Uma noite com a União de Maricá: quando um 'país' se descobre comunidade

Foram quase 70 km de viagem percorridos em pouco mais de 90 minutos até a chegada ao famoso "país Maricá". Com quase 200 mil pessoas vivendo por lá, o município da Região Metropolitana do Rio tem se destacado no noticiário dos últimos anos pelo seu vistoso crescimento econômico e qualidade de vida invejável. Mas em termos de soft power, é o carnaval que vem ganhando a atenção não somente de quem mora em Maricá como também dos foliões da capital.  O Repinique foi conferir de perto, na terça-feira (16), o último ensaio de rua do ano da União de Maricá, escola de samba fundada em 2015 e que, em uma década, teve ascensão meteórica no mundo carnavalesco. Após sete carnavais, deixou a Intendente Magalhães rumo à Sapucaí, onde estreou na Série Ouro, em 2024, conquistando um surpreendente 4º lugar. No ano seguinte, reforçou seu time com ninguém menos que Leandro Vieira, carnavalesco campeoníssimo por Mangueira, Imperatriz e Império Serrano. Mais uma vez, um resultado expressivo: 5ª colocação.  Para 2026, a União de Maricá explicitamente quer alçar voos mais altos. Além da renovação de Leandro, a agremiação foi até a Portela contratar, em regime de comunhão, o intérprete Zé Paulo Sierra e o mestre de bateria Vitinho, que em Maricá assume o posto de presidente da bateria. Esta, por sua vez, comandada por Paulinho Esteves.   Para a direção de harmonia, foi convocado Mauro Amorim, com passagens vitoriosas por Viradouro e Imperatriz. Na direção de carnaval da escola desde 2023, Wilsinho Alves segue mais um ano à frente do cargo. E fechando o time ambicioso, Maricá aposta mais uma vez no premiado Patrick Carvalho como coreógrafo da comissão de frente, e os veteranos Fabrício Pires e Giovanna Justo como mestre-sala e porta-bandeira. Com um timaço como este escalado, fica no ar o questionamento: o que faltaria para a União de Maricá assustar as concorrentes em busca do acesso à elite? E é nesta lacuna que entram as impressões após o ensaio de rua de terça-feira.  'País' e comunidade É mais do que comum, no universo do carnaval, a completa comunhão entre cidade e escola de samba. Nilópolis respira Beija-Flor, Caxias se confunde com a Grande Rio, Niterói e Viradouro são basicamente sinônimos. E talvez seja esta a chave que a União de Maricá está virando no processo do desfile para 2026.  Com a ajuda de um ótimo samba para o enredo "Berenguendéns e balangandãs", interpretado com muita competência por Zé Paulo Sierra, os desfilantes da União de Maricá mostraram na pista um canto uníssono e muito potente. Mas o molho estava, na verdade, menos na voz e mais no brilho dos olhos de cada um. Antes, durante e depois do ensaio. Aliada à boa organização e ao profissionalismo demonstrado pelos comandos dos segmentos, a confiança exibida pelos componentes foi a grande estrela da noite. Das baianas aos ritmistas, das crianças à velha guarda, foi a confiança no rosto que deu o tom da travessia. Como se houvesse no ar um vento ainda mais forte do que aquele que, há alguns anos, empurrou a escola de forma tão ligeira ao front competitivo da Série Ouro. Um vento que parece ter feito o "país Maricá", em paralelo ao gigantismo do termo, olhar para dentro e se descobrir também comunidade.