Apart-hotel, prédio de luxo e discrição dos funcionários: como são os endereços utilizados por Rodrigo Bacellar na Zona Sul do Rio

À beira da orla mais vigiada do Rio e a poucos metros do vaivém intenso de Copacabana, imóveis associados ao presidente afastado da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), revelam uma discrição que contrasta com a magnitude da crise política enfrentada pelo parlamentar. Os endereços, localizados na Zona Sul da cidade, entraram no radar da Polícia Federal na segunda fase do inquérito que apura se Bacellar vazou informações de uma operação para o deputado TH Jóias, atualmente preso em uma penitenciária federal. Alvos de busca e apreensão nesta terça-feira, os três endereços situados em prédios de luxo e apart-hotéis. Segundo funcionários, os imóveis são utilizados por Bacellar para realizar reuniões privadas, guardar pertence e documentos pessoais. Os espaços também seriam utilizados por parentes e amigos próximos do parlamentar. Bacellar queria abrir CPI para fazer 'uma faxina sobre ingressos' após desembargador preso pedir a ele entradas para jogo do Flamengo Presidente em exercício da Alerj nomeia novo diretor-geral e procurador que tinham cargos na prefeitura de Itaboraí O Edifício Sayonara, na Avenida Atlântica, de frente para a Praia do Leme, é um dos exemplos mais emblemáticos. Com 12 andares, o prédio se destaca na orla não pela ostentação, mas pelo rigor no esquema de segurança. Câmeras espalhadas por todos os lados, janelas com vidro fumê e vigilância permanente feita por seguranças privados compõem o cenário. Não há porteiro tradicional — o controle de acesso é feito diretamente pela equipe de segurança. Os vizinhos, muito discretos, evitam comentar sobre o vaivém no imóvel. Segundo funcionários, Bacellar teria sido visto no local apenas uma vez, há alguns meses. Ainda assim, pessoas identificadas como próximas ao deputado frequentam o edifício com regularidade. O prédio abriga advogados e empresários da elite carioca e tem circulação mínima do lado de fora, o que reforça o perfil reservado do endereço. A PF, inclusive, teve dificuldades de entrar no apartamento que tinha porta blindada. TH Joias e Rodrigo Bacellar Reprodução Instagram TH Joias Outro imóvel associado ao parlamentar fica na Rua Aires Saldanha, em Copacabana, nas proximidades do Posto 5. Trata-se de um prédio antigo, residencial e atualmente em obras. Funcionários dizem não estar autorizados a fornecer informações por orientação do parlamentar, mas confirmam que o deputado não costuma aparecer por ali. O endereço, porém, é reconhecido como ligado a Bacellar pela presença constante de pessoas próximas a ele que entram e saem do local de forma discreta. Fachada do Real Residencial Hotel em Copacabana Jéssica Marques/ O GLOBO Já na região da Rua Princesa Isabel, o Real Residencial Hotel — um apart-hotel com grande fluxo diário de hóspedes e visitantes — também integra a lista de locais associados ao deputado. De acordo com funcionários, Bacellar raramente utiliza o espaço. O endereço, segundo interlocutores, costuma ser ocupado por parentes ou amigos próximos, o que confere ao local um perfil mais funcional do que residencial. Ainda de acordo com funcionários, ele costuma utilizar os locais para fazer reuniões particulares, guardar pertences de valor e documentos de uso pessoal. O acesso aos endereços do presidente afastado é extremamente restrito. Ainda de acordo com fontes, apenas algumas pessoas da Alerj sabiam dos locais e podiam frequentá-los. O mapeamento desses locais pela PF ocorre num momento de forte retração pública de Bacellar. Desde que foi preso e afastado da presidência da Alerj por decisão do STF, o deputado deixou de circular com frequência por espaços ligados ao seu nome. A ausência reforça a estratégia de recolhimento adotada enquanto o caso avança no Judiciário. Nos bastidores da Assembleia, a queda de Bacellar abriu uma disputa silenciosa por espaço e influência. A Casa passou a ser comandada interinamente pelo primeiro vice-presidente, Guilherme Delaroli (PL), que nos últimos dias iniciou uma reformulação no alto escalão e abandonou o discurso estritamente protocolar. A substituição de quadros ligados ao antigo presidente e a reorganização administrativa são vistas como sinais de que o comando interino pode se estender além do previsto. Enquanto isso, no plenário, predomina o silêncio. Deputados evitam mencionar diretamente o nome de Bacellar ou comentar os desdobramentos do caso. O foco formal segue nas votações pendentes antes do recesso, mas, nos corredores, o futuro político do parlamentar afastado é tratado como uma incógnita.