A JSL, gigante de transportes rodoviários e logística, com faturamento de R$ 11 bilhões nos últimos 12 meses, está criando uma nova empresa, cujo valor estava 'escondido' dentro dos negócios da companhia, segundo analistas. Trata-se da Intralog, um braço de negócios que oferece serviços de intralogística, ou seja, ela atua dentro de outras companhias, melhorando a logística interna. A JSL está de olho num mercado que gira estimados R$ 300 bilhões por ano no Brasil. Capital: Fundo paga R$ 40 milhões em galpão usado pela Shopee Leia mais: Novo fundo do BTG paga R$ 274 milhões por galpões A nova empresa já tem 16 diferentes indústrias como clientes, desde o segmento automobilístico até e-commerce. Dos 35 mil funcionários da JSL, 15 mil foram alocados na nova vertente de negócios, que já tem operações em 14 estados. O faturamento estimado é de R$ 2,4 bilhões, com meta de crescimento de 20% ao ano, e 65 centros de distribuição, além de mais de 2 milhões de metros quadrados sob gestão. Isso posiciona a nova empresa como uma das grandes do setor, com estrutura para concorrer com gigantes internacionais, como a americana DHL. — O DNA da JSL mostra que a empresa é um operador logístico completo. Faz transporte, armazenagem, movimentação de cargas, basicamente tudo que um cliente precisa dentro do fluxo logístico. Com o crescimento de algumas das nossas unidades, percebemos que esse negócio tem tamanho suficiente para andar por si só, ajudando a manter a qualidade do serviço — conta Guilherme Sampaio, diretor financeiro da JSL. Ele lembra que outras subsidiárias da JSL também ganharam vida própria, como a Movida (focada em aluguel de carros, venda de seminovos e gestão de frotas), Vamos (locação de caminhões) e o banco. Ao longo dos últimos anos, a JSL investiu cerca de R$ 400 milhões no novo negócio, incluindo a aquisição da maior empresa do setor de intralogística (a TPC), e também em novas tecnologias, incluindo inteligência artificial, para trazer maior produtividade à operação. Com essas novidades tecnológicas, foi possível otimizar o espaço usado dentro dos armazéns, fazer cálculos de movimentação de cargas, melhorar o fluxo de entregas. Hoje, a gestão dos estoques, por exemplo, é feita utilizando tecnologia. Antes era preciso que uma pessoa contasse os itens que estão em cada pallet nos armazéns. A intralogística envolve atividades como distribuição de remédios dentro das cidades, movimentação de fardos de celulose, armazenagem de alimentos e bebidas e de produtos vendidos pelo e-commerce (como eletroeletrônicos), movimentação dentro das montadoras de veículos. — Atuamos dentro da malha de movimentação do cliente. Por exemplo, numa montadora, o cliente me dá o plano de produção dele e, com base nele, sequencionamos as peças e entregamos na linha de produção. Um robô leva do estoque para dentro da linha de produção, o funcionário vai e coloca aquela peça no veículo. Isso é a intralogística — explica Sampaio, lembrando que a atividade inclui também gestão de armazéns, com separação de produtos, alocação em caminhões e acompanhamento da entrega até o cliente final, seja ele um supermercado ou uma consultora de beleza. Sampaio lembra que esse tipo de gestão no Brasil traz um desafio a mais na comparação com países desenvolvidos: o nível de estoques do Brasil precisa ser mais alto pela baixa confiabilidade da infraestrutura do país, seja com estradas ruins ou poucas ferrovias. O custo logístico total nos Estados Unidos, por exemplo, corresponde a cerca de 8% do Produto Interno Bruto (PIB). Já no Brasil, o custo logístico chega a 15% do PIB. Valor estava escondido Analistas do Bradesco BBI, em relatório, avaliam que a nova empresa "traz um valor à JSL que estava escondido na estrutura da empresa." Com unidades de gestão independentes, fica mais claro para os investidores entenderem cada um dos segmentos, levando a uma reavaliação positiva da empresa, dizem os analistas do Bradesco BBI. "A nova estrutura organizacional, que divide a JSL em três unidades de negócios, incluindo a Intralog, oferece aos investidores uma visão mais clara da economia de cada segmento. Em nossa opinião, essa nova divisão pode levar a uma reavaliação da JSL, pois o aumento da transparência permite que os investidores precifiquem adequadamente cada segmento, comparando-o com o grupo de pares internacionais adequado", escreveram os analistas André Ferreira, Matheus Sant'Anna e Leandro Neto, especialistas em logística. Segundo os analistas do Bradesco BBI, a Intralog representa 20% da receita líquida consolidada da JSL. Com maior transparência na estrutura de negócios, os analistas do Bradesco chegaram a um valor justo de mercado da JSL de R$ 6,8 bilhões. — O valor oculto da JSL vem da maior transparência da nova estrutura, que agora permite ao mercado comparar cada segmento com os pares corretos — explicam.