Disseminação da fome em Gaza foi contida, mas risco ainda existe em todo o enclave, indica relatório internacional

A Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), órgão apoiado pela ONU e responsável por monitorar a insegurança alimentar no mundo, indicou que a disseminação da fome na Faixa de Gaza foi evitada, mas que todo o enclave permanece sob risco de inanição. A conclusão foi apresentada em um novo relatório divulgado nesta sexta-feira, quatro meses após a organização confirmar estado de fome na principal cidade palestina. Apesar de cessar-fogo: Israel anuncia que matou líder do Hamas em ataque em Gaza Atentado terrorista de 7 de outubro: Anistia Internacional acusa Hamas de crimes contra a humanidade O relatório aponta "melhorias notáveis" na segurança alimentar e na nutrição dos palestinos desde o acordo de cessar-fogo assinado sob mediação americana, em outubro, mas alerta que a situação ainda é "altamente frágil". No pior cenário projetado, havendo uma retomada do conflito e a interrupção de ajuda humanitária, toda a região ficaria sob risco de fome. O IPC ainda apontou a necessidade de que a ajuda no enclave seja sustentada, ampliada e ocorra sem impedimentos. Initial plugin text A contenção das hostilidades entre Israel e Hamas desde o início do acordo de cessar-fogo diminuiu, mas não pôs fim à situação caótica no território palestino. Várias organizações denunciam condições ainda insuficientes para atender demandas básicas, como de alimentação e saúde. A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou no começo do mês que a condição de médicos e pacientes segue tão difícil quanto antes realizando cirurgias, partos e tratamentos com protocolos, materiais e medicamentos abaixo do padrão. A Unicef alertou recentemente para o risco de um "efeito dominó devastador" em recém-nascidos palestinos, em razão da desnutrição e má-nutrição de mulheres gestantes e lactantes. Em uma declaração nesta sexta-feira após a divulgação do relatório do IPC, o COGAT, agência militar israelense responsável por coordenar a entrada de ajuda humanitária em Gaza, rejeitou as conclusões do órgão apoiado pela ONU — algo que ocorreu em outros momentos do conflito. A agência disse cumprir o cessar-fogo e permitir a entrada da quantidade acordada de alimentos a Gaza. O Ministério das Relações Exteriores de Israel também rejeitou as conclusões. Três critérios precisam ser constatados para que a situação de fome seja reconhecida oficialmente pelo padrão internacional: pelo menos 20% dos domicílios da área avaliada devem enfrentar extrema falta de alimentos, 30% das crianças precisam apresentar sinais de desnutrição aguda e duas pessoas a cada 10 mil devem morrer diariamente em casos não decorrentes de trauma. Morte de pacientes Em uma divulgação em separado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que mais de 1 mil pacientes morreram nos últimos 18 meses enquanto aguardavam transferência por motivos médicos da Faixa de Gaza. A informação foi confirmada pelo diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus, em uma publicação na rede social X. "1.092 pacientes morreram entre julho de 2024 e 28 de novembro de 2025 enquanto aguardavam uma evacuação médica", escreveu Tedros, acrescentando que o número "é provavelmente conservador". Mesmo com a trégua no front, as transferências médicas acontecem a conta-gotas. Há algumas semanas, a OMS indicou que mais de 16,5 mil habitantes de Gaza continuavam aguardando uma saída urgente. Uma fonte da MSF declarou à AFP no início de dezembro que o número considerava apenas os pacientes oficialmente inscritos e destacou que a quantidade de pacientes à espera de transferência é muito maior. Tedros fez um apelo para que "mais países recebam pacientes procedentes de Gaza", e pediu a "retomada das transferências médicas para a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental", o setor de maioria palestina da cidade, acrescentando que "há vidas que dependem disso". Mais de 30 países receberam pacientes de Gaza, mas apenas alguns, como Egito e Emirados Árabes Unidos, aceitaram um grande número, segundo a MSF. (Com AFP)