PF lista fatos que antecederam vazamento de operação contra Bacellar e cita mensagem a gabinete de desembargador preso

Um termo de depoimento anexado à representação da Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal (STF) aponta que a assessoria do desembargador federal Macário Ramos Judice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), teve conhecimento prévio da data de uma operação policial contra o também deputado estadual TH Jóias, por relação com o Comando Vermelho. O desembargador foi alvo de uma operação da PF deflagrada nesta terça-feira.  Em depoimento à PF no âmbito nessa investigação, o delegado que atuou no caso disse ter informado à assessoria do magistrado, na manhã de 2 de setembro, que a intenção era cumprir os mandados da operação contra TH Jóias no início da manhã do dia seguinte, 3 de setembro. O contato ocorreu às 10h49, por meio de mensagem enviada ao assessor identificado como Marcelo, segundo o relato formal prestado à PF.  No depoimento, o delegado afirma que o assessor respondeu assegurando que os mandados seriam expedidos ainda naquele dia. Minutos depois, às 11h16, Marcelo enviou um áudio, cuja transcrição foi incorporada ao documento oficial da investigação. Na mensagem de voz, o assessor diz que havia acabado de chegar ao tribunal e que falaria diretamente com o gabinete do relator.  Para a Polícia Federal, o registro do contato demonstra que a data da deflagração da operação já era conhecida no âmbito da assessoria do relator com antecedência, o que, embora descrito como algo “natural” em investigações de grande porte, acabou se revelando um ponto de vulnerabilidade no cumprimento das diligências. "A ciência prévia pelo Desembargador, o que se demonstra natural, sobretudo numa investigação dessa magnitude, na verdade se revelou uma possível vulnerabilidade ao sucesso do cumprimento das ordens por ele emanadas. Inclusive, conforme se observa no bojo das declarações de RODRIGO BACELLAR, mais precisamente a partir de 8min40seg, o parlamentar afirma que conversou com TH JOIAS sobre a suposta operação policial por volta de 11h ao meio-dia daquele mesmo dia 2/9/2025, no interior do Palácio Tiradentes. Ou seja: logo após à comunicação desta Polícia Federal ao Gabinete do Desembargador acerca da data designada para a deflagração", diz a PF na representação enviada ao Supremo.  Na mesma representação, a PF reconstrói o caminho completo do caso após esse contato formal. Segundo os investigadores, na noite do próprio dia 2 de setembro, horas depois da troca de mensagens com a assessoria do TRF-2, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar, esteve em um encontro presencial com o desembargador Macário Judice Neto na churrascaria Assador, no Aterro do Flamengo. Mensagens extraídas de aplicativos de conversa indicam que Bacellar informou a interlocutores que estava no local acompanhado de “Macário” e de um “desembargador”. Para a PF, o encontro ocorreu na véspera da deflagração da operação e no mesmo período em que um dos investigados trocava mensagens relacionadas à retirada de bens e possíveis medidas evasivas. A representação também destaca que Bacellar, além de presidente da Alerj, mantinha interlocução direta com alvos da investigação, inclusive orientando sobre deslocamentos e providências logísticas após a circulação de informações sobre a operação.