Marco arquitetônico do século XIX, Casa do Barão de Vassouras reabre após ampla restauração; veja o antes e depois

Uma verdadeira relíquia arquitetônica do século XIX que viveu anos de abandono, a antiga Casa do Barão de Vassouras, no Sul Fluminense, será reaberta nesta quarta-feira, às 10h, após ter passado por um amplo processo de restauração que durou cerca de cinco anos e consumiu em torno de R$ 14 milhões, sendo R$ 11 milhões via PAC Cidades Históricas/Iphan e R$ 3 milhões de contrapartida da prefeitura. Outros R$ 6 milhões serão investidos pela BNDES na aquisição de equipamentos. A entrega marca a primeira etapa da ação que transformará o espaço em centro cultural multiuso voltado a manifestações locais, como o jongo, registrado como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Mapa do crime: Guerra do CV impulsiona explosão dos roubos em região com cerca de 600 mil moradores no Rio; Mapa do Crime revela os bairros com mais assaltos em 2025 Pesquisa de opinião: SuperVia faz enquete para saber como montar grade de trens em dia de ponto facultativo por conta de finais de Flamengo e Vasco — A recuperação desse casarão tem um impacto para o turismo muito grande, para a economia local de um modo geral e também para a finalidade dele. Por ter sido uma obra do PAC, ele é destinado à cultura. Então, é um equipamento cultural e a gente acredita que, com isso, além da geração de emprego e renda voltada para esses eventos e o terceiro setor, de um modo geral, tem a questão da identidade local. A população tem esse bem como um patrimônio de fato — afirma Ana Carolina Conte, do Departamento Municipal de Patrimônio Cultural. Obra deu vida nova a Casa do Barão de Vassouras que praticamente estava em ruínas William Britto/Concrejato Depois da abertura oficial, com a presença das autoridades, na sexta-feira a população poderá reencontrar sua história, numa visita guiada ao casarão localizado no centro histórico de Vassouras. Mais ainda não é uma entrega total. Antes disso, nos próximos 24 meses, o espaço vai receber investimentos em torno de R$ 6 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a aquisição os equipamentos. Em seguida a prefeitura vai estudar uma forma de concessão, que pode ser por meio de Parceria Público Provada (PPP), para gestão do local. — É um prédio que tem uma importância muito grande para a cidade. Ele compõe um conjunto arquitetônico tombado pelo Iphan desde 1958. É um bem para a comunidade e vai ser devolvido a ela em forma de equipamento cultural — explica Ana Carolina Conte. A obra, a cargo da Prefeitura de Vassouras e executada pela Concrejato, teve acompanhamento técnico do Iphan. As intervenções contemplaram execução de novas estruturas, recuperação e reforço estrutural da edificação que estava em ruínas até a execução de instalações prediais, especiais, combate a incêndio, sistema de ar condicionado e a restauração de revestimentos originais como azulejos decorados, pinturas decorativas, fachadas, esquadrias e jardins, sempre com o cuidado de integrar sistemas modernos assegurando os seus aspectos originais. O projeto de restauração foi iniciado em agosto de 2020 e a previsão inicial era de conclusão em 24 meses. Porém, durante o processo veio uma pandemia que, se não chegou a interromper totalmente os trabalhos, fez com que enfrentasse dificuldades de fornecimento de alguns materiais. Problemas com recursos financeiros mantiveram as obras paralisadas em um ano. Nesse período, houve ainda troca de gestões nos governos municipal e federal. Rio terá ponto facultativo na quarta, dia de finais com Flamengo e PSG, além de Vasco e Corinthians, dizem Castro e Paes; comércio vai abrir Salão interno da Casa do Barão de Vassouras totalmente recuperado William Britto/Concrejato — Essa obra passou por algumas dificuldades e se alongou um pouco mais do que deveria, porque passou pela pandemia, teve questões contratuais que travaram um pouco a obra durante um período, mas finalmente conseguimos concluir e para nós é um orgulho poder entregar um patrimônio dessa relevância para a cidade de Vassouras, região do Café e para o Rio de Janeiro, além de conseguir modernizar e integrar com o centro histórico da cidade esse equipamento tão importante — avalia Eduardo Viegas, presidente da Concrejato. O imóvel construído nos anos 1800 para ser a residência de Francisco José Teixeira Leite (1804-1884), o Barão de Vassouras, permaneceu com a família por mais de um século. Antes de ser alienado nos anos 1990 e entrar em estado de abandono, abrigou uma boate muito badalada nos anos 1970 e 1980. Foi doado ao município em 2018, já praticamente em ruínas. — O prédio estava em estado de abandono, praticamente em ruínas. Já não tinha