A vinícola Vik, no Chile, foi eleita a melhor vinícola do mundo pelo The World’s 50 Best Vineyards 2025. Foi a primeira vez que uma vinícola chilena ganhou o prêmio. Segundo os organizadores do prêmio, a VIK é uma mistura visionária de vinho, arquitetura, paisagem e luxo; e sempre colocou a inovação e a ciência no centro de tudo o que faz. Uma semana antes da premiação, Carrie Vik, cofundadora da Vik Wine, junto com seu marido, Alexander Vik, conversou com o GLOBO sobre a evolução da marca nos últimos 20 anos – que além dos vinhos, tem hotéis luxuosos no Chile, Uruguai e Milão - e os planos para o Brasil, que incluem a construção do Vik Retreats Vista Verde, em Araçoiaba da Serra (SP). O hotel de luxo está previsto para ser inaugurado em 2028, com vinhedos, a quarta piscina de ondas para surfe Wavegarden do Brasil e um museu a céu aberto. Sobre a expectativa para a premiação do The World’s 50 Best Vineyards 2025 que estava por vir, Carrie disse: — No ano passado ficamos em segundo lugar, então esperamos nos sair melhor. Estou ansiosa, muito ansiosa pela próxima semana e pelo que virá depois. Carrie Vik Divulgação A Vik nasceu da ideia de criar o “vinho perfeito”, unindo arte, ciência e natureza. Como essa visão evoluiu ao longo dos anos? Melhor do que eu jamais poderia ter imaginado, na verdade. Você tem essas ideias, sonhos e uma visão do que quer fazer na vida e, poder olhar para os últimos 20 anos, e dizer, “nossa visão se tornou realidade”, “nosso sonho se tornou realidade”, é incrível. Converso com meus filhos sobre estabelecer metas, ter sonhos e simplesmente ir atrás do que se quer na vida. A vida é um período finito e você quer fazer dela algo de que se orgulhe no final. Eu realmente não poderia ter imaginado que evoluiria tão bem em um período tão curto de tempo. Como você descreveria a essência da experiência Vik? O que a torna verdadeiramente especial? Nossa ideia inicial era construir os retiros como nossas próprias casas. Mas depois decidimos não fazer isso porque morávamos no hemisfério norte e tínhamos quatro filhos na escola. Então, o período que podíamos passar no Uruguai e no Chile depois disso era muito curto. Decidimos, então, construí-los maiores do que faríamos para nós mesmos e oferecer hotéis privativos de altíssimo padrão, com a arte, o design e a arquitetura que amamos. Mas também garantir que a experiência humana fosse de "você é meu amigo, vindo à minha casa". Você não é tratado como um hóspede de hotel. E eu me esforço muito para garantir que você seja tratado como nosso convidado. Então, acho que o objetivo principal é garantir que nossos hóspedes se sintam como amigos, como família, que sejam bem cuidados, mas que tenham acesso a todos os serviços dos melhores hotéis do mundo. Para mim, o que é algo único da nossa experiência é que há constantemente algo novo surgindo, seja visualmente, no paladar e em todos os sentidos. Gosto da ideia de que cada quarto é diferente e muitos deles não são como os quartos de uma casa. Isso, de certa forma, amplia a visão do hóspede sobre o que é design, por exemplo. O mesmo acontece com a arte, que é muito eclética e variada, com artistas consagrados e famosos, e com jovens estudantes. Acho que essa experiência é sentida pelo hóspede. Em diferentes países, a marca mantém o mesmo DNA, mas se adapta ao contexto local. O que vocês buscam preservar — e o que estão abertos a reinventar? Esse é outro conceito fundamental que nos esforçamos para implementar em cada uma de nossas propriedades: garantir que nossos hóspedes compreendam em qual país estão e que saiam com uma compreensão da cultura, da arte e da experiência de estar naquele país. Acredito que isso começa com a arte, pois em cada propriedade, a maioria das obras de arte provém do próprio país. Acho que esses são aspectos importantes para a experiência dos hóspedes. E não sei se me desviei do assunto, mas, voltando aos aspectos culturais, a comida, os produtos e nossos chefs são todos do país onde o retiro está. Espero que as pessoas saiam de cada um deles com a sensação de que sabem algo mais sobre o lugar que visitaram. O Brasil sempre foi um dos mercados internacionais mais importantes da Vik. Por que agora parece o momento certo para trazer a marca para cá? O Brasil é o nosso principal mercado de vinhos. Isso aconteceu de uma forma orgânica e interessante quando o Brasil, de alguma forma, antes de qualquer outro país do mundo, reconheceu o que estávamos fazendo. E foi uma grande honra para nós ter o Brasil, este país enorme e