Deputado do Rio destina R$ 1,2 milhão em emenda para secretaria em que trabalha esposa

O deputado estadual Alexandre Knoploch (PL) apresentou projetos e emendas impositivas que beneficiam diretamente órgãos estaduais em que tem parentes nomeados. Membro da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Assembleia Legislativa do Rio, o parlamentar destinou quase R$ 1,2 milhão à subsecretaria de Gestão Portuária e Atividades Navais, da secretaria da Casa Civil, comandada, desde setembro, por sua esposa Patricia Seabra. Já ao Instituto Rio Metrópole, onde Maurício Knoploch, pai do deputado, é diretor, o parlamentar apresentou um projeto de lei para criar um fundo estadual com a venda de imóveis. Bacellar queria abrir CPI para fazer 'uma faxina sobre ingressos' após desembargador preso pedir a ele entradas para jogo do Flamengo A linha do tempo que prova, segundo a PF, o vazamento da operação contra TH Jóias por Bacellar e Júdice Alexandre Knoploch era suplente do Partido Liberal e herdou a cadeira em 2025, com a eleição ex-deputados do partido como prefeitos nas últimas eleições. Assim que assumiu, conquistou a confiança do então presidente Rodrigo Bacellar (União). Em julho, ele ganhou a vaga na CCJ de Célia Jordão (PL), que teve um atrito com Bacellar. Desde então, o espaço de Knoploch vem crescendo na Alerj e no governo do Rio. A Comissão de Constituição e Justiça, depois da presidência, é o órgão na Assembleia que dita o ritmo do andamento dos projetos. Todos precisam ser analisados pelo colegiado antes de serem votados no plenário. A esposa do deputado, Patricia Seabra, foi nomeada em 3 de setembro subsecretária adjunta de Gestão Portuária e Atividades Navais, da secretaria da Casa Civil, com salário de R$ 13,3 mil líquidos. A nomeação dela foi publicada em Diário Oficial antes mesmo da criação oficial da subsecretaria, em 17 de setembro de 2025. Segundo o governo o fluminense, entre as funções do órgão está a "implementação da política pública estadual voltada ao desenvolvimento marítimo e portuário, contribuindo de forma estratégica para o fortalecimento da economia do mar no Rio de Janeiro". Esse é justamente o órgão escolhido por Knoploch para destinar R$ 1.167.889 de suas emendas impositivas para 2026. Na justificativa, o parlamentar explica que o dinheiro será usado em três pilares: fortalecer a capacidade técnica, estudos e projetos na área de gestão portuária e ações de publicidade institucional da subsecretaria. "Busca-se garantir base técnica sólida para o planejamento das ações governamentais no setor marítimo, contribuindo para a geração de empregos, inovação e desenvolvimento sustentável no Estado", justifica no texto da emenda. Nova taxa portuária A destinação da emenda não foi o único movimento feito por Knoploch para ajudar a subsecretaria onde a esposa trabalha. Em 30 de setembro, 27 dias após a nomeação de Patrícia no órgão, ele apresentou um Projeto de Lei Complementar que cria a "Taxa de Gestão Naval e Portuária (TGNP)". Se aprovada, ela será paga por embarcações comerciais de grande porte, inclusive navios cargueiros, que atraquem em portos no Rio ou adentrem as baías e litoral do Estado. O imposto seria pago também para barcos de passeio e transporte de pessoas, "que utilizem regularmente águas marítimas, lacustres ou fluviais sob jurisdição estadual". Quem é Macário Júdice Neto, o desembargador preso pela PF que relata caso de TH Jóias Segundo o projeto feito por Knoploch, no caso de embarcações de grande porte o valor a ser pago poderia chegar a R$ 475 mil por ano. Já nos casos de barcos de passeio e transporte, a taxa anual seria de até R$ 47 mil. O deputado não justificou a criação da nova taxa no texto protocolado na Alerj, como é costume em todos os projetos. Mauricio Knoploch recebe a Medalha Tiradentes do filho Alexandre Knoploch. Homenangem foi proposta por Jorge Felippe Neto Alex Ramos / Divulgação Alerj Dias depois, o parlamentar também publicou outro projeto direcionado ao órgão gerido pela esposa. O PL 6.366/2025, que destina à subsecretaria de Gestão de Portos a fiscalização dos resíduos sólidos gerados pelas embarcações que atracarem no Rio. Isso permitira a "maior rastreabilidade das operações, padronização dos procedimentos e integração com o sistema estadual de gestão ambiental", justifica ele no projeto. Fundo para o IRM Knoploch também elaborou projetos que beneficiam outro órgão onde tem parentes nomeados: o Instituto Rio Metrópole (IRM). O órgão tem a atribuição de elaborar projetos de diversas áreas, como saneamento e transporte, focados na região metropolitana do Rio. Duas diretorias estão sob comando do pai do deputado, Maurício Knoploch: a de Planejamentos e Projetos e a de Saneamento Metropolitano. Maurício, que recebe R$ 12,5 mil mensais, começou a trabalhar no governo fluminense na gestão do ex-governador Wilson Witzel, quando Knoploch também foi eleito pela primeira vez e figurava entre os mais próximos do Palácio Guanabara. Ele trabalha no IRM desde a sua fundação, em 2020. Um mês depois de reassumir o mandato de deputado estadual, Knoploch protocolou um projeto que cria o Fundo de Fomento ao Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro (FFDERJ), que seria vinculado ao Instituto onde o pai trabalha. O fundo financeiro teria recursos oriundos da venda de imóveis do governo do Rio e seria ligado ao IRM. O dinheiro seria gerido por um conselho integrado por representantes do poder Executivo, Legislativo, setor empresarial e sociedade civil: "imóveis que permanecem sem uso por longos períodos representam custos desnecessários para o estado". Alexandre Knoploch está ligado diretamente a um polêmico projeto do governo fluminense sobre venda de imóveis. Em agosto, o governador Cláudio Castro (PL) enviou à Alerj uma lista de propriedades que gostaria de se desfazer para gerar caixa. O deputado foi escolhido o relator da proposta na CCJ e, após um movimento com as bênçãos de Rodrigo Bacellar, incluiu o Maracanã na lista de autorização de venda. Nos bastidores, o interesse do Flamengo em comprar o estádio, avaliado em R$ 2 bilhões, era tido como um dos motivos para a inclusão do terreno. Procurado, o governo do Rio não comentou as nomeações de parentes de Knoploch. O deputado defendeu que sua esposa e pai ocupam cargos técnicos e por mérito: — (A Patrícia) É a maior profissional da área naval que o estado tem. E meu pai está no governo desde a Câmara Metropolitana, ele está desde a fundação do IRM. É o maior profissional técnico que tem lá. São pessoas que sei que vão fazer as coisas acontecerem, por isso enviei emenda para eles. Mas também mandei para prefeituras e para Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) — disse ele.