O deputado federal Antonio Carlos Rodrigues (SP) foi o único parlamentar do PL a assinar a decisão tomada pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira, para cassar os mandatos dos deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ). O ato administrativo não foi votado em plenário. Neste ano, Rodrigues chegou a ser expulso do partido por criticar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e defender o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, em meio às sanções aplicadas pelos americanos ao Brasil, mas a decisão foi revertida. 'Toc toc de Natal': Esquerda reage à operação da PF contra Sóstenes e Carlos Jordy Leia também: PF apreende R$ 430 mil em espécie em endereço ligado a deputado Sóstenes Cavalcante O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, ao ser comunicado da decisão da Mesa Diretora nesta quinta-feira, criticou o desfecho. Outro parlamentar da sigla que compõe a gestão é Altineu Côrtes (RJ), primeiro vice-presidente, que se recusou a assinar a cassação. – Lamento muito que o nosso deputado eleito, inclusive indicado pelo nosso partido (para a Mesa), o deputado Antônio Carlos Rodrigues, tenha assinado uma medida tão absurda dessa contra dois colegas do partido. É uma triste informação que eu ainda não tinha — desabafou Sóstenes. Apesar disso, o líder do PL evitou falar se Rodrigues pode ser punido: – Esse é um assunto esse é um assunto interno do PL e nós trataremos nos fóruns internos. Eu não vou emitir juízo de valor aqui — completou. Não é a primeira vez que o deputado vai na direção oposta aos comportamentos dos parlamentares bolsonaristas do PL. Diferente da maioria de seus colegas de partido, ele votou contra o marco temporal das terras indígenas, foi um dos poucos deputados do partido a não assinar o pedido de urgência da anistia aos condenados pelo 8 de janeiro e votou a favor de iniciativas de interesse do governo, como o arcabouço fiscal. Ligação com Moraes e críticas ao 8 de janeiro Em setembro deste ano, o PL recuou da decisão que havia tomado de expulsar Rodrigues. A razão seria as críticas ao presidente americano Donald Trump e a defesa do ministro Moraes, um dos principais alvos da direita. Valdemar chegou a dizer que ele seria expulso do partido, pois a pressão da bancada foi "muito grande" diante de uma "ignorância sem tamanho" nos posicionamentos do deputado. O Conselho de Ética do PL, no entanto, disse que ele “agiu dentro dos limites do direito à liberdade de expressão, apesar da sua opinião ser divergente dos seus colegas de partido”, e que a manifestação "está protegida pela Constituição Federal”. Na declaração que motivou o imbróglio, Rodrigues classificou como “absurda” a aplicação, pelo governo de Trump, da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes. "É o maior absurdo que já vi na minha vida política. O Alexandre é um dos maiores juristas do país, extremamente competente. Trump tem que cuidar dos Estados Unidos. Não se meter com o Brasil como está se metendo", disse em entrevista ao Metrópoles em julho. Em outro momento, ele fez elogios públicos ao magistrado: "O que o ministro faz é muito bem feito. Eu admiro a atitude e a coragem de Alexandre de Moraes", disse ao jornal Estado de São Paulo. À época dos ataques à Praça dos Três Poderes nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, Rodrigues chegou a fazer postagens com críticas ao movimento. "Vandalismo é crime, um ato odioso contra a democracia e às instituições, uma afronta ao estado democrático", escreveu. Ministro de Dilma Rousseff Eleito em 2022 com 73.054 votos por São Paulo, Antônio Carlos Rodrigues, de 64 anos, está no primeiro mandato na Câmara, mas já fez parte do Senado em 2012, quando assumiu como primeiro suplente após a saída de Marta Suplicy, que deixou a Casa para se tornar ministra da Cultura. Em 2014, ele abandonou o posto pela mesma razão, ao ser convidado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para assumir o Ministério dos Transportes, pasta que ocupou até o impeachment da petista, em 2016. Rodrigues também atuou como vereador da capital paulista por quatro legislaturas, entre 2001 e 2012. Ele chegou a presidir a Câmara municipal por três anos, de 2007 a 2010. O político foi ainda diretor-presidente da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), chefe de gabinete da Secretaria das Administrações Regionais da capital paulista e secretário de Serviços Públicos de Guarulhos, além de procurador e chefe de gabinete na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde começou a vida pública, em 1979. O parlamentar também é um dos quadros tradicionais do PL, sendo mais ligado ao Centrão, e é próximo do próprio Valdemar. Ele já era filiado à legenda antes do embarque do ex-presidente Jair Bolsonaro na sigla, em 2022, e está no partido desde a década de 1990.