mais telhado ou estrutura de piso. O maior desafio foi iniciar a obra, até porque havia uma área do imóvel com uma família morando nela. Isso atrasou um pouco o início das intervenções e tivemos ainda muitas surpresas ao longo do caminho, até porque foi um projeto contratado em 2015 e demorou cinco anos para ser licitado. Quando o projeto foi desenvolvido o prédio estava num estado de conservação e quando a obra foi iniciada já se encontrava em outro estágio — explicou a arquiteta e urbanista Janaina Genaro, superintendente de Obras da Concrejato, sobre os principais desafios da obra. Vazamento: Operação Unha e Carne 2 da PF prende desembargador do TRF a mando de Alexandre de Moraes Ela conta que para o projeto foram resgatadas algumas técnicas construtivas originais da época em que imóvel foi feito, como uso de tijolos de adobe, fabricados por uma equipe treinada pela construtora, e método de pau a pique, aliado a técnicas atuais e modernas. A nova cobertura, por exemplo, recebeu uma estrutura metálica para vencer os grandes vãos e atender ao novo uso. — Quando a gente fala em trazer de volta algumas técnicas construtivas tradicionais, a gente está resgatando essa memória e valorizando aquela mão de obra que participou da construção. É uma ressignificação desse momento, até porque naquela época era uma mão de obra escrava. Aliado a isso a gente trouxe inovações tecnológicas para garantir a atualização do bem para um uso atual e sustentável, que vai garantir a durabilidade e a manutenção do empreendimento — diz Janaína. A arquiteta e urbanista explicou que devido ao estado em que o prédio se encontrava, mais de 90% de sua estrutura de pisos, paredes e telhados precisou ser refeita. As instalações elétricas, de ar condicionado, de combate a incêndio, de TV, dados deixaram o prédio preparado para um uso atual, além de permitir uma flexibilidade na sua utilização. Caso Padrinho Paulo Roberto: igreja confirma afastamento de líder religioso em nota de repúdio a violência contra mulheres Tombada pelo Iphan em 1958, a residência integra o Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Vassouras e foi cenário de importantes episódios da história do Brasil, como a assinatura do contrato da Estrada de Ferro D. Pedro II. O Projeto Cultural do Instituto Cultural Cidade Viva, que abrange a gestão do equipamento, a formação de agentes culturais locais e a implantação de um projeto de educação patrimonial, foi aprovado pela Lei Rouanet e se encontra em fase inicial de implantação. O Iphan informou, por meio de nota, que a obra de restauração da antiga Casa do Barão de Vassouras foi realizada com o investimento de cerca de R$ 14 milhões do Novo PAC, programa do Governo Federal. O projeto foi analisado e previamente aprovado pelo Iphan, que também realizou o acompanhamento técnico da obra, conforme estabelece a Portaria Iphan 420/201. "A entrega do restauro marca a primeira etapa da ação que transformará o espaço em um centro cultural multiuso, contribuindo para a preservação do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Vassouras, fundamental para a memória da região do Vale do Café, finaliza o texto do instituto". Casa do Barão de Vassouras antes das obras em estado de ruínas William Britto/Concrejato Mais de um ano de investigações: Líder do Santo Daime é alvo há mais de um ano de investigação por violação sexual mediante fraude Recuperação após anos de abandono Em reportagem publicada em dezembro de 2011, O GLOBO mostrava que tapumes e escoras eram os únicos vestígios do poder público nos casarões arruinados na cidade do Sul Fluminense como o Solar do Barão de Vassouras. Vencida pelas infiltrações, uma parede desabou em 2007, levando junto toda a ala social do casarão erguido em 1848, em forma de “U”, para abrigar a família do barão Francisco José Teixeira Leite (1804-1884), uma das mais influentes da região durante o Segundo Reinado. Numa época em que cidades como Vassouras mereciam as mesmas atenções e paparicos dedicados à Corte, o Solar era, ao mesmo tempo, residência e centro de poder. Foi ali que os acionistas da Estrada de Ferro D. Pedro II assinaram o contrato de construção da ferrovia. Conta-se que o Barão de Vassouras teria dado socos na mesa, exigindo que uma mudança no traçado fizesse o trem passar pela cidade. — O Barão de Vassouras representa a segunda das três gerações das famílias produtoras de café. Antes, vieram os desbravadores, que desmataram para o plantio. A segunda geração ergueu as cidades da região. Dom Pedro II vivia por ali. Os barões praticamente não frequentavam a capital. Só a terceira geração, a dos seus filhos, passou a visitar a Corte com regularidade — explicou, na época, o historiador Ricardo Salles.