O presidente eleito do Chile, José Antonio Kast, afirmou nesta terça-feira apoiar "qualquer situação que ponha fim a uma ditadura" ao ser questionado sobre uma possível intervenção militar na Venezuela e classificou o presidente venezuelano Nicolás Maduro como "narcoditador". A declaração de Kast foi feita após uma reunião com o presidente argentino, Javier Milei, em Buenos Aires, em sua primeira viagem ao exterior desde a vitória nas eleições chilenas, no domingo. Avanço sobre a América Latina: EUA classificam cartel colombiano como terrorista, um dia após declararem fentanil 'arma de destruição em massa' 'Estado Quartel': Desafio para Trump, poder cívico-militar da Venezuela é mantido com vigilância para detectar oficiais rebeldes — É claro que não podemos intervir nisso porque somos um país pequeno (...) mas se alguém for fazê-lo, que deixe claro que isso resolve um problema gigantesco para nós e para toda a América Latina, toda a América do Sul — declarou o líder ultradireitista em possível referência à pressão militar imposta pelo governo americano à Venezuela nos últimos meses. O governo do presidente dos EUA, Donald Trump, tem intensificado as ameaças contra Maduro desde que iniciou a mobilização de ativos militares para o Caribe em agosto. Desde o início de setembro, os Estados Unidos já realizaram pelo menos 22 ataques contra embarcações apontadas pela Casa Branca como suspeitas de narcotráfico no Caribe e no Pacífico Oriental provocando pelo menos 87 mortes. Seguindo sua agenda de combate à imigração irregular, que ele associa diretamente à criminalidade do país, Kast também se referiu aos mais de 300 mil imigrantes indocumentados no Chile, a maioria venezuelanos. O discurso do chileno conecta o cenário migratório do pais sobretudo à irrupção de grupos criminosos estrangeiros, como o Tren de Aragua, de origem venezuelana, que os EUA declararam como organização terrorista. Diante disso, o chileno propôs a coordenação com outros países da região para criar "um corredor humanitário para o retorno dessas pessoas aos seus países". Ele afirmou ter discutido o assunto com Milei, bem como com os líderes de Bolívia, Peru, Equador, Panamá, Costa Rica e El Salvador. Cerca de sete milhões de venezuelanos emigraram desde 2014, fugindo da grave crise humanitária, política e econômica em seu país. — Todos eles estão plenamente cientes de que a situação na Venezuela é inaceitável — disse. Initial plugin text Bate-boca público Antes de viajar para a Argentina, Kast também afirmou que não se importa com as advertências de Maduro sobre suas políticas migratórias e protagonizou sua primeira briga midiática com o chavista, dois dias após vencer o segundo turno presidencial com 58% dos votos contra a candidata de esquerda Jeannette Jara. — É um ditador, um narcoditador, que hoje está passando por momentos difíceis devido à pressão exercida pelos Estados Unidos e, certamente, por outros países, porque a exportação de drogas não é aceitável — disse o ultradireitista chileno. Pauta do momento: Estados Unidos e Paraguai firmam pacto para combater crime organizado A fala de Kast foi uma resposta ao alerta lançado por Maduro na segunda-feira, que o comparou a Adolf Hitler e o advertiu a ter "cuidado" caso ponha em prática os planos de deportar imigrantes venezuelanos. — Você pode ser seguidor de Hitler e ter sido educado nos valores de Hitler, você pode ser pinochetista convicto e confesso, mas 'cuidado' se tocar um fio de cabelo de um venezuelano. Os venezuelanos devem ser respeitados! — declarou Maduro, recomendando que seus compatriotas retornem ao país. Kast é o caçula de 10 filhos de um casal de alemães que emigrou para o Chile e tomará posse em 11 de março como o primeiro presidente de extrema direita no Chile desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, há 35 anos. O ultraconservador, de 59 anos, sucederá o mandatário de esquerda Gabriel Boric em uma guinada política à direita que tem marcado a América Latina nos últimos anos. Investigações jornalísticas revelaram em 2021 que seu pai foi membro do partido nazista de Adolf Hitler. O ultradireitista chileno, no entanto, afirmou que ele havia sido recrutado à força pelo exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial e negou que fosse nazista. Initial plugin text Aliança de ultradireita Durante seu encontro na Casa Rosada com Milei, que se posicionou como uma figura de destaque da ultradireita global, ambos os líderes "estabeleceram prioridades" em relação à segurança e ao combate ao crime organizado transnacional, bem como à promoção do comércio e do investimento, segundo a presidência argentina. Milei foi um dos primeiros mandatários a felicitar a vitória eleitoral de Kast no último domingo. "Enorme alegria pelo esmagador triunfo do meu amigo José Antonio Kast nas eleições presidenciais do Chile", escreveu nas redes sociais. "Mais um passo em nossa região em defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada. Estou certo de que vamos trabalhar juntos para que a América abrace as ideias da liberdade e possamos nos libertar do jugo opressor do socialismo do século XXI". Ao deixar a sede do governo argentino, Kast aproximou-se do portão de entrada para cumprimentar cidadãos chilenos. Em Buenos Aires, ele se reunirá com empresários dos setores industrial, comercial, de energia, infraestrutura, agricultura e bancário, detalhou um comunicado. Também terá uma reunião com o embaixador do Chile em Buenos Aires, José Antonio Viera Gallo, e prevê retornar a Santiago ao final desta terça-feira, segundo a agenda oficial.