O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou nesta quinta-feira que a relação entre o Palácio do Planalto e o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi recomposta após um período de tensões. Segundo ele, o ano terminará com uma boa interlocução entre Palácio do Planalto e o parlamentar. — Agora terminamos o ano com um saldo político positivo e a relação foi retomada. Estava estrangulada quando vieram aquelas três matérias (o PL da Antifacção, a MP do IOF e a MP da reorganização dos ministérios). Houve acirramento, mas o diálogo foi retomado e foi vitorioso. A relação do governo com a Câmara termina em outro patamar — afirmou, em café com jornalistas. Guimarães atribuiu a mudança de cenário a um esforço de negociação contínuo, com participação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele citou uma reunião realizada na última segunda-feira, pela manhã, entre ele, Haddad e Motta, para tratar do projeto de redução de renúncias fiscais e da regulamentação da reforma tributária, ambas aprovadas nesta semana. Segundo o líder do governo, as últimas votações produziram um saldo político expressivo ao destravar pautas consideradas difíceis. — Nós estamos terminando o ano com um saldo político grande — disse. Na avaliação do petista, o clima de tensão da semana passada foi substituído por um cenário de recomposição após a aprovação da agenda econômica. Ao avaliar a gestão de Hugo Motta, Guimarães tratou a ocupação da Mesa Diretora por parlamentares bolsonaristas como um episódio isolado. Segundo ele, o presidente da Câmara deve fechar o ano politicamente fortalecido. — Aquele episódio foi um ponto fora da curva. Acho que o resultado da gestão tem que ser medido no final, e o final é que a Câmara sai fortalecida — disse. Para o líder do governo, o balanço da presidência da Câmara não deve ser feito pelo auge da crise, mas pelo desfecho: com as votações concluídas e a agenda econômica andando, Motta sai com a imagem de alguém capaz de entregar resultados. Na mesma linha, ele destacou a aprovação do corte linear de benefícios fiscais, com inclusão de medidas que haviam sido derrubadas na MP alternativa ao IOF, como a taxação de bets, fintechs e juros sobre capital próprio. Segundo ele, o pacote ajudou a reduzir a desconfiança entre governo e Câmara e reforçou a articulação do Planalto no fim do ano. Novo ministro recompõe base A recomposição com Hugo Motta ocorre paralelamente a um movimento do Palácio do Planalto na Esplanada: a troca no comando do Ministério do Turismo. Na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que Celso Sabino deixaria o governo. No dia anterior, Lula conversou por telefone com Motta e avisou da troca. No lugar de Sabino, deve ser nomeado Gustavo Feliciano, filho do deputado Damião Feliciano (União Brasil-PB) e aliado de Motta na Paraíba. Na avaliação de Guimarães, a movimentação ajuda na recomposição da base. — A minha expectativa é que, com a indicação do ministro do União Brasil, a gente consiga costurar uma base de pelo menos 257 votos — afirmou. Ao comentar a turbulência em torno do projeto da Dosimetria, o líder do governo buscou separar procedimento de mérito e disse que houve ruído de coordenação dentro do próprio PT. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, criticou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), pela condução do caso. Guimarães afirmou que a bancada do PT votou contra o texto e que a confusão expôs falta de sintonia entre a articulação no Congresso e o comando político no Planalto. — O que houve ali foi um acordo de procedimento na CCJ, não de conteúdo. Me parece que faltou esse diálogo prévio — disse. Sobre o desfecho, evitou cravar o veto, mas afirmou que Lula tem sinalizado nessa direção. — Ele tem dado sinais de que vai vetar, mas não anunciou nenhuma posição. Essa decisão é do presidente — afirmou. Emendas impositivas Questionado sobre o avanço das emendas impostivas, Guimarães criticou a ampliação do instrumento, mas afirmou que não há disposição para rediscutir o tema agora. — Ampliou-se muito o poder da impositividade das emendas, mas não vamos mexer nisso agora — afirmou. Por fim, ao comentar a operação desta quinta-feira envolvendo o senador da base Weverton Rocha, Guimarães adotou cautela. — Se está apurando é porque a CGU e a Polícia Federal, instrumentos do próprio governo, estão funcionando. Ainda bem que o nosso governo apura sem partidarizar — afirmou. Ele também disse não ver impacto direto no ambiente político do Congresso, mesmo com Rocha sendo o relator da indicação de Jorge Messias ao STF. Ele afirmou esperar que a nomeação de Messias seja aprovada em fevereiro.