Ao cumprir mandado de busca e apreensão no apartamento funcional do deputado federal Antônio Doido (MDB-PA), em Brasília, a Polícia Federal encontrou no gramado do prédio celulares que foram jogados pela janela durante a ação policial. O parlamentar é alvo de uma operação que apura crimes de corrupção exercidos por uma organização composta por agentes públicos e privados. Conforme a investigação, os suspeitos cometiam fraudes em licitações para desviar recursos públicos. Os valores obtidos com os desvios eram usados para pagamento de vantagens indevidas e ocultação de patrimônio. Estão sendo cumpridos 31 mandados de busca e apreensão no Pará e no Distrito Federal. A reportagem tenta contato com o deputado. Em janeiro, a PF prendeu um assessor do deputado federal com R$ 1 milhão em espécie, em Belém. O homem, que estava lotado como secretário parlamentar no gabinete, foi surpreendido pela polícia quando estava em um carro com o representante comercial de uma empresa que tem contratos com prefeituras no estado. O dinheiro estava dentro de uma mochila. Procurado na época, Antônio Doido não comentou a prisão do agora ex-assessor. Já em agosto, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a abertura de um inquérito para investigar Antônio Doido por suspeita de desviar dinheiro de contratos públicos do governo do Pará, sendo um deles relacionado a uma obra da COP30 que seria realizada em Belém. O caso estava sendo apurado no âmbito da Justiça Eleitoral do Pará, mas foi remetido ao Supremo por envolver o parlamentar, que tem foro privilegiado. Duas empresas investigadas foram registradas no nome da mulher do parlamentar e de um "gerente" de uma fazenda do deputado. A PF considerou que eles atuavam como "pessoas interpostas" de Antônio Doido. O contrato sob investigação se refere a uma licitação de obras no Canal do Bengui, em Belém, que custaria R$ 142 milhões. "Conforme registra a autoridade policial, constata-se a possível atuação de organização criminosa, que 'utiliza um complexo e sofisticado mecanismo de lavagem de dinheiro, proveniente de desvios de recursos públicos, mediante o suposto pagamento de vantagens indevidas para servidores públicos'", escreveu o procurador-geral da República, Paulo Gonet, em manifestação enviada em fevereiro.