Ex-gerente do necrotério de Harvard é condenado a oito anos por venda de restos humanos; material foi parar até em loja de bonecas

O ex-gerente do necrotério da Faculdade de Medicina de Harvard, Cedric Lodge, de 58 anos, foi condenado nesta terça-feira (16) a oito anos de prisão por roubar e vender restos mortais doados para pesquisa científica. A sentença foi proferida por um juiz federal na Pensilvânia e encerra o principal capítulo de um escândalo que, por mais de dois anos, abalou uma das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos. Entenda: Mulher admite negociar restos humanos desviados da Faculdade de Medicina de Harvard em sua loja de bonecas nos EUA Lodge, que chefiou o necrotério de Harvard por mais de duas décadas, havia se declarado culpado em maio pelo crime de transporte interestadual de mercadorias roubadas. Na mesma decisão, sua esposa, Denise Lodge, de 65 anos, foi condenada a um ano de prisão por participação direta na venda e no envio dos restos mortais desviados. Ao anunciar a sentença, o juiz federal Matthew Brann classificou Cedric Lodge como o “principal e maior culpado” do caso. Segundo ele, o ex-gerente tinha plena consciência da responsabilidade ética envolvida no programa de doações anatômicas e explorou, em benefício próprio, a “escolha altruísta” de pessoas que doaram seus corpos para o avanço da ciência. De acordo com os promotores, entre 2018 e pelo menos março de 2020, Lodge roubou órgãos internos, cérebros, pele, mãos, rostos e cabeças após o uso em atividades de ensino e pesquisa. O material era retirado sem conhecimento da universidade ou das famílias e transportado da região de Boston para a casa do casal em Goffstown, em New Hampshire, além de outros destinos em Massachusetts e na Pensilvânia. Rede de compradores e impacto nas famílias De acordo com a imprensa local, as investigações apontam que Lodge negociava as partes do corpo com compradores conhecidos pela internet, inclusive em grupos de redes sociais. Denise Lodge ficava responsável pelo envio das encomendas e pelo recebimento dos pagamentos, feitos por plataformas digitais. Em ao menos uma ocasião, segundo registros do processo, um comprador foi levado ao próprio necrotério de Harvard, onde adquiriu dois rostos empalhados por US$ 600. O esquema rendeu ao casal entre US$ 40 mil e US$ 95 mil, segundo estimativas da promotoria, e pode ter afetado mais de 400 famílias de doadores. Em depoimento ao tribunal, parentes relataram a angústia de não saber quais partes dos corpos de seus entes queridos foram roubadas ou onde elas se encontram, descrevendo a perda de paz causada pelo caso. Durante a audiência, Cedric Lodge disse, em voz baixa, sentir “profundo remorso” e admitiu ter traído a confiança das famílias e da instituição. Denise Lodge também pediu desculpas e afirmou sentir vergonha pelo que fez. Os promotores haviam solicitado a pena máxima de dez anos, argumentando que a conduta “choca a consciência”. A condenação ocorre após Katrina Maclean, comerciante de Massachusetts, admitir, na semana passada, em tribunal que comprava e revendia restos humanos desviados de Harvard, usados na produção de bonecas em sua loja. Harvard informou que demitiu Lodge em maio de 2023 e classificou suas ações como incompatíveis com os valores da universidade. Cedric e Denise Lodge devem se apresentar ao sistema prisional em 16 de janeiro.