As festas de fim de ano costumam ser sinônimo de confraternizações, viagens, praia e mesas fartas. Mas, para quem convive com a enxaqueca, esse período pode representar um aumento significativo no número de crises. E há uma lógica nisso, justamente por conta dos gatilhos: alimentos típicos, sono irregular, desidratação e excesso de estímulos, tudo isso pode piorar as crises de enxaqueca, segundo o médico neurologista especialista em Cefaleia pela Escola Paulista de Medicina (EPM/UNIFESP), Tiago de Paula, membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC). Confira: Ranking revela os nomes que lideraram os likes nos apps de relacionamento em 2025 Saiba por que cada vez mais brasileiros optam por relações sem casamento após experiências de divórcios caros “Isso acontece porque a enxaqueca é uma doença neurológica crônica, que torna o cérebro mais sensível a estímulos internos e externos, conhecidos como gatilhos”, explica o neurologista. “Não é o ‘excesso isolado’ que causa a doença, mas a soma de fatores comuns nessa época do ano, que pode facilitar o surgimento das crises, especialmente em pessoas que não estão com a doença controlada”, completa o médico. Entre os gatilhos mais conhecidos estão alguns alimentos e bebidas muito presentes nas celebrações de fim de ano. “O consumo de bebidas alcoólicas, especialmente vinho, espumantes e destilados, é um dos principais fatores associados ao aumento das crises. Além disso, alimentos que contêm estimulantes alimentares, como cafeína e chocolate, presentes em doces tradicionais como chocotone, panetone e sobremesas, também podem contribuir para a piora das crises”, diz Tiago. “Aliás, é importante deixar claro que a cafeína, presente no café, no chocolate e em alguns chás, é um cronificador da doença e não um gatilho. Fatores cronificadores ampliam essa reatividade, modificando circuitos cerebrais relacionados à dor e dificultando o retorno ao padrão normal”, diz o médico. Além da alimentação, outros fatores típicos dessa época merecem atenção. “Dormir mais tarde, ter noites mal dormidas, consumir álcool em excesso e reduzir a ingestão de água aumentam consideravelmente o risco de crises. No Brasil, onde as festas coincidem com o verão, entram ainda os gatilhos ambientais, como calor intenso, exposição solar prolongada e desidratação”, explica. “Ambientes com luzes fortes, música alta, cheiros intensos e barulho excessivo, comuns em festas e eventos, também podem funcionar como gatilhos, principalmente para quem não está com a doença bem controlada.” Quando a enxaqueca está bem controlada, os gatilhos têm menor efeito O especialista reforça que é fundamental entender que os gatilhos não são a causa da enxaqueca, mas sim fatores que aumentam a chance de crise em quem já tem a doença. “Por isso, quanto melhor está o tratamento e o controle da enxaqueca, menos relevantes esses gatilhos se tornam. O objetivo do tratamento é permitir que a pessoa viva normalmente, sem precisar ter medo constante de comer determinado alimento, tomar uma taça de vinho ou ir à praia”, explica o médico. “Quando a enxaqueca está bem tratada, o paciente ganha liberdade e qualidade de vida”, completa. Além disso, o médico alerta que fugir dos gatilhos não é tratamento. “Muitos pacientes ainda convivem com a doença sem tratamento adequado e acabam apenas evitando gatilhos, o que não é o ideal. Essa estratégia pode até reduzir crises pontuais, mas mantém a pessoa refém de restrições e limitações no dia a dia. O ideal não é viver fugindo dos gatilhos, e sim tratar a enxaqueca de forma correta, para poder aproveitar momentos sociais sem dor”, reforça o especialista. “Com acompanhamento médico e tratamento individualizado, é possível atravessar as festas de fim de ano com mais tranquilidade e menos crises”, diz Tiago. “Hoje o tratamento pode combinar uso da toxina botulínica com medicamentos desenhados para tratar a enxaqueca. Medicamentos orais como anticonvulsivantes e betabloqueadores como propranolol, além dos monoclonais Anti-CGRP, primeiros medicamentos desenvolvidos, do início ao fim, para enxaqueca, podem ser usados. Eles bloqueiam o efeito do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), que contribui para a inflamação e transmissão de dor e está presente em maiores níveis em pacientes com enxaqueca”, detalha o neurologista, que acrescenta que, em pacientes com enxaqueca crônica, a combinação da toxina botulínica com os anti-CGRPs tem se mostrado mais eficaz do que o uso isolado dessas terapias em pacientes mais graves. “A toxina botulínica é aplicada em pontos nervosos específicos para reduzir a hiperexcitabilidade modulando receptores cerebrais da periferia do sistema nervoso central para região do encéfalo, ajudando, assim, no controle da enxaqueca”, diz o especialista. “Mas o mais importante é buscar um médico especialista para que o tratamento seja conduzido da melhor maneira”, finaliza.