Crise em torno de investigação de Bacellar esvazia plenário da Alerj e expõe disputa por espaços após exonerações

O clima de incerteza e tensão dominou os bastidores da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) nesta terça–feira, em meio aos desdobramentos da investigação da Polícia Federal que envolve o deputado Rodrigo Bacellar e às exonerações promovidas pelo presidente em exercício da Casa, Guilherme Delaroli (PL). O deputado Jair Bittencourt (PL) chegou a passar pelo plenário, mas permaneceu pouco tempo. A movimentação maior se deu fora do microfone, em conversas reservadas e cochichos espalhados pelos cantos do Palácio Tiradentes. Operação Unha e Carne 2 da PF prende desembargador do TRF a mando de Alexandre de Moraes Dados do celular de Bacellar foram base para nova operação da PF que prendeu desembargador no caso TH Jóias O assunto era único: a decisão de Delaroli de exonerar o diretor–geral da Alerj, Marcos André Riscado Brito, e o chefe de gabinete da presidência, Rui Bulhões. Para muitos parlamentares, embora considerada ousada, a medida não foi tomada de forma isolada e teria contado com o aval da cúpula do PL, como forma de "blindar" a nova liderança de possíveis conflitos no âmbito das investigações da PF. Nos corredores, Marcos Brito foi descrito por deputados como um “boa praça”, com trânsito fácil entre diferentes grupos políticos da Casa. Já Rui Bulhões apareceu nos relatos como um personagem "mais reservado, de poucas palavras, bastante desconfiado e homem de confiança de Bacellar". Um episódio envolvendo o ex-chefe de gabinete chamou atenção nos bastidores: parlamentares estranharam o fato de ele ter trocado de telefone celular na véspera da operação da PF, justificando a mudança para os deputados como algo corriqueiro. Em meio ao clima de apreensão, um deputado resumiu o ambiente: “A chapa aqui está tão quente que a gente está lutando para não pegar fogo”. Apesar da tentativa de demonstrar controle, a avaliação predominante é de que Delaroli corre contra o tempo para recompor os cargos estratégicos que ficaram vagos. O desafio, segundo aliados, é encontrar nomes de absoluta confiança em um cenário de instabilidade política e desconfiança generalizada. O desalinhamento ficou evidente durante a sessão plenária desta terça-feira. Enquanto Delaroli presidia os trabalhos, deputados mais próximos de Bacellar evitaram pedidos de fala ao microfone e chamaram pouca atenção, em contraste com o clima da semana passada, quando o grupo estava mais coeso e os debates eram intensos. Agora, nos bastidores, parlamentares tentam se aproximar do novo comando da Casa, buscando espaço e proteção política, ao mesmo tempo em que se esforçam para se desvincular do escândalo. As mudanças provocadas pela crise não se limitam aos cargos administrativos. O rearranjo já começa a atingir comissões e coloca em xeque a liderança do governo na Alerj, hoje exercida pelo deputado Rodrigo Amorim (União). Nos corredores, o cargo passou a ser tratado como uma posição em disputa. Quem já manifestou interesse é o deputado Rosenverg Reis (MDB). Em plenário, ele tem reforçado sua disposição de atuar como “ajudante de ordem do governo”, ao defender o governador Cláudio Castro e os projetos ligados ao orçamento. O movimento é visto como um sinal de que, em meio à turbulência política, a luta por espaço e protagonismo na Alerj entrou em uma nova fase. No entanto, ainda há um receio de que as investigações da PF possam chegar ao alto escalão do executivo.