Voices: IA vai exigir mais talento e criatividade dos produtores de conteúdo

Prever a atuação da inteligência artificial nos próximos 15 anos, bem como o impacto de novas tecnologias na criatividade, nos conteúdos e na sociedade é tarefa desafiadora, na avaliação de especialistas que participaram de um debate sobre o tema no Voices 2025. Hallison Paz, pesquisador em inteligência artificial que atua no programa de mentoria Alforriah, visualiza dois caminhos — um ensolarado e outro sombrio. No primeiro caso, diz ele, a IA deverá potencializar talentos e processos criativos desenvolvidos por humanos, além de tornar possíveis conteúdos, produtos e serviços hoje ainda inacessíveis. Já o outro cenário inclui riscos de plataformas digitais manipularem o sistema de forma a gerar lucro para os operadores, dificultando o acesso a conteúdos de mais qualidade. — Cabe a nós cobrar o uso com responsabilidade — resume. Quase consciência Brunno Sarttori, jornalista e especialista em deep fakes, que se apresentou como primeiro influenciador a usar IA para produção de conteúdo, em 2018, inserindo rostos de políticos da cidade em paródias virtuais, se mostrou mais otimista. Ele acredita que, nos próximos anos, a tecnologia permitirá a criação de roteiros quase tão sofisticados quanto os realizados por humanos, aumentando a demanda por originalidade. — Fico olhando o meu computador hoje e tenho certeza de que vai chegar um momento em que vou olhar para ele e falar: “Faz isso aqui igual eu fiz”, e ele vai conseguir fazer. Vai ser tipo o assistente do Homem de Ferro e a gente vai até se perguntar: “Será que ele não tem consciência mesmo?” Segundo ele, há 15 anos ninguém poderia prever o que está ocorrendo hoje, mas já é possível visualizar um futuro no qual a tecnologia disponível na palma da nossa mão seja algo parecido com o que hoje se vê apenas em filmes de ficção. Ainda assim, quem vai se diferenciar é quem tiver um bom roteiro, um conteúdo original e com qualidade. Sarttori começou em 2018 fazendo paródias com rostos de artistas e políticos, todos inverossímeis, como um vídeo com o rosto de um ex-presidente da República no Brasil trajado de Chapolin Colorado. Ainda assim, as pessoas acreditaram ser verdadeiro, o que, naturalmente, acendeu um sinal de alerta. A vacina, a seu ver, é aumentar a intimidade da população com a tecnologia: — Quanto mais contato a pessoa tem com aquela tecnologia, maior é a probabilidade de ela imaginar que aquilo pode ter componente generativo ou até de realismo falso. Já o ator, roteirista e apresentador Digão Ribeiro aposta na democratização de produção e distribuição que podem tornar o mundo virtual mais potente do que o físico. O uso de inteligência artificial como um meio de produção, a seu ver, pode levar a resultados que fomentem reflexões importantes. — Perguntei ao ChatGPT se o mercado de trabalho e a ética construídos em cima de valores patriarcais deveriam ser combatidos. O Chat pifou e depois de um tempo respondeu que era uma questão complicada. Pensou e trouxe referências de obras sobre o assunto. Levei isso para minha rede e rendeu muito debate. O lugar a que a IA chegou me permitiu trazer pensamentos para as pessoas, e elas se questionaram também — disse. Questões em suspenso Os três participaram do debate “Depois dos filtros, a IA. Ainda há espaço para originalidade e criatividade ao criar conteúdo?”, mediado por Tainah Tavares, editora-chefe do portal de tecnologia TechTudo. Questionados sobre o que a IA ainda não consegue realizar, Hallison citou a impossibilidade atual de reproduzir leis naturais. — Há um debate sobre se as técnicas utilizadas hoje em dia vão conseguir chegar no que chamamos de inteligência artificial geral — disse, citando o caso de crianças que começam a andar e que aprendem com a experiência a não cair. — A IA ainda está longe disso, apesar da evolução das ferramentas nos últimos anos. Outra questão é a de estabelecer limites: — Quem deve se responsabilizar por isso? Vamos também passar alguns anos debatendo a questão do plágio.