montes de esterco. Marketplace: BYD passa a vender carros elétricos e híbridos pela OLX no Brasil Ele chamou os manifestantes de “patriotas”, enquanto exigiam regulamentações mais brandas e expressavam oposição ao acordo do Mercosul, até que o governo concedesse algumas concessões. A influência política interna cada vez menor de Macron, desde que perdeu a maioria relativa na Câmara no ano passado e não poder se candidatar à presidência em 2027, torna ainda mais difícil para ele se opor aos agricultores. Eles planejam protestar contra o acordo em Bruxelas na quinta-feira, enquanto os líderes europeus se reúnem. O papel de Meloni A Dinamarca, que atualmente detém a presidência rotativa da UE, planeja convocar uma votação nesta semana para que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, possa assinar a acordo no Brasil em 20 de dezembro, de acordo com um porta-voz da presidência dinamarquesa da UE. Caso a comissão prossiga com a votação, apesar do pedido francês de adiamento, não está claro se Paris conseguirá reunir aliados suficientes para bloquear o acordo. A incerteza deixa a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, em um possível papel de articuladora decisiva, dizem autoridades da UE, e isso eleva a pressão sobre von der Leyen. Portugal Giro: Tribunal veta aperto na cidadania aprovado no Parlamento de Portugal A não assinatura do acordo até o fim do ano corre o risco de desfazer anos de trabalho, alertaram autoridades europeias. Chipre e Irlanda — os próximos países a assumir a presidência rotativa da UE — podem estar menos ansiosos do que a Dinamarca para levar o acordo até a linha final. “Eles vão usar cada minuto para concluir isso”, disse o chefe de comércio da UE, Maros Sefcovic, em entrevista para a Bloomberg TV nesta segunda-feira. Ele acrescentou que, mesmo que as negociações fracassem nesta semana, não acredita que o processo esteja encerrado. O calendário político no Brasil adiciona outra camada de risco. A eleição presidencial no próximo ano poderia mudar a posição do país, principalmente se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um forte defensor do acordo, não conseguir se reeleger. O pacto visa criar um mercado integrado de aproximadamente 780 milhões de consumidores, oferecendo um impulso ao combalido setor manufatureiro europeu e à vasta indústria agrícola do Mercosul. O acordo ajudaria ambas as regiões a reduzir sua dependência dos EUA após a imposição, pelo presidente americano Donald Trump, de tarifas globais designadas a remodelar o comércio em favor dos EUA. O acordo também reforçaria a presença da UE numa região onde a China se tornou um fornecedor industrial dominante e a principal compradora de commodities.