Guerra do CV impulsiona explosão dos roubos em região com cerca de 600 mil moradores no Rio; Mapa do Crime revela os bairros com mais assaltos em 2025

O avanço dos roubos no Rio tem um novo epicentro: a Grande Jacarepaguá, na Zona Sudoeste da cidade, num fenômeno intrinsecamente ligado à expansão do Comando Vermelho, a maior facção do tráfico no estado. É o que revela o Mapa do Crime, ferramenta interativa de monitoramento de delitos do GLOBO atualizada nesta semana com informações do primeiro semestre de 2025. Os dados evidenciam que a região concentra três dos seis bairros da capital fluminense que, nos seis meses iniciais do ano, registraram aumentos em todos os quatro indicadores mapeados — roubos a transeuntes, de celular, de veículo e em coletivos. A área, onde vivem cerca de 600 mil pessoas, testemunhou em 2025 a consolidação do domínio do CV, após três anos de disputa territorial com as milícias, que detiveram o monopólio local por mais de duas décadas. CLIQUE AQUI E VEJA NO MAPA DO CRIME DO RIO COMO SÃO OS ROUBOS NO SEU BAIRRO O plano expansionista da cúpula da facção foi posto em prática a partir de 2022, com o objetivo de retomar trechos da Região Metropolitana do Rio que assistiram a mais de dez anos de avanço dos grupos paramilitares. A Grande Jacarepaguá foi escolhida como ponto de partida da ofensiva por sua posição estratégica. Com a invasão de cerca de duas dezenas de favelas em três anos, o CV conseguiu formar um “cinturão” no entorno da Floresta da Tijuca — o que facilita eventuais rotas de fuga em operações policiais e dificulta investidas de grupos rivais. Hoje, a única grande comunidade da região ainda sob controle paramilitar é Rio das Pedras, berço da milícia carioca. Roubos voltam a crescer em Niterói em 2025, após cinco anos de queda; veja no Mapa do Crime os bairros onde os ataques mais aumentaram Roubo de veículo na Zona Sul do Rio: veja os bairros onde o crime aumentou no primeiro semestre de 2025 A partir deste ano, com as rédeas do CV estabilizadas nessa extensa área do Rio, foram impulsionados ali os crimes contra o patrimônio, afirma Pablo Sartori, subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança do estado. — A milícia proibia roubos para evitar exposição. Seu modelo de negócios era voltado à exploração interna das comunidades. Já o tráfico fomenta essas práticas e oferece abrigo a quadrilhas especializadas e receptadores — explica Sartori. Roubo de veículo na Zona Sudoeste do Rio: veja os bairros onde o crime mais aumentou no primeiro semestre de 2025 Jacarepaguá, o bairro que dá nome à região, foi um dos locais onde os quatro indicadores avançaram em 2025. Os roubos de celulares subiram 43%, de 57 de janeiro a junho de 2024 para 82 casos no mesmo período deste ano. A alta nos roubos de veículos foi de 41,8%, de 67 para 95. E os roubos a transeuntes cresceram 32%, de 79 para 105 registros. O maior aumento percentual, no entanto, ocorreu nos assaltos em coletivo, que saltaram 60%, passando de 15 para 24 ocorrências. Uma das vítimas dessa escalada de violência foi um comerciante de 33 anos, que teve a moto roubada em fevereiro ao sair de casa para comprar remédios. Por volta das 22h30, ele havia acabado de estacionar em frente a uma farmácia na Avenida Engenheiro Souza Filho, uma das principais vias locais, quando foi cercado por criminosos armados. Acabou agredido e teve o celular e a motocicleta — modelo 2024, adquirida apenas duas semanas antes — levados. — Andava com ela só por ali, já que sou morador, porque ainda não tinha seguro. Não deu outra: botaram a arma na minha cabeça e disseram que, se eu me mexesse, iam me dar um “tirão na cara”. Essa frase não sai da minha cabeça — conta o comerciante. Já em casa, após o roubo, ele descobriu pelo GPS do celular que o aparelho estava na Muzema, uma das favelas da região tomadas pelo CV. Até hoje, o comerciante não conseguiu reaver o bem — e sua rotina nunca mais foi a mesma. — Agora, pego quatro ônibus por dia: dois para ir ao trabalho e dois para voltar para casa. Não tenho esperança de conseguir recuperar a moto. A vida é muito injusta — lamenta. Segundo a Polícia Civil, os responsáveis pelo crime ainda não foram identificados. A investigação, no entanto, segue em andamento. Vila Valqueire é outro bairro da região que registrou aumento nos quatro indicadores. A progressão das ocorrências, porém, foi mais intensa