poderoso, respondendo positivamente a uma marca tão jovem na época. Já tínhamos tido outras oportunidades de vir para o Brasil, mas não era um país que meu marido e eu conhecíamos. Então, tinha que ser a situação certa, e nada parecia certo até que Adrian e Dalia Estrada (da LN Urbanismo / Grupo Luan) nos procuraram e nos convidaram para sermos parceiros. Essa decisão foi muito importante porque nunca tínhamos tido sócios neste negócio. Mas sentimos que, no Brasil, era fundamental termos um parceiro forte, e eles são ótimos. Me sinto muito confortável e confiante de que o que vamos fazer será excepcional. Por que escolher o interior de São Paulo — especificamente Araçoiaba da Serra — para o projeto Vik Retreats Vista Verde? Essa decisão foi de Adrian e Dalia. Eles vieram até nós e disseram: “Compramos esta fazenda. É isso que queremos construir. Queremos que vocês sejam o hotel da propriedade, o centro cultural da experiência neste condomínio”. Já passamos bastante tempo lá e é simplesmente espetacular. É uma fazenda linda, com florestas, colinas e vales. A paisagem é muito diversificada. Tem também os antigos estábulos e a antiga casa principal. E há uma linda piscina em cascata que atravessa a propriedade. Há uma capela na colina que estão preservando e restaurando. O ambiente é realmente especial. É uma experiência diferente para nós e, definitivamente, estamos sempre em busca de experiências diferentes. Temos os destinos de José Ignacio e o vinhedo aqui (no Chile) também é outro destino, mas de uma forma diferente, com o vinho. E em Milão, estamos no centro da cidade. E agora vamos fazer isso fora de uma grande metrópole, mas em um lugar que não é uma praia. É uma experiência diferente pensar em cada um desses lugares e o que os hóspedes vivenciam quando estão lá. Isso torna esses projetos muito interessantes de se realizar. Recentemente, a Vik realizou a primeira Vendimia no Brasil. Como foi a experiência? Foi muito divertido. Eu nunca tinha ido a uma Vendimia, então fiquei muito feliz por poder estar lá. Acho que foi incrível. A gente pensa nas festas da Vendimia acontecendo nos vinhedos, durante a colheita e tudo mais. Mas foi uma ótima experiência e todos se divertiram muito. Foi uma ótima tarde que se estendeu até a noite, com ótima música, muito vinho e todos muito entusiasmados com o evento. No final do dia, a equipe inteira já estava discutindo como seria melhor no ano que vem, como poderíamos expandir e o que mais faríamos. Os viajantes brasileiros de alto padrão são conhecidos por buscarem exclusividade e experiências sensoriais. Quem você imagina como o hóspede ideal para o Vik Retreats Vista Verde? São pessoas que querem explorar, que querem vivenciar coisas diferentes, que gostam de expandir os horizontes da hospitalidade. Existem alguns grupos hoteleiros realmente luxuosos, belíssimos, que proporcionam experiências maravilhosas. Mas que, em qualquer lugar do mundo, se você se hospedar na mesma rede de hotéis, terá a mesma experiência. E há muitas pessoas que adoram isso. Não é o nosso caso. Então, eu diria que essas pessoas que gostam dessa mesmice na experiência, talvez não sejam o hóspede ideal para nós. Adoro ouvir as pessoas falarem sobre como estiveram no Uruguai e depois vêm para o Chile, e comentam as diferenças e se empolgam com as experiências distintas que têm lá em comparação com aqui. E espero que a maioria dos nossos hóspedes seja brasileira, mas estou realmente torcendo e trabalhando para garantir que também tenhamos um bom número de hóspedes internacionais. Acho que, para os brasileiros, será muito interessante que não fiquem apenas com outros brasileiros, mas que haja uma mistura de pessoas com diferentes experiências e perspectivas hospedadas no Vik Vista Verde. Para quando está prevista a inauguração e quais são os principais marcos que estão por vir até lá? Ainda não iniciamos a construção. Acho que vamos iniciar as obras em janeiro e a inauguração está prevista para 2028. Vi algumas imagens renderizadas que me impressionaram bastante. Estou muito animada com o que estamos construindo e temos muitos momentos importantes pela frente, por exemplo, o início da construção. Estamos dedicando muito tempo aos artistas, escolhendo-os, projetando os ambientes e começando a juntar as peças. Queremos garantir que tudo esteja pronto para os hóspedes na inauguração. Com certeza haverá festas de pré-inauguração. Sei que faremos uma grande festa de abertura. Também estamos construindo nosso restaurante de praia perto da piscina de ondas. Será