O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, estará em Bruxelas na quinta-feira para convencer os parceiros europeus a usar os ativos russos congelados para apoiar a Ucrânia, apesar de Washington pressionar os países da União Europeia contra o plano, disse uma fonte à AFP. Lideranças europeias anunciaram na terça-feira a criação de uma comissão internacional para contabilizar e garantir a compensação pelos danos causados pela invasão russa, em fevereiro de 2022. Estimativas apontam que os prejuízos aos ucranianos chegam a algumas centenas de bilhões de dólares, e a Rússia já afirmou que tal iniciativa se trata de uma “agressão jurídica” contra Moscou. 1.392 dias de guerra: Rússia diz ter o 'controle' de Kupiansk, cidade estratégica no nordeste da Ucrânia Diplomacia: Ucrânia e aliados concordam com termos de garantias de segurança, dizem negociadores, mas ainda há pontos em aberto — O governo dos EUA está pressionando os países europeus a abandonarem a ideia de usar os ativos russos para apoiar a Ucrânia — disse um alto funcionário ucraniano na quarta-feira. — [Zelensky] vai a Bruxelas motivar os países europeus a adotarem essa decisão. A Comissão Internacional de Reclamações para a Ucrânia foi lançada em uma cerimônia em Haia, com a participação de líderes dos 35 países que a apoiam, incluindo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. A iniciativa se soma ao já existente Registro de Danos da Ucrânia, mecanismo pelo qual pessoas que foram afetadas pelo conflito podem enviar suas queixas e pedidos de ressarcimento. Até hoje, foram feitos 80 mil pedidos, e caberá à nova comissão analisar essas e outras demandas, e decidir como, quando e quanto será pago. — Todo crime de guerra russo deve ter consequências para aqueles que o cometeram — declarou Zelensky, na cerimônia de lançamento, em Haia. — É exatamente aí que começa o verdadeiro caminho para a paz. Não basta forçar a Rússia a um acordo. Não basta fazê-la parar de matar. Devemos fazer com que a Rússia aceite que existem regras no mundo. Passos futuros: Plano de paz revisado pela Ucrânia prevê entrada de Kiev na UE a partir de janeiro de 2027 Tal como o registro de queixas, a nova comissão será coordenada pelo Conselho da Europa, um órgão europeu criado nos anos 1940 com o objetivo de defender os direitos humanos e a manutenção do Estado de direito no continente. A Rússia fez parte do órgão até 2022, quando foi expulsa em definitivo. Agora os europeus querem que Moscou arque com os prejuízos econômicos deixados pela invasão ordenada pelo presidente Vladimir Putin há quase quatro anos. — O objetivo é ter reivindicações validadas que, em última instância, serão pagas pela Rússia. O pagamento terá que ser feito pela Rússia; esta comissão não oferece nenhuma garantia de indenização — disse o ministro das Relações Exteriores holandês, David van Weel, citado pela agência Reuters. Acordo de paz entre Rússia e Ucrânia: O que dizem o plano de Trump apoiado por Moscou e a contraproposta de Kiev? A guerra na Ucrânia é o maior conflito armado em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial, e seu impacto em termos financeiros e em vidas é incerto: um levantamento do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais aponta que até 250 mil soldados russos e até 100 mil militares ucranianos morreram, e a ONU afirma que 15 mil civis perderam a vida. Em fevereiro, o Banco Mundial estimou que serão necessários US$ 524 bilhões nos próximos 10 anos para reconstruir a Ucrânia. O estabelecimento de uma comissão de reparações não é garantia de pagamento imediato. No passado, essas compensações levaram anos ou décadas até começarem a chegar aos afetados, e em muitos casos o dinheiro jamais foi visto. Na Ucrânia, a ideia é criar um fundo único, no prazo de até 18 meses, de onde sairiam as verbas. Mas seu funcionamento e, principalmente, suas fontes de financiamento ainda não estão claras. As lideranças da União Europeia (UE) pretendem usar ao menos parte dos € 210 bilhões em fundos russos congelados em suas instituições nessas reparações, mas os planos esbarram em questões legais e na objeção da Bélgica, país onde está depositada a maior parte do dinheiro. Crimes e transtornos mentais: Com pressão pelo fim da guerra na Ucrânia, volta de 700 mil veteranos é bomba-relógio para a Rússia Na segunda-feira, os belgas rejeitaram garantias oferecidas pela UE para que os fundos russos sejam usados como garantia para um empréstimo à Ucrânia, destinado a manter o funcionamento do país, que só começará a ser pago depois que a Rússia começar a desembolsar as reparações. A Bélgica aponta para riscos jurídicos e até mesmo danos à imagem de seu sistema financeiro. Na semana passada, a UE congelou os fundos de maneira indeterminada para dar mais tempo às negociações. A Rússia não se manifestou. Em setembro, quando a criação da comissão estava sendo negociada, a porta-voz da Chancelaria, Maria Zakharova, disse que a iniciativa era mais uma etapa da “agressão jurídica” contra seu país, e de mais um “mecanismo pseudojurídico anti-Rússia”. Em janeiro, a Procuradoria-Geral russa declarou as atividades do Registro de Danos como “indesejáveis”, cujos objetivos são "violar a integridade territorial" da Rússia, "minar os fundamentos econômicos do Estado" e "desestabilizar a situação sociopolítica". (Com AFP)