Ligados pela música: o ‘pickup’ e o ‘pandeiro’ que unem Bacellar e o desembargador Macário Júdice

As conversas entre o desembargador Macário Judice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2 Região (TRF2), e Rodrigo Bacellar (União), presidente afastado da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que embasaram a operação da Polícia Federal que prendeu o magistrado, revelam a intimidade entre os dois. Mas, nos bastidores da política fluminense, essa proximidade já era conhecida e há bastante tempo. Eles se conheceram há mais de dez anos longe dos centros de poder. Foi pela música que eles começaram a ter contato, quando Bacellar sequer sonhava em se candidatar e atuava no ramo do entretenimento, enquanto o magistrado estava afastado de suas funções por conta de uma investigação de corrupção e se divertia como DJ de música eletrônica. Operação Unha e Carne 2: PF mira Rodrigo Bacellar com novo mandado de buscas Quem é Macário Júdice Neto, o desembargador preso pela PF que relata caso de TH Jóias Filho do ex-vereador de Campos dos Goytacazes Marcos Bacellar, Rodrigo se formou em Direito e trabalhou por anos no Tribunal de Contas do Estado. Em paralelo, ele abriu uma empresa de agência musical e administrava a carreira de grupos de pagode e samba. Um deles era Os Mulekes. Da formação original da banda, saíram dois de seus assessores mais próximos: Rui Bulhões, de quem é sócio até hoje em uma produtora musical, e Márcio Bruno. Os dois se tornaram chefes de gabinete do presidente da Alerj e eram, até essa semana, dois dos funcionários mais poderosos do parlamento fluminense. Desembargador preso chega à sede da Polícia Federal Bulhões foi um dos alvos da operação que prendeu Macário Neto anteontem. O desembargador é suspeito de vazar a Bacellar a operação que prendeu o então deputado Thiego Raiumundo, o TH Jóias. Os dois negam ter cometido quaisquer crimes. Há três anos, o magistrado voltou ao Judiciário após 18 anos de afastamento. Ele foi acusado de envolvimento com a máfia de caça-níqueis no Espírito Santo, área de atribuição do TRF2 junto do Rio de Janeiro. Ele chegou a ser punido com a aposentadoria compulsória em 2015, mas recorreu e foi absolvido, podendo retornar à Corte. Operação Unha e Carne 2: PF mira Rodrigo Bacellar com novo mandado de buscas Enquanto enfrentava os tribunais como réu, Macário Neto começou uma carreira paralela como DJ de músicas eletrônicas. Em uma plataforma voltada para o compartilhamento de áudios, ele se apresenta como “Doctorjudice” e já publicou 246 faixas, a última há dois anos. No perfil, ele diz já ter se apresentado em eventos nacionais e ter tocado com grandes DJs da cena brasileira. Foi no meio musical que Bacellar e Macário Neto se conheceram e fortaleceram a amizade desde então. Na investigação da Polícia Federal que apura o vazamento da operação contra TH Jóias, aparece outro nome ligado a Bacellar e Macário Neto dos tempos pré-Alerj do presidente afastado: o policial penal Rodrigo Azevedo Tassari. O agente é concursado no Espírito Santo, mas nascido em Campos dos Goytacazes, terra e reduto do deputado estadual. Mapa do Crime revela os bairros com mais assaltos em 2025: Guerra do CV impulsiona explosão dos roubos em região com cerca de 600 mil moradores no Rio O policial esteve, em 2021 e 2022, na Secretaria estadual de Governo do Rio, comandada na época por Rodrigo Bacellar, que mantém forte influência política sobre a pasta até hoje. No ano passado, Tassari foi exonerado e nomeado como chefe de gabinete de Macário Neto. Para a PF, o vazamento da operação contra TH Jóias ocorreu minutos depois de a Delegacia de Repressões a Entorpecentes da corporação pedir ao gabinete de Macário Neto a expedição dos mandados de prisão e busca contra o então deputado e outros investigados em 2 de setembro. Em depoimento, Bacellar disse ter sido procurado por TH neste dia que lhe pergunto sobre a operação. O presidente afastado da Alerj contou que disse a ele ter ouvido apenas “fofocas” sobre uma ação. Ainda no dia 2, véspera da operação, Bacellar e o desembargador teriam jantando juntos, de acordo com a PF, enquanto TH planejava a fuga e destruía provas. O magistrado nega ter ido ao restaurante com o presidente afastado. CLIQUE AQUI E VEJA NO MAPA DO CRIME DE NITERÓI COMO SÃO OS ROUBOS NO SEU BAIRRO Em nota, a defesa do desembargador afirmou que o ministro Alexandre de Moraes "foi induzido ao erro" ao determinar a prisão de Macário Júdice: "Sua Excelência o Ministro Alexandre de Moraes foi induzido a erro ao determinar a medida extrema. Ressalta, ainda, que não foi disponibilizada cópia da decisão que decretou sua prisão, obstando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa. A defesa apresentará os devidos esclarecimentos nos autos e requererá a sua imediata soltura", diz a nota, assinada pelo advogado Fernando Augusto Fernandes. A defesa de Rodrigo Bacellar diz que "o parlamentar sempre se colocou à disposição para evidenciar seu não envolvimento nos fatos noticiados, prestando todos os esclarecimentos necessários. Além disso, quando ouvido, informou, em sede policial, que havia acabado de se mudar, comunicando o novo endereço. A Defesa ressalta que o deputado tem cumprido todas as medidas determinadas e reitera que o parlamentar não atuou, de nenhuma forma, para inibir ou embaraçar qualquer investigação, direta ou indiretamente, sendo certo que isso restará demonstrado." Initial plugin text