Fechamento de aeroclubes compromete a formação de pilotos no Brasil

O avanço das concessões aeroportuárias no Brasil tem provocado o fechamento de aeroclubes em diferentes regiões do país. A situação coloca em risco principalmente a formação de pilotos, a preservação da cultura aeronáutica e a sustentabilidade da aviação civil no médio e longo prazos. Operadores e entidades do setor avaliam que o modelo atual estaria priorizando sobretudo o retorno financeiro em prejuízo do papel histórico e estratégico dessas instituições. Conforme o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Aviação (Invoz), os aeroclubes são a base do sistema de capacitação aeronáutica nacional. A entidade avalia que o encerramento dessas atividades representaria desse modo a perda de um modelo de formação construído ao longo de décadas. A Invoz alerta para o risco de um apagão de mão de obra especializada nos próximos anos. A história dos aeroclubes Os aeroclubes surgiram no final do século XIX. O primeiro do mundo foi fundado pelo brasileiro Alberto Santos Dumont em 1898, na França. O Brasil adotou o modelo a partir da década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, com apoio do jornalista e empresário Assis Chateaubriand. https://twitter.com/FransedeCastro/status/1682137989558816770?s=20 A proposta era criar aeroportos e assim formar profissionais da aviação com baixo investimento federal, promovendo dessa forma uma integração nacional. Esse sistema contribuiu para o surgimento da Força Aérea Brasileira (FAB) , da Embraer e de companhias aéreas como Varig, Vasp e Tam. Pioneiro no país, o Aeroclube do Brasil, no Rio de Janeiro, existe desde 1911 | Foto: Divulgação/FAB Durante décadas, os aeroclubes receberam subsídios públicos e mantiveram vínculos com o sistema de ensino. Esse arranjo começou a se desintegrar nos anos 1990, com o fim dos incentivos. Em 2018, mudanças regulatórias ampliaram a insegurança jurídica quanto à ocupação de áreas aeroportuárias, intensificando disputas administrativas e judiciais. Leia também: “Imprudência no ar” , reportagem de Fábio Bouéri publicada na Edição 256 da Revista Oeste Desde então, antigos centros de formação tornaram-se alvo de ações de despejo. O Aeroclube do Brasil, fundado em 1911 no Rio de Janeiro e o mais antigo da América do Sul, encerrou suas atividades. Outros, como os de Guaratinguetá (SP) e Minas Gerais, também fecharam. Na capital paulista, o aeroclube opera de forma limitada depois de disputas com a Infraero. O espaço enfrenta novo pedido de desocupação pela concessionária PAX. Situações semelhantes ocorrem em cidades como Sorocaba, Marília, Canela e Brasília. Aeroclube de Sorocaba (SP): despejo em 2023 depois de decisão judicial | Foto: Divulgação Representantes das concessionárias aeroportuárias, por sua vez, defendem que o modelo de concessões foi fundamental para modernizar a infraestrutura do setor. A Associação Brasileira das Concessionárias de Aeroportos (ABRAC) sustenta que a ampliação da capacidade, os ganhos de eficiência e o aumento dos padrões de segurança exigem que o uso das áreas aeroportuárias alinhe-se aos contratos e à viabilidade econômica dos terminais. Anac: gestão é responsabilidade das concessionárias A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informa que sua atuação se limita à regulação técnica e à segurança das operações aéreas. Segundo a agência, a gestão patrimonial dos aeroportos cabe às concessionárias, respeitados os contratos firmados e a legislação vigente. O órgão afirma ainda que eventuais conflitos envolvendo aeroclubes devem ser tratados no âmbito contratual e administrativo, sem prejuízo da segurança operacional. Ver essa foto no Instagram Um post compartilhado por Aeroclube de São Paulo (@aeroclubesp) Especialistas alertam que a formação de um piloto leva, em média, sete anos. Dessa forma, os efeitos dos fechamentos atuais devem se refletir no longo prazo. Nesse contexto, projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional e em assembleias legislativas buscam estabelecer regras mais claras para garantir a continuidade dos aeroclubes. Na Paraíba, um exemplo de conciliação Enquanto o debate avança, a Paraíba apresentou um contraponto. Em novembro de 2024, o Estado inaugurou o novo Aeroclube de São Miguel de Taipu, que substituiu o antigo espaço de João Pessoa. O caso figura como exemplo de conciliação entre desenvolvimento aeroportuário e preservação da formação aeronáutica. Ver essa foto no Instagram Um post compartilhado por AEROCLUBE DA PARAÍBA JOSÉ MARANHÃO (@aeroclube.pb) Sem medidas efetivas, o setor avalia que a aviação civil brasileira pode enfrentar escassez de profissionais. “Os aeroclubes são uma espécie de Senai do ar, com trabalho voluntário e sem fins lucrativos. A eficiência e desenvolvimento dos aeroportos não devem ocorrer ao custo do despejo das escolas que construíram o aeroporto e formam os profissionais que nele trabalham”, afirma Jolando Gatto, diretor de segurança de voo do Aeroclube de Marília e presidente interino da Federação Brasileira dos Aeroclubes. Engenheiro formado pelo ITA, o senador Marcos Pontes foi membro da classe de astronautas da Nasa de 1998, além de piloto de testes da FAB | Foto: Divulgação/Marcos Pontes "Os aeroclubes são parte fundamental da história da aviação brasileira. Foi neles que milhares de pilotos, mecânicos, instrutores e profissionais da aviação civil deram seus primeiros passos. Foi neles que se formou a base técnica que sustenta nossa segurança operacional, nossa aviação geral e o desenvolvimento aeronáutico do país", afirma o senador e ex-astronauta Marcos Pontes (PL/SP). + Leia mais notícias de P o lítica na Oeste O post Fechamento de aeroclubes compromete a formação de pilotos no Brasil apareceu primeiro em Revista Oeste .