Sachê de nicotina Abvrockgroup/Divulgação O uso de sachês de nicotina — produtos orais sem tabaco colocados entre a gengiva e o lábio — cresceu dez vezes no Reino Unido entre 2020 e 2025 e já alcança cerca de 1% da população adulta, segundo um estudo internacional publicado nesta terça-feira (16). A pesquisa mostra que o avanço foi puxado principalmente por jovens de 16 a 24 anos e indica que os produtos vêm sendo usados em tentativas de parar de fumar, embora ainda não haja evidência de que levem, de fato, à redução do tabagismo. Crescimento rápido, concentrado entre jovens Os pesquisadores da University College London (UCL) analisaram dados do Smoking Toolkit Study, um levantamento mensal e nacionalmente representativo realizado na Inglaterra, Escócia e País de Gales. Entre outubro de 2020 e março de 2025, o estudo reuniu informações de 127.793 pessoas com 16 anos ou mais. Veja os vídeos que estão em alta no g1 No início da série, apenas 0,1% da população adulta relatava usar sachês de nicotina. Em março de 2025, esse percentual chegou a 1%, o equivalente a cerca de 522 mil pessoas no país. O crescimento, porém, não foi homogêneo. Entre jovens de 16 a 24 anos, a prevalência subiu de 0,7% em janeiro de 2022 para 4% em março de 2025. Entre homens dessa faixa etária, o índice foi ainda mais alto, atingindo 7,5%. Já entre pessoas com 35 anos ou mais, o uso permaneceu baixo e praticamente estável ao longo do período. 'Veneno suficiente para causar doenças': especialista alerta sobre mito do 'vapor inofensivo' dos vapes Uso combinado e risco de nova porta de entrada A análise detalhada mostra que os sachês raramente são usados de forma isolada. Cerca de 69% dos usuários também utilizam outro produto de nicotina, como cigarros ou vapes. Mais da metade (56%) ainda fuma, e 39% vaporizam. Ao mesmo tempo, 16% dos usuários afirmaram nunca ter fumado regularmente, proporção maior entre os mais jovens. Para os autores, esse dado é central para entender o impacto do produto na saúde pública. Segundo os pesquisadores da UCL, o efeito dos sachês “depende de eles substituírem o cigarro entre fumantes ou serem adotados por pessoas que, de outra forma, evitariam completamente a nicotina”, como destaca a conclusão do estudo. Sachês aparecem em tentativas de parar de fumar A pesquisa também avaliou o uso dos sachês em tentativas de cessação do tabagismo. Entre pessoas que tentaram parar de fumar no último ano, a proporção que relatou o uso do produto passou de 2,6% em 2020 para 6,5% em 2025. Apesar do crescimento, os autores ressaltam que os sachês ainda ocupam um papel secundário quando comparados a outras estratégias. Em 2025, eles apareceram com menos frequência do que cigarros eletrônicos e terapias de reposição de nicotina vendidas sem prescrição, embora tenham superado medicamentos como a vareniclina. O estudo reforça que esses dados não comprovam eficácia. Como a pesquisa é observacional, não é possível afirmar se o uso dos sachês leva a uma redução sustentada do consumo de cigarros ou apenas mantém a dependência de nicotina. Uso onde fumar é proibido divide especialistas Entre fumantes, o uso de sachês para reduzir o número de cigarros ou em locais onde fumar é proibido também cresceu ao longo do período. Para os autores, esse comportamento pode indicar substituição parcial do cigarro, mas também pode prolongar a dependência, ao permitir o consumo contínuo de nicotina em situações em que a pessoa ficaria abstinente. Marketing e regulação no centro do debate O avanço entre jovens ocorre num contexto de regulação ainda limitada no Reino Unido. Atualmente, os sachês são classificados como produtos de consumo geral, sem regras específicas para teor de nicotina, embalagens, sabores, publicidade ou idade mínima para compra. O estudo associa o crescimento recente à expansão do marketing, incluindo redes sociais, festivais de música e patrocínios esportivos, além de embalagens com cores e designs atrativos. Diante desse cenário, os autores defendem a proibição da venda para menores de 18 anos e regras mais rígidas de publicidade, como previsto no Tobacco and Vapes Bill, em discussão no Parlamento britânico. Metodologia, pontos fortes e limitações O estudo utilizou dados do Smoking Toolkit Study, um inquérito mensal contínuo e nacionalmente representativo, o que permite acompanhar mudanças rápidas de comportamento ao longo do tempo. A análise foi pré-registrada e usou modelos estatísticos flexíveis para capturar tendências não lineares. Entre as limitações, os autores destacam que a pesquisa não mede a frequência nem a dose de uso dos sachês, baseia-se em autodeclaração e não acompanha os participantes ao longo do tempo. Assim, não é possível concluir se os produtos ajudam a parar de fumar ou se estão sendo usados para substituir ou complementar outras formas de consumo de nicotina, como os vapes.