Um dos principais segmentos de startups no Brasil, as edtechs — empresas que utilizam a tecnologia para promover educação — têm se consolidado como forma de aprendizado continuado, mais flexível e adaptado às necessidades dos consumidores. Empresas de edutainment, que usam o entretenimento e a gamificação para ensinar, e aquelas voltadas à capacitação profissional se destacam no setor, com mais de 400 startups ativas no país. O futuro da educação digital foi tema de debate no Voices 2025, com reflexões sobre desafios e tendências das edtechs. Rogério Tamassia, sócio e fundador da consultoria Liga Ventures, apontou como uma das principais mudanças no perfil dessas empresas o aumento do pragmatismo nas propostas desenvolvidas, com foco na entrega de resultados em curto prazo. — Acho que se perdeu um pouco aquela coisa mais sonhadora das edtechs, do tipo “vamos revolucionar o mundo da educação”. De cinco anos para cá, observamos uma resiliência das startups do ramo e essa visão mais pragmática. O setor ganhou fôlego após a pandemia, que acelerou o processo de digitalização em diferentes campos. Um levantamento da Liga Ventures mostra que, nos últimos anos, houve um aumento no número de startups voltadas principalmente à capacitação profissional e tecnológica ou à preparação para vestibular e concursos públicos. — Edutechs que se consolidaram muito bem foram as que conseguiram conciliar a educação com empregabilidade, ou seja, a evolução para se chegar à empregabilidade. São empresas que unem o uso da tecnologia para ensino em escala e a conexão com o mercado — analisou Hector Gusmão, CEO e fundador da 42 Rio. Se antes as edtechs tinham como principal público-alvo o consumidor final (modelo B2C), hoje a maior parte dessas empresas atua no mercado B2B, com a venda de seus produtos e serviços diretamente a outras empresas. — O primeiro movimento do empreendedor brasileiro, de maneira geral, é criar uma estratégia B2C. Mas esse é um modelo difícil, que precisa de muito investimento. Então o que acontece, não só com as empresas de educação, é migrar para o B2B para poder se tornar sustentável — observou Tamassia. Esse foi o caminho trilhado pela Lingopass, plataforma especializada no ensino de idiomas para empresas. Criada em 2007 como escola de formação linguística voltada ao mercado de trabalho, a empresa se transformou em edtech e migrou, em 2021, para o modelo B2B, explicou a fundadora e CEO Alexandrine Brami. Um dos pilares das edtechs é a personalização da experiência do usuário, e a inteligência artificial (IA) tem sido uma aliada na busca de soluções para isso. Alexandrine contou que a tecnologia é utilizada em sua empresa desde o teste de nivelamento, com análise da pronúncia, fluência, vocabulário, gramática e entonação. Há também o uso da IA, combinada com dados e objetivos dos clientes, para criar trilhas de aprendizado personalizadas. Mas a gestora entende que a IA, embora acelere processos, não garante a eficácia do ensino. — Ela não é uma varinha mágica, é uma pílula azul. A IA permite aumentar muito a velocidade de tudo que a gente faz, mas não que o aluno tenha o sentimento de sala de aula. Aquela sensação de “eu errei e eu estou aprendendo”, isso você só cria com interação, e a conversa com a IA não é agradável. Para Hector Gusmão, o principal benefício da IA é a possibilidade de ampliar o acesso à educação, especialmente em áreas mais remotas. Mas ele defende que é preciso conciliar essa massificação com senso crítico: — Ou vamos ter uma sociedade rasa em termos de conhecimento, que vai resolver os problemas jogando no ChatGPT, sem ideia de como aquilo é desenvolvido.