Ucrânia e aliados concordam com termos de garantias de segurança, dizem negociadores, mas ainda há pontos em aberto

Negociadores que participam das conversas entre representantes da Ucrânia e seus aliados europeus e dos Estados Unidos afirmam ter concluído os termos sobre garantias de segurança contra futuras invasões russas, um ponto central para um acordo que permita o fim do conflito, iniciado há quase quatro anos. Em declaração conjunta, líderes europeus que participaram das discussões disseram, nesta segunda-feira, que houve “progresso significativo”, mas que “nada está acertado até que tudo esteja acordado”. 'Precisamos estar preparados': Secretário-geral da Otan alerta que Rússia pode atacar países da aliança em até cinco anos Caminho aberto?: Plano de paz revisado pela Ucrânia prevê entrada de Kiev na UE a partir de janeiro de 2027 Citados pelo New York Times, dois representantes dos EUA afirmaram que as garantias de segurança seriam similares às previstas pela Otan, a principal aliança militar do Ocidente, liderada pelos EUA: pelo Artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte, que rege a organização, um ataque a qualquer um dos 32 membros deve ser tratado como um ataque a todos. Mas no caso ucraniano, ainda não foi definido como isso seria aplicado. As garantias de segurança foram o tema central à mesa desde o fim de semana, quando representantes da Ucrânia e seus aliados na guerra se sentaram para tentar ajustar um plano de paz para o conflito. O texto inicial, revelado mês passado, foi considerado excessivamente pró-Rússia, e os europeus, ao lado de Kiev, tentam amenizá-lo e chegaram a apresentar um plano alternativo, já rejeitado por Moscou. € 210 bilhões: UE congela ativos russos e mira empréstimo bilionário para a Ucrânia; Moscou abre processo e exige compensação A primeira versão era vaga quanto às garantias contra uma nova invasão, e ainda há dúvidas sobre como aplicá-las. A presença de uma força internacional conta com o apoio de Kiev, mas Moscou disse que consideraria uma forma de agressão a seu país. Membros da Otan também não demonstraram interesse em enviar seus soldados. Os EUA, através do presidente Donald Trump, também reiteraram que não participarão com tropas, mas sugeriram que poderão ajudar em uma eventual zona de exclusão aérea e com informações de inteligência militar aos ucranianos. Um integrante do governo americano, ouvido pela rede CNN, descreveu a proposta levada por Washington como “padrão platina”, acrescentando que ela inclui punições a Moscou caso haja descumprimento. — Este é o conjunto de protocolos de segurança mais robusto que eles já viram. É um pacote muito, muito forte — disse o funcionário do governo dos EUA à CNN. Sem Trump no G20: Líderes europeus articulam resposta ao plano de paz dos EUA para a guerra na Ucrânia Em troca do compromisso, a Ucrânia disse que aceitará um veto permanente à sua entrada na Otan, outra exigência dos russos. — Por enquanto, para ser honesto, temos posições diferentes — disse o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em uma breve coletiva de imprensa na segunda-feira. — Mas acho que meus colegas já ouviram minha posição pessoal. Em comunicado, os líderes europeus que compareceram nesta segunda-feira às negociações em Berlim disseram que houve “avanços significativos”, mas acrescentaram que alguns detalhes em aberto precisarão ser resolvidos nas fases finais das conversas, uma menção indireta a eventuais contatos entre Zelensky e o líder russo, Vladimir Putin. “[Os líderes] deixaram claro que, como em qualquer acordo, nada está definido até que tudo esteja acordado e que todas as partes devem trabalhar intensamente em busca de uma solução que possa assegurar o fim duradouro dos combates”, diz o comunicado. “Agora cabe à Rússia demonstrar disposição para trabalhar em prol de uma paz duradoura, concordando com o plano de paz do presidente Trump, e demonstrar seu compromisso em pôr fim aos combates, concordando com um cessar-fogo.” Entenda: Quase 100 mil homens em idade de combate deixam a Ucrânia após novas regras de saída A jornalistas na Casa Branca, Trump mesclou otimismo com um acordo, ceticismo com os detalhes em aberto e impaciência com a demora em um texto para que possa assinar diante das câmeras. Segundo ele, “as coisas parecem ir bem”, ressaltando que “vem falando isso há muito tempo”, e que acha “que estamos mais perto agora do que nunca e veremos o que podemos fazer”. — Estamos nos aproximando. Estamos recebendo um apoio enorme dos líderes europeus. Eles também querem que isso acabe — declarou. —Neste momento, a Rússia quer que isso acabe. O problema é que eles querem que isso acabe, e de repente não querem mais, e a Ucrânia também quer que isso acabe, e de repente não quer mais, então precisamos que todos cheguem a um consenso. Trump também parece ter descartado um prazo (dado por ele mesmo) para que o acordo fosse fechado até o Natal: aos jornalistas, afirmou que “o prazo é quando terminarmos". Em entrevista a uma rádio iraniana, o chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que está"aguardando uma reação dos americanos sobre como eles conversaram com os ucranianos". Ele ainda afirmou que “a Europa está mais uma vez travando guerra contra o nosso país com as mãos e os corpos de ucranianos”, repetindo uma retórica do Kremlin. Aliado de Moscou: Bielorrússia liberta 123 presos, incluindo Prêmio Nobel da Paz e importante líder da oposição, após EUA aliviarem sanções Se há avanços sobre as garantias de segurança, o mesmo não se diz sobre outros pontos espinhosos das negociações. A Rússia quer que os territórios ocupados na Ucrânia, e a totalidade das regiões de Donetsk e Luhansk — incluindo áreas em poder de Kiev — passem a seu controle e sejam reconhecidos como parte de seu território. Os americanos soam favoráveis à proposta, mas os europeus e, especialmente, os ucranianos, a encaram como uma declaração de derrota. Em entrevista coletiva em Berlim, Zelensky condicionou qualquer tipo de decisão sobre os territórios às garantias de segurança, dizendo que precisa entender como elas seriam aplicadas — para ele, pensar em concessões territoriais é um tema “doloroso”, e que os dois lados do conflito têm “posições diferentes”. Na Casa Branca, ao ser perguntado sobre o tema, Trump disse que os ucranianos “já perderam algum território”. Hoje, a Rússia ocupa cerca de 20% da área da Ucrânia, incluindo a península da Crimeia, anexada em 2014.