De uma paródia de sucesso do Capital Inicial a um dos hinos de torcida que embalaram os anos vitoriosos do Flamengo desde 2019 até agora. A música "Em dezembro de 81", versão rubro-negra de "Primeiros Erros", empolga os torcedores dentro e fora das arquibancadas. Nesta quarta-feira, às 14h, em Doha, o Flamengo disputa com o PSG a final da Copa Intercontinental, e pode atender o pedido tão desejado pelos torcedores: o mundo, de novo. A música que embala o rubro-negro surgiu de forma despretensiosa: em uma comunidade do Orkut, rede social desativada em 2014, o auxiliar de farmácia e YouTuber Eric Barceleiro, se deparou com um fórum de criação de novos hinos de torcida, com a temática do Mundial conquistado em 1981 como norte. Fã da banda Capital Inicial, ele usou a melodia de "Primeiros Erros", sucesso do disco "Acústico MTV", lançado em 2000, e aproveitou a oportunidade para esboçar a primeira versão da paródia. Após várias colaborações de outros integrantes da comunidade, ele chegou ao produto final, em 2011: "Em dezembro de 81 / Botou os ingleses na roda / 3 a 0 no Liverpool / Ficou marcado na história / E no Rio não tem outro igual / Só o Flamengo é campeão mundial / E agora o seu povo / Pede o mundo de novo / Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Mengo / Pra cima deles Flamengo". — Depois de muitos anos, em 2017 a música pegou. Começaram a viralizar vídeos da gente, da torcida, tocando e cantando na saída do Maracanã, descendo a rampa. Foi um ano em que o Flamengo foi eliminado na fase de grupos da Libertadores, mas chegou na final da Sul-Americana, e a partir disso ela foi ganhando corpo até explodir totalmente em 2019 — explica Eric. A música adquiriu ainda mais simbolismo para a torcida porque, na final da Libertadores em 2019, em Lima, era o hino cantado nas arquibancadas no momento do gol de Gabigol que empatou a partida com o River Plate, aos 43 minutos do segundo tempo, e aos 51, quando ele marcou o gol que garantiu o bicampeonato. Eric conta que não conseguiu viajar para ver a decisão de perto, mas se emocionou ao ouvir sua composição embalando o chamado "ano mágico". — É muita alegria, uma felicidade enorme. Em 2019, ela foi muito marcante na campanha, e ver os jogadores cantando junto com a torcida me impactou muito. A canção trouxe de volta essa conexão entre arquibancada e o campo, com os jogadores sempre cantando ela com a gente — avalia. — Me sentir representado em Lima, lembro claramente que quando o Flamengo empatou e virou, essa música levou o time para a virada, levou o Gabigol a marcar aqueles dois gols. Qualquer um que estava assistindo ouviu a torcida cantando "Em dezembro de 81" e a incrível virada acontecendo. O sucesso da música extrapolou os limites da arquibancada. Eric conheceu Kiko Zambianchi, compositor da canção, lançada originalmente em 1985, e que, nos anos 2000, foi gravada pela banda Capital Inicial. Ele é creditado nas versões oficiais da música que foram gravadas por Buchecha e Ivo Meirelles, e, após muita insistência com a gravadora, passou a receber 5% dos royalties. Capital Inicial Quem também recebeu convite para gravar a canção foi Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial. Como é torcedor do São Paulo, preferiu não participar da versão rubro-negra, mas comemora o sucesso da paródia e revela que, em shows, é comum ver torcedores levando cartazes com a versão da torcida. — A música já era muito popular, acredito que tenha ganhado mais de visibilidade ainda e vai alcançar, possivelmente, pessoas que não a conheciam até agora. Elas vão querer saber de onde ela veio, então isso é bom para todo mundo: para o Capital, para o Flamengo, para o Kiko. Quanto mais ela for ouvida, melhor — avalia. Para o baterista Fê Lemos, foi uma "grata surpresa" quando "Primeiros Erros" ganhou a versão da torcida. Ele concorda que a música teve um aumento na popularidade pelo sucesso da paródia, e comemora a oportunidade de mais pessoas se aproximarem do trabalho da banda. — O Capital Inicial, uma banda de rock de Brasília, sediada em São Paulo, acaba tendo um público mais segmentado. E um time de futebol de massa como o Flamengo tem torcedores pelo Brasil inteiro, e de todas as classes sociais, e talvez que nunca ouviram rock brasileiro — avalia. — A gente acaba atraindo também uma molecada que está ouvindo trap, funk…Quando virou um hino de time, alcançou uma plateia que nem nós poderíamos imaginar que fosse possível. A gente só tem a agradecer essa feliz coincidência. Tanto o baterista quanto o vocalista concordam que, na voz da torcida, o hino adquire um significado mais especial e se torna potente o suficiente para empurrar o time rumo às glórias conquistadas desde 2019. — A música ajuda a criar um clima, uma energia favorável ao time e pode ter contribuído para o sucesso que o Flamengo teve quando conquistou a Libertadores. Faz parte de um ano histórico, de um momento histórico do time também e isso vai caminhar para sempre — afirma Fê. Dinho completa: — Quem frequenta estádio sabe a força que tem uma torcida cantando em uníssono, a influência que isso tem nos jogadores, é algo que incendeia o estádio. E contribui para a união da torcida com o time, de eles se sentirem um só. A analogia com a música é perfeita: é como se todos estivessem na mesma frequência. A música é profundamente emocional e amplificar essa união, cria um momento de catarse.