Entre o sal do mar e a espera pelo nascimento da primeira filha, Tati Weston-Webb vive um dos capítulos mais simbólicos de sua trajetória. Aos oito meses de gestação de Bia, a surfista atravessa um momento de pausa consciente no circuito profissional enquanto coleciona conquistas históricas recentes, como o ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2023 e a prata nos Jogos Olímpicos de Paris. É um tempo de escuta do corpo, da mente e de transformação. A gravidez, conta Tati em entrevista exclusiva à Vogue, tem sido surpreendentemente tranquila. “Estou muito grata, porque realmente estou conseguindo fazer tudo. Até agora, estou dormindo superbem, o melhor que já dormi na minha vida inteira”, brinca, antes de confessar que a maternidade era um desejo antigo. “Sempre quis ter uma família junto com o meu marido”, o também surfista brasileiro Jessé Mendes. Tatiana Weston-Webb Henrique Tarricone / Divulgação A decisão de engravidar, no entanto, veio em meio a um contexto complexo, que envolveu mudanças no calendário do circuito mundial, uma pausa estratégica na carreira e, sobretudo, a necessidade de cuidar da saúde mental. “No começo do ano, vi que, para mim, não estava sendo bom continuar a competir. Precisava de um tempo”. Quando a WSL anunciou que o circuito começaria apenas em abril de 2026, ao invés de logo nos primeiros meses do ano, como costuma ser, o casal fez as contas. “Entendemos que era a hora de tentar engravidar. Aconteceu bem rápido”. Saiba mais Mesmo grávida, o mar segue sendo presença constante. Até pouco mais de seis meses, ela ainda conseguia surfar com relativa normalidade, adaptando movimentos e intensidade. Hoje, a relação é outra. Mais contemplativa, mas não menos significativa. “Se entro na água, pego umas três ondas e já fico superfeliz. Esse sentimento é incrível”, conta. A liberação médica veio acompanhada de um alerta: cuidado com impactos diretos na barriga. Fora isso, o corpo e a conexão com o oceano seguem como guias. As transformações físicas e emocionais da gestação também atravessam o olhar da atleta sobre si mesma. Há momentos de encantamento e outros de estranhamento. “Tem dias que penso: ‘Que lindo, meu corpo está gerando uma vida’. E tem dias que olho e falo: ‘Meu Deus, estou enorme, igual a uma baleia’”, diz ela em meio aos risos. Sem romantizar o processo, Tati escolhe não criar expectativas rígidas sobre o próprio corpo. “É inevitável aumentar de tamanho, estou sustentando uma vida”. Tatiana Weston-Webb Henrique Tarricone / Divulgação Longe da rotina intensa de treinos do circuito, ela mantém o movimento de forma intuitiva: musculação quando dá, caminhadas e tênis — este último agora sob vigilância familiar. “Sou muito empolgada, então é difícil me controlar durante o jogo”, confessa. O foco agora não está em performance, mas em bem-estar. “Este é um ano para descansar meu corpo e minha mente”. A pausa, aliás, foi uma decisão dura e necessária. Após uma lesão no peitoral menor e sinais claros de esgotamento emocional, veio o alerta profissional. “A sensação era de que meu cérebro dava um branco”. A psicóloga foi direta: continuar poderia levá-la a um burnout. “Nunca perdi uma competição em 10 anos no circuito mundial. Isso é raro, mas não sou uma máquina”. A vulnerabilidade, hoje, é parte da narrativa que Tati escolhe compartilhar, inclusive como forma de abrir espaço para discussões ainda pouco faladas no esporte de alto rendimento. Tatiana Weston-Webb Henrique Tarricone / Divulgação O Brasil surge, nesse contexto, como lugar de acolhimento. Apesar de dividir a vida com o Havaí, foi aqui que ela encontrou a rede de apoio médica e familiar ideal para esse momento. “Aqui, me sinto mais segura”. Bia, portanto, nascerá brasileira, um detalhe que aproxima ainda mais a atleta do público que a acompanha desde o início da carreira. Revistas Newsletter Sobre o futuro, Tati evita pressa, mas não esconde os desejos. Quer voltar ao mar assim que for liberada, retomar o ritmo aos poucos e seguir com a fisioterapia pélvica. O objetivo esportivo existe: retornar ao circuito em 2027 e tentar uma vaga olímpica. “O desejo está aí, mas colocar uma pressão gigante logo após o nascimento é irrelevante. Vai levar tempo”. Antes de qualquer pódio, vem a experiência inédita da maternidade e a leveza que o surf, segundo ela, sempre trouxe para sua vida. Quanto à Bia, não há imposições, apenas abertura. “Se ela gostar, a gente já ganhou”. Ainda assim, é difícil imaginar que o mar não faça parte desse vínculo desde cedo. “Surfo com ela na barriga, o pai surfa… O esporte faz parte da nossa família”. Mais do que ensinar a ficar em pé numa prancha, Tati espera transmitir valores que aprendeu com o esporte e com os pais: positividade, trabalho duro e a certeza de ser amada incondicionalmente.