Venezuela afirma que exportações de petróleo continuam 'normalmente' após bloqueio de Trump

A Venezuela afirmou, nesta quarta-feira, que suas exportações de petróleo ocorrem "normalmente" após o anúncio do presidente americano, Donald Trump, sobre o bloqueio a todos os "petroleiros sancionados" que entram ou saem do país. O governo da Venezuela, país que detém as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, chamou a declaração de “irracional” e de “ameaça grotesca”. As Forças Armadas venezuelanas também condenaram o anúncio. Leia mais: Entenda o que significa o bloqueio ordenado por Trump a petroleiros da Venezuela 'Estado Quartel': Desafio para Trump, poder cívico-militar da Venezuela é mantido com vigilância para detectar oficiais rebeldes Nos últimos meses, os Estados Unidos intensificaram sua campanha contra o presidente Nicolás Maduro, a quem qualificam como líder de um cartel do narcotráfico e cujo mandato não reconhecem. Washington apoia a campanha da Nobel da Paz, María Corina Machado, que denuncia fraude nas eleições de 2024. A líder opositora passou mais de um ano na clandestinidade na Venezuela após o resultado eleitoral de 2024 e fez sua primeira aparição pública desde então quando chegou a Oslo em 11 de dezembro, um dia depois da cerimônia de entrega do Prêmio Nobel, recebido por sua filha em seu nome. Segundo um colaborador próximo, que não informou seu novo destino, María Corina deixou a Noruega nesta quarta-feira. O presidente americano alegou que a medida de bloqueio será mantida até que a Venezuela devolva o petróleo que, a seu ver, roubou dos Estados Unidos. A estatal petrolífera PDVSA informou, por sua vez, que “as operações de exportação de petróleo e derivados estão ocorrendo normalmente”. “Os petroleiros envolvidos nas operações da PDVSA continuam navegando com plena segurança, suporte técnico e garantias operacionais", disse a companhia em nota. "Nenhuma destas agressões conseguiu abalar a capacidade operacional ou a determinação da força de trabalho da PDVSA." Aumento da ofensiva: Petróleo da Venezuela é um dos focos da campanha de Trump contra Maduro Trump impôs um embargo ao petróleo da Venezuela em 2019, durante seu primeiro mandato, como parte de um conjunto de sanções que buscavam, sem sucesso, a queda de Maduro. O embargo americano obrigou a Venezuela a colocar sua produção no mercado paralelo a preços sensivelmente mais baixos, destinada em particular a países asiáticos, como a China. O país sul-americano produz cerca de 1 milhão de barris diários e estima alcançar 1,2 milhão até o final do ano. No mercado regular, os preços do petróleo registraram alta nesta quarta-feira após o anúncio do presidente americano. Militares americanos apreenderam, na última quinta-feira, um navio que estava sancionado pelo Departamento do Tesouro americano e que havia partido da Venezuela carregado de petróleo. Os Estados Unidos ficaram com a embarcação e o petróleo, ação que o governo de Maduro chamou de “roubo descarado” e pela qual acusou Trinidad e Tobago de ajudar na apreensão. O navio transportava entre 1 e 2 milhões de barris de petróleo, segundo diferentes estimativas. Desde então, sete outros petroleiros em Porto José e no Porto de Amuay, na Venezuela, estão ociosos há quase uma semana, de acordo com o rastreador de navios Samir Madani no TankerTrackers.com, deixando o país com barris à venda por receio de serem alvos de uma nova interceptação dos Estados Unidos. O número de navios à espera para atracar nos portos venezuelanos caiu de cerca de 45, antes da apreensão, para cerca de uma dúzia na terça-feira, de acordo com dados de tráfego marítimo. Initial plugin text O Irã, aliado de Maduro assim como Rússia, China e Cuba, denunciou nesta quarta-feira o “roubo à mão armada no mar” do petroleiro apreendido na costa venezuelana pelos EUA há uma semana. “Essas posturas e ações são claras manifestações de uma política baseada no uso da força e no assédio sistemático”, afirmou a chancelaria iraniana em um comunicado. O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, também expressou a rejeição de Pequim “a toda forma de assédio” contra a Venezuela, em uma ligação com seu homólogo venezuelano, Yvan Gil. Ex-embaixador dos EUA: Pressionado, Trump busca saída sem invadir Venezuela 'Não nos intimidam' O ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino, afirmou, por sua vez, que a Venezuela não cairá “em provocações”. — Dizemos ao governo americano e ao seu presidente que suas ameaças grosseiras e arrogantes não nos intimidam — declarou ele, acompanhado do alto comando militar. Trump ordenou, em agosto, uma enorme mobilização militar no Caribe e no Pacífico sob o argumento de combater o narcotráfico, embora Maduro insista que o objetivo é derrubá-lo e se apropriar das riquezas venezuelanas. Além da presença de navios de guerra e outros ativos militares na costa venezuelana, os Estados Unidos já atacaram pelo menos 25 embarcações na região e provocaram 95 mortes. Washington alega, sem provas, que os alvos são suspeitos de traficar drogas para os EUA. Enquanto isso, no Equador, a embaixada dos Estados Unidos deu as “boas-vindas” a tropas americanas que se deslocam ao porto de Manta para uma “operação temporária” contra o tráfico de drogas no país. 'Não precisa ser na Venezuela', diz Trump ao reiterar que EUA vão atacar em breve alvos em terra do narcotráfico 'Tábua de salvação' A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, pediu mais cedo, nesta quarta-feira, que a ONU assuma seu papel e “evite qualquer derramamento de sangue” na Venezuela. “Não se tem visto [as Nações Unidas]. Que assuma seu papel para evitar qualquer derramamento de sangue e que se busque sempre a solução pacífica dos conflitos”, declarou a mandatária de esquerda ao comentar, em entrevista coletiva, a nova medida de pressão de Trump sobre a Venezuela. Quanto às implicações para a economia venezuelana, no curto prazo um menor envio de petróleo “cortaria uma tábua de salvação crucial para a economia”, indicou a consultoria Capital Economics. “O impacto de médio prazo dependerá em grande medida de como evoluem as tensões com os Estados Unidos e de quais forem os objetivos do governo americano na Venezuela”, advertiu a consultoria em relatório nesta quarta-feira.