um restaurante de praia La Susana, que será incrível. Tenho certeza de que haverá muitos eventos em torno da inauguração do La Susana. Estamos construindo um grande centro de bem-estar. Estou muito animada com todos os aspectos, desde a arquitetura até a programação, e estamos realmente elevando o conceito de bem-estar em nossa visão. Temos vinhos, experiências culinárias, bem-estar e artes. Então, teremos uma programação realmente interessante voltada para o bem-estar. Há muito o que esperar e muitas oportunidades diferentes para celebrar cada uma dessas conquistas. A Vik tornou-se sinônimo da fusão de arte, vinho e arquitetura. Como esses elementos se materializarão na propriedade brasileira? Haverá uma grande ênfase no vinho, é claro. Estamos construindo um vinhedo ao redor do hotel e teremos experiências com vinho no próprio hotel, muito mais em destaque do que, por exemplo, fazemos no Uruguai. Haverá uma ênfase maior no vinho, na vinificação e na experiência com o vinho no Brasil. E, claro, o bem-estar. Estamos construindo um grande centro de bem-estar no VIK Chile agora, e ele será inaugurado em cerca de um mês e meio. Será extraordinário. Um dos motivos de eu estar aqui é para trabalhar nisso e acompanhar o progresso. Nossa experiência aqui nos ajudará a realmente criar uma ótima experiência de bem-estar no Brasil. E sei o quanto os brasileiros se importam com beleza e bem-estar. Então, acho que isso será muito importante lá. Tenho falado muito sobre bem-estar porque é um assunto que está bem presente na minha mente, e eu realmente acredito nisso. Quero ser uma referência em bem-estar na América do Sul. Vocês pretendem produzir vinhos no Brasil também? Manteremos a produção de vinhos no Chile. Nosso interesse é produzir os melhores vinhos do mundo. Buscamos fazer realmente o melhor que pudermos. O VIK 2021 recebeu 100 pontos duas vezes. Nosso objetivo com todos os nossos vinhos é melhorar e alcançar esses patamares cada vez mais. E não vemos isso como uma possibilidade no Brasil, onde estamos atualmente. Portanto, a produção permanecerá no Chile. Mas teremos, como mencionei antes, um programa de vinhos para promover os vinhos da Vik e proporcionar essa experiência aos nossos clientes no Brasil. Qual é a estratégia da Vik para o Brasil nos próximos cinco anos — em termos de presença da marca, público e impacto? O Brasil é nosso maior mercado, mas sabemos que existe um enorme potencial de crescimento. A equipe de vinhos está realmente empenhada em dobrar o negócio no país. Não sei se esse plano é em cinco anos ou qual o prazo exato, mas consideramos isso muito possível. E esperamos que a presença do retiro e do programa de vinhos em um espaço físico nos ajude a alcançar esse objetivo. Também queremos mostrar o que a VIK representa, não apenas no mundo do vinho, mas na hotelaria, no bem-estar, na gastronomia e nas artes. E, falando em termos pessoais, o que mais te entusiasma neste novo capítulo da Vik? Acho que são todas as coisas sobre as quais falamos. Estamos evoluindo, não ficamos parados. Estamos fazendo coisas novas e interessantes. Meu marido e eu trabalhamos muito porque isso alimenta nossas mentes, nossas almas, tudo aquilo que gostamos de aprender. Gostamos de fazer coisas interessantes. Acho que é isso. É como aprender coisas novas sobre bem-estar, elevar o programa culinário a um nível superior e realmente desenvolver essa parte cultural do programa de arte. Que nosso negócio não seja apenas um negócio, mas uma atividade cultural significativa. E que possamos promover os artistas, porque temos alguns artistas famosos, mas a maioria, ou muitos deles, não são. E os artistas muitas vezes lutam para viver bem. Então, podemos fazer parte dessa jornada para eles. Em muitos casos, os artistas cresceram e encontraram um mercado, e nos sentimos muito honrados em fazer parte dessa jornada com eles. Então, se pudermos ajudá-los de alguma forma, será ótimo. Cada aspecto do que oferecemos aos nossos hóspedes é uma oportunidade para fazer mais. Sempre há uma nova perspectiva. Temos muitas, muitas ideias. Estabelecemos a meta de criar um dos melhores vinhos do mundo e entrar para o panteão dos maiores vinhos do mundo, além de construir esses belos refúgios aonde as pessoas vêm e realmente desfrutam de serem tratadas como convidados em nossa casa, cercadas por todas essas coisas lindas. Mas cada membro da nossa equipe também tem seus próprios sonhos, e eles ajudaram a criar essa coisa maior que temos aqui, da qual me sinto muito honrada em fazer parte.