Motoristas mantém greve do transporte coletivo após reunião

Justiça autoriza greve parcial e exige 70% dos ônibus em circulação em Campo Grande A greve do transporte coletivo em Campo Grande, iniciada na manhã desta segunda-feira (15), irá continuar após reunião do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano (STTCU). A suspensão do serviço prejudicou cerca de 110 mil usuários. Na reunião online feita entre os motoristas na tarde desta segunda-feira, ficou decidido que 100% dos funcionários irão manter a greve nesta terça-feira (16). A reunião de conciliação com a prefeitura está prevista para a tarde de terça-feira. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MS no WhatsApp A informação foi confirmada pelo presidente do STTCU, Demétrio Freitas, que afirmou que situação se dá pela falta do pagamento dos salários dos trabalhadores. Na reunião, ficou decidido que os coletivos continuarão parados por tempo indeterminado, apesar de multa imposta pela Justiça. Enquanto a administração municipal e a Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos (Agereg) afirmam que não há inadimplência e que todos os repasses estão em dia, o consórcio responsável pelo transporte coletivo sustenta que a paralisação é resultado de uma dívida acumulada desde 2022, relacionada ao descumprimento de um termo aditivo do contrato, no valor de R$ 39 milhões. Mesmo com a determinação da Justiça do Trabalho de que pelo menos 70% da frota de ônibus de Campo Grande deveria estar em operação, os trabalhadores seguem sem cumprir a decisão judicial em vigor. Prefeitura diz que pagamentos estão em dia O diretor-executivo da Agereg, Otávio Figueroa, disse que a agência possui todos os comprovantes de pagamento realizados pelo município. Segundo ele, a prefeitura repassa recursos ao consórcio por meio de subvenção, aprovada anualmente pela Câmara Municipal, como forma de reequilíbrio contratual. De acordo com Figueroa, somente em 2025, o consórcio recebeu mais de R$ 35 milhões em repasses do município, somando subvenções e vale-transporte. Ele também afirmou que o município arcou com gratuidades, isenções de ISS e pagamentos relacionados a estudantes, servidores e usuários da assistência social e da saúde. LEIA TAMBÉM Consórcio aponta atraso de R$ 39 milhões em meio a greve dos ônibus Greve de ônibus deixa mais de 100 mil sem transporte em Campo Grande Greve dos ônibus: entenda se patrão pode descontar o dia ou deve pagar transporte alternativo Multas e qualidade do serviço A Agereg afirma que, apesar dos repasses, o consórcio descumpre obrigações contratuais, como a renovação da frota e a manutenção dos veículos. Figueroa disse ainda que a agência aplicou uma multa de R$ 12 milhões por ausência de seguro obrigatório. “O serviço está abaixo da qualidade. Por isso que a agência reguladora está multando.” Consórcio aponta dívida de R$ 39 milhões Já o diretor-presidente do Consórcio Guaicurus, Themis de Oliveira, afirmou que a paralisação tem origem no descumprimento do quarto termo aditivo do contrato, firmado em março de 2022. Segundo ele, o termo criou a diferença entre a tarifa pública, paga pelo usuário, e a tarifa técnica, que seria a remuneração real do consórcio. “Tarifa pública é o que as pessoas pagam a hora que vão entrar dentro de um ônibus. E a tarifa técnica é a tarifa que realmente é a tarifa de remuneração do consórcio.” Atualmente, de acordo com Themis, a tarifa técnica é de R$ 6,57, enquanto o usuário paga R$ 4,95. “O município teria que pagar essa diferença de R$ 4,95 para R$ 6,57. Infelizmente, isso nunca foi pago.” O presidente do consórcio afirma que a dívida acumulada chega a R$ 39 milhões. “Hoje, a dívida chega em R$ 39 milhões. Só nos últimos 12 meses, de novembro de 2024 a outubro de 2025, ela chega em R$ 8,5 milhões.” Ele também citou valores em aberto referentes ao transporte de estudantes da rede estadual, que dá mais R$ 4,8 milhões. Impacto nos salários dos trabalhadores Segundo Themis, a falta de pagamento inviabilizou o cumprimento da folha salarial. “Está nessa falta de pagamento a incapacidade do consórcio de fazer os pagamentos devidos para os trabalhadores.” De acordo com ele, apenas metade dos salários foi paga na semana passada. O consórcio também aponta risco de atraso no pagamento do 13º salário e do adiantamento salarial. Tarifa e impacto para a população A Agereg afirma que pedidos de reequilíbrio econômico-financeiro podem resultar em aumento da tarifa técnica e impacto direto para os cofres públicos. “Quando a gente fala de aumentar a tarifa técnica, vai aumentar o custo para a população que, direto ou indiretamente, vai financiar através dos tributos do município.” Atualmente, segundo a agência, a diferença entre a tarifa paga pelo usuário e a tarifa técnica é bancada pela prefeitura. A Prefeitura de Campo Grande afirmou que o foco imediato é a retomada do transporte coletivo. Já o presidente do consórcio disse lamentar os transtornos causados à população. Garagem onde ônibus estão parados durante greve dos motoristas em Campo Grande Diego Queiroz/ TV Morena Veja vídeos de Mato Grosso do Sul