Voices: Mundo da tecnologia viveu salto de 100 anos em 15

Um planeta onde os smartphones eram exceção, a inteligência artificial ainda não havia chegado ao grande público e as redes sociais ensaiavam o seu poder de influência. Assim era o mundo em 2010. De lá para cá, o salto tecnológico trouxe profundas transformações que impactaram o comportamento da sociedade e criaram novos modelos econômicos. Esse salto de apenas 15 anos, mas que parece um século, foi tema de debate no Voices 2025, mediado pelo jornalista Rubens Achilles. Para o escritor e especialista em Tecnologia da Informação Gabriel Torres, a chegada dos smartphones e a disseminação da banda larga em grande escala foram um ponto de inflexão. Para o bem e para o mal. — Se as redes sociais nos aproximam de colegas que não encontramos há anos, também nos põe em contato com uma multidão de anônimos para brigar com a gente — pondera. Já a especialista em IA e professora da PUC-SP, Dora Kaufman, aponta a chegada da IA generativa como um marco na evolução tecnológica nos últimos 15 anos. — Embora a capacidade criativa ainda seja um atributo essencialmente humano, a inteligência artificial modifica a maneira como nós criamos e tomamos decisões — justifica. Kaufman também acredita que o avanço tecnológico condiciona o comportamento das pessoas, ao mesmo tempo em que é moldado pela interação humana. — É um processo de cocriação. A tecnologia só se dissemina se atender aos desejos da sociedade — afirma, para em seguida defender que a próxima onda de evolução será a criação de novos modelos de inteligência artificial que substituam as atuais redes neurais profundas. — Modelos capazes de criar correlações, analogias, para superar as limitações técnicas que a IA enfrenta hoje. A advogada Patrícia Peck, especialista no setor de tecnologia, por sua vez, observa que as mudanças aceleradas dos últimos 15 anos tornam mais difícil o trabalho dos reguladores. — O Brasil avançou muito na legislação de tecnologia desde 2010, com o Marco Civil da Internet, a LGPD, entre outras leis — diz. — Mas uma lei na área de tecnologia que demora mais de dois anos para ficar pronta já nasce obsoleta. Segundo Patrícia, a futura legislação de IA deveria levar em conta não apenas o comportamento do usuário, mas também o desenvolvimento da tecnologia em si. — As Inteligências Artificiais precisam ser treinadas para atender padrões legais exigidos no país, como a LGPD e a legislação eleitoral, por exemplo.