A presidente do Supremo Tribunal Militar (STM), Maria Elizabeth Rocha, defendeu a adoção de um código de conduta para magistrados, como tem defendido o atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin. Em entrevista a jornalistas, nesta segunda-feira, a ministra afirmou que o Supremo "tem que dar o exemplo" para outros julgadores pelo país. Código de conduta no STF provoca mal-estar e abre primeira crise na gestão Fachin Diretor da PF confirma presença de autoridade com foro em caso Master e diz que investigação no STF 'não traz prejuízo' — É importante que o Supremo dê o exemplo. O Supremo é que tem que dar o exemplo para toda a magistratura que está abaixo dela — disse ela, na sede do STM. A ministra disse que Fachin já tratou do tema com ela e também com outros presidentes de tribunais superiores, como Cármen Lúcia, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE); Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça (STJ); e Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Maria Elizabeth destacou que todos se mostraram favoráveis ao código. A ministra afirmou que a norma não configura um "moralismo barato", mas um "imperativo cívico". — É preciso que haja clareza nas atitudes e no comportamento da magistratura, sobretudo da magistratura superior. Quando o cidadão bate nas portas do Judiciário, o Estado falhou em tudo com ele, então o Judiciário não pode falhar — argumentou. — É importante que tenha um código ético que deixe bem claro qual a conduta nós devemos adotar no exercício da profissão. Não é uma questão de nós sermos os vestais da democracia ou os vestais da pureza, é de nós honrarmos a toga que vestimos e a profissão que nós abraçamos. Como O GLOBO mostrou, a revelação de que Fachin trabalha na elaboração de um código de conduta para os ministros da própria Corte e dos outros tribunais superiores gerou mal-estar entre integrantes do tribunal. A discussão chega a ser indicada como a primeira grande crise interna de Fachin no comando do Supremo. Nos bastidores, ministros sinalizam que a criação do conjunto de regras deve ficar em compasso de espera até que haja uma melhora do clima para debater. Uma ala do STF questiona o momento escolhido para a discussão, especialmente porque o Senado analisa uma atualização da Lei do Impeachment — tema sensível que, segundo ministros, coincide com pedidos de afastamento de integrantes da Corte, impulsionados por apoiadores do ex‑presidente Jair Bolsonaro. Master: Toffoli autoriza retomada da investigação, mas custodiará arquivos em seu gabinete Lula diz ser grato ao Congresso em meio à crise com Câmara e Senado: 'Na questão econômica, foi muito correto' Existe ainda a avaliação de que a iniciativa de Fachin foi divulgada em um momento ruim para a imagem do tribunal, com a divulgação de que o ministro Dias Toffoli viajou em um jato privado com advogado envolvido no caso do banco Master. Nos bastidores do Supremo, integrantes da Corte também observam que houve uma falta de articulação de Fachin com os colegas sobre o assunto. O perfil mais reservado do presidente do STF é apontado como um dos fatores para esse desalinhamento. Há temor de que a tramitação do código interno forneça argumentos ao Congresso e fragilize a imagem do STF, expondo eventuais divergências entre os ministros no momento em que a Corte se esforça por manter coesão após a resposta aos atos antidemocráticos de janeiro de 2023 e a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados na trama golpista. O código de conduta é um projeto que Fachin gostaria de concretizar desde antes de sua ida para a presidência do Supremo, em setembro. Desde então, ele vinha discutindo o tema com os colegas do STF e com presidentes de outros tribunais superiores — como o STJ, STJ e STM — buscando apoio para avançar com o projeto, inspirado no código de conduta do Tribunal Constitucional da Alemanha. Procurado pelo GLOBO, o presidente do STF disse que "sempre defenderá a autoridade, a integridade moral e a imparcialidade do Tribunal". O código proposto incluiria diretrizes sobre transparência na participação em eventos, recebimento de verbas e relações com entidades privadas, buscando mitigar conflitos de interesse. Fachin pretende que os princípios se estendam também ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), afetando toda magistratura. No CNJ, a discussão contaria com o apoio do Observatório da Integridade e da Transparência, criado por Fachin. O principal desafio será obter os seis votos necessários em sessão administrativa do STF para que o código entre em vigor — etapa descrita por ministros como potencial ponto de tensão. O consenso nos bastidores é que a proposta será pausada até que o ambiente político se estabilize, evitando reforçar narrativas externas sobre conflitos entre o Judiciário e o Congresso.