Perto do fim do prazo, governo Trump divulga parte dos documentos do caso contra Jeffrey Epstein

A horas do fim do prazo estabelecido por lei, o Departamento de Justiça divulgou a primeira parte das centenas de milhares de documentos do caso contra o financista Jeffrey Epstein, acusado de manter uma rede de abuso de menores e tráfico humano, e que morreu em 2019, enquanto aguardava julgamento. Documentos já divulgados do processo deram pistas sobre a proximidade de Epstein com o presidente Donald Trump, e muitos na Casa Branca não escondiam o temor com possíveis novas revelações incômodas. Festas, modelos e silêncio: Como a obsessão por poder, dinheiro e mulheres aproximou Trump e Epstein Veja: Democratas divulgam imagens da casa de Epstein em ilha no Caribe onde teriam ocorrido crimes sexuais Pouco antes da divulgação, Todd Blanche, número dois do Departamento de Justiça, disse à rede Fox News que apenas parte dos documentos seriam divulgados nesta sexta-feira. Segundo ele, é necessário um tempo adicional para proteger as vítimas citadas e eliminar informações que possam prejudicar outras investigações em curso. Juízes e advogados ligados ao processo alertam que ninguém deve esperar grandes novidades sobre o caso. Apesar de Jeffrey Epstein ter morrido há mais de seis anos, enquanto aguardava julgamento em uma cela em Nova York, o financista se tornou uma das maiores pedras no sapato do segundo mandato de Donald Trump…e em boa parte por culpa do republicano. Ao longo de décadas, Epstein circulou nos mais altos círculos do poder político e econômico dos EUA, e era o anfitrião de festas conhecidas em suas propriedades nos EUA e Caribe. Mas além da proximidade com a elite americana, o financista mantinha uma rede de tráfico humano e abuso de menores de idade. As denúncias foram abafadas de maneira recorrente, e também envolviