O CinePesca chega à terceira e última etapa de sua trilogia dedicada aos festivais do açaí com o lançamento de um novo documentário, na sexta-feira (19), na Casa Escola da Pesca, na Ilha de Caratateua, em Outeiro, distrito de Belém. O filme encerra um percurso iniciado em 2019, que passou pelas ilhas de Jutuba e Viçosa, e que ao longo dos anos transformou celebrações comunitárias em memória audiovisual construída a partir do olhar ribeirinho de quem vive nesses territórios. Realizado pelo cineclube CinePesca, projeto criado em 2015 na Casa Escola da Pesca, o documentário nasce de oficinas de formação audiovisual com estudantes das ilhas do norte de Belém. São eles que operam câmera, som, entrevistas e montagem, registrando festas que atravessam gerações e organizam a vida comunitária, como o Festival do Açaí — elemento central da cultura alimentar, do trabalho e da identidade ribeirinha. “A comunidade sempre recebe os filmes com muita força, porque existe esse desejo de se ver na tela, de reconhecer a própria casa, a própria festa, a própria voz”, explica a arte-educadora Renata Aguiar, idealizadora do CinePesca. Segundo ela, as exibições costumam ser momentos de encontro coletivo, em que moradores cobram cenas, se reconhecem nas imagens e transformam o cinema em espaço de conversa e pertencimento. O projeto revela um método de criação que parte do afeto e da convivência. As histórias filmadas são apresentadas pelos próprios estudantes, que levam a equipe até suas comunidades, entrevistam familiares, vizinhos e lideranças locais. “A gente vai filmar a avó do aluno, o tio, a pessoa que cozinha no festival. São comunidades que funcionam como grandes famílias, e isso aparece nos filmes”, diz Renata. Nesta etapa, além do lançamento do documentário, o CinePesca segue com a circulação dos filmes pelas ilhas, por meio da Mostra Ilhas, iniciativa que ampliou o alcance do projeto mesmo sem novos recursos de captação. As sessões são realizadas com projetor e tela grande, retomando o cinema como experiência coletiva. “É uma forma de tirar o audiovisual da tela individual do celular e devolver à comunidade esse momento de encontro”, afirma a educadora. Ao encerrar a trilogia do açaí, o CinePesca também aponta para novos caminhos. A ideia, a partir do próximo ano, é documentar outros festivais e expressões da cultura alimentar das ilhas, como celebrações ligadas a frutas, peixes ou mariscos, atendendo a uma demanda que surge das próprias comunidades. “As pessoas dizem: ‘lá na minha ilha também tem um festival que precisa ser documentado’. Existe essa vontade de existir no registro, de não deixar essas histórias desaparecerem”, relata Renata. Com entrada gratuita, o lançamento do filme reafirma o CinePesca como um projeto que articula educação, cultura e audiovisual a partir do território, transformando o cinema em ferramenta de escuta, memória e construção coletiva nas ilhas de Belém. Acompanhe o canal do g1 Pará no WhatsApp VÍDEOS com as principais notícias do Pará