nos roubos de celular, que dobraram (de 29 para 58 casos), e nos de veículos, que tiveram alta de 110% (de 38 para 80). Foi lá que, em junho passado, uma enfermeira de 45 anos foi abordada por um criminoso em uma moto ao estacionar o carro na porta de casa. “Passa o iPhone”, disse o ladrão, exibindo uma pistola. A mulher entregou a bolsa com todos os pertences. Ao perceber, porém, que o modelo do celular não era o desejado, o homem se irritou, arremessou os objetos de volta para dentro do veículo e efetuou um disparo na direção da vítima. O tiro perfurou as duas mãos da enfermeira. — Relembrar esse episódio é um gatilho emocional. Estou em tratamento psicológico — contou a vítima, que foi socorrida por moradores. Depois de passar por cirurgia, ela recebeu alta. Segundo a Polícia Civil, o autor foi identificado, e sua prisão foi solicitada à Justiça. Para a Secretaria estadual de Segurança, outro fator ligado à expansão do CV também influencia a explosão de roubos de celulares na Grande Jacarepaguá: o aquecimento do mercado ilegal de smartphones, que alimenta o crime. Segundo Pablo Sartori, comerciantes que antes vendiam celulares de forma legal passaram a ser cooptados pelos criminosos e, hoje, negociam aparelhos roubados. — As comunidades da região têm uma economia interna pujante, com lojas que sempre comercializaram aparelhos de forma legal. Antes, sob o domínio da milícia, o criminoso não oferecia produtos nessas lojas. Agora, o cenário mudou, e muitos comerciantes foram seduzidos — afirma o delegado. Em julho do ano passado, seguindo o rastro do GPS de um celular roubado na Zona Norte do Rio, agentes da 40ª DP (Honório Gurgel) prenderam Anthony Carlos Bezerra da Silva e Denílson de Oliveira Clementino na Avenida Ayrton Senna, na Barra da Tijuca, a 20 quilômetros do local do crime. Numa mochila, a dupla carregava 18 aparelhos — um deles, o da vítima. Aos policiais, os presos afirmaram que compravam celulares roubados por meio de grupos no aplicativo Telegram e, em seguida, levavam para um imóvel em Rio das Pedras, onde os aparelhos eram desmontados para que suas peças fossem revendidas. Mesmo ainda dominada pela milícia, a comunidade virou refúgio de receptadores, o que ocorreu em meio a frequentes tentativas de invasão do Comando Vermelho. Palco das primeiras ofensivas do plano de expansão do CV, ainda em 2022, o terceiro bairro da Grande Jacarepaguá onde todos os quatro indicadores monitorados pelo Mapa do Crime aumentaram é a Praça Seca. Atualmente, as favelas da região servem de base para “bondes” da facção responsáveis por tentar invadir áreas controladas por rivais na Zona Norte, como o Complexo de Israel e a Serrinha, ambos dominados pelo Terceiro Comando Puro (TCP). A maior escalada de crimes no bairro está ligada às guerras territoriais da facção: os roubos de carros saltaram de 56 para 127 — um crescimento de 126%, que coloca a Praça Seca em décimo lugar entre os bairros do Rio com mais ocorrências do tipo. No ano passado, o local não figurava sequer entre os 40 com mais casos. Para policiais que atuam na área, os veículos roubados ali são, em sua maioria, usados em incursões do CV contra territórios de grupos rivais. Mesmo sem terem registrado aumentos em todos os quatro crimes, vários outros bairros da Zona Sudoeste também apresentaram altas acentuadas em dois ou até três dos indicadores. É o caso do Anil, onde os roubos a transeuntes cresceram 55% e os de celular, 71%. Já a Freguesia contabilizou aumentos de 10% nos roubos de celular e de 75% nos de veículos. Assustados com o avanço da violência, moradores de uma área que engloba ambos os bairros decidiram se juntar para instalar, por conta própria, 45 câmeras de segurança em postes. Ao todo, os vizinhos gastaram R$ 350 mil com os equipamentos. — Sentimos que precisávamos fazer algo. Agora, temos câmeras que fazem leitura de placas de carros e reconhecimento facial. Assinamos um convênio com a PM para que eles tenham acesso às imagens. Os moradores também contam com um aplicativo, no qual podem apertar um botão sempre que presenciarem algo suspeito — afirma Fábio Quintino, presidente da Associação de Moradores e Associações do Bananal, Uruçanga e Quitite (Amabuq), responsável pela iniciativa. Icaraí registra recorde de roubos de celular no primeiro semestre; veja no Mapa do Crime A escalada dos roubos no Rio no primeiro semestre deste ano, porém, não se restringiu à Zona Sudoeste, com outros fatores influenciando mudanças na mancha criminal de diferentes áreas da cidade. O Flamengo, na Zona Sul, também integra o grupo daqueles que registraram aumento nas quatro modalidades analisadas pelo Mapa do Crime. Houve alta de 24% nos roubos a transeuntes de janeiro a junho, o que levou o bairro à oitava colocação entre os com mais casos da capital fluminense, com 232 ocorrências. As subtrações de celulares avançaram 54%, as de veículos, 7%, e os assaltos em ônibus cresceram 45%. Expansão da facção fluminense: Como conexões nas prisões federais ajudaram a tornar o CV nacional e reforçaram migração de criminosos para o Rio A explosão de casos na região, segundo dados de inteligência coletados pelas polícias Civil e Militar, está relacionada à migração de uma população vulnerável do Centro do Rio. Com a pandemia e o esvaziamento da área central, grupos de usuários de drogas que cometem crimes de oportunidade, como furtos e roubos de pedestres e de celulares, deslocaram-se da região da Cinelândia e da Zona Portuária em direção à Zona Sul, pela Marina da Glória e pelo Aterro do Flamengo. Esse movimento também impactou os indicadores de bairros vizinhos, como o Catete, que teve aumento de 51% nos roubos a pedestres no primeiro semestre de 2025; a Glória, que registrou altas de 48% nos ataques a transeuntes e de 54% nas subtrações de celulares. Botafogo seguiu o mesmo caminho: passou a ocupar a terceira posição entre os bairros com mais roubos de aparelhos da cidade, com 333 ocorrências, uma subida de 76% nos casos. A maior variação percentual de roubos de celular na Zona Sul, no entanto, ocorreu em Ipanema, bairro frequentado por turistas de todo o mundo. As ocorrências saltaram de 44 no primeiro semestre de 2024 para 99 no mesmo período deste ano, um aumento de 125%. Especialistas ouvidos pelo GLOBO apontam que o avanço do crime no local tem ligação direta com a retração dos casos em Copacabana, sua vizinha, que atingiu um patamar inédito de assaltos a pedestres após três anos consecutivos de queda. Foram 162 registros nos seis primeiros meses deste ano, o número mais baixo da série histórica, cujo auge ocorreu em 2022, com 313 ocorrências. As subtrações de celulares também recuaram 30% na Princesinha do Mar, chegando a 104 casos. Vida breve nas mãos do crime: por um ano, O GLOBO acompanhou dez adolescentes do tráfico; seis já morreram A intensificação do policiamento em Copacabana a partir de 2024 — que teve como marco o megashow de Madonna — provocou a migração de criminosos para o bairro vizinho, sobretudo, quadrilhas formadas por adolescentes que praticam roubos e furtos ao longo da orla. Os outros bairros que registraram aumentos nos quatro tipos de roubo abrigam favelas da Zona Norte que, nos últimos anos, têm sido palco de confrontos entre facções: Vicente de Carvalho e Engenho Novo. No primeiro fica o Juramento, dominado pelo CV e alvo de tentativas de invasão do TCP no primeiro semestre. Em junho, os moradores enfrentaram seis dias consecutivos de tiroteios entre os bandos rivais. Mapa do Crime passa a exibir roubos nos bairros de Niterói; saiba como consultar em ferramenta do GLOBO Nos seis primeiros meses do ano, o bairro apresentou altas de 34% nos roubos a transeuntes, 13% nos de celular e 75% nos casos em coletivos. O principal avanço, porém, foi o das subtrações de veículos: após crescimento de 63%, Vicente de Carvalho contabilizou 153 ocorrências e passou a ocupar a sexta posição entre os bairros do Rio com mais registros desse tipo. Já o Engenho Novo abriga o Morro São João, também dominado pelo CV e envolvido na guerra que dura dois anos pelo controle do Morro dos Macacos, comunidade vizinha sob domínio do TCP, em Vila Isabel. Em março e em maio, durante uma tentativa de invasão, cinco ônibus foram tomados por criminosos e usados como barricadas para facilitar a fuga do bando. As duas modalidades com maior crescimento percentual no local foram os roubos de celular, que dobraram e chegaram a 76 casos no primeiro semestre, e os assaltos em coletivos, que avançaram 153%, para 33 ocorrências. Esse foi o primeiro aumento desse indicador após quatro anos consecutivos de queda na região. 'Violada, explorada, humilhada e carregada com uma energia sexual sombria', diz americana que acusa Padrinho Paulo Roberto de assédio Initial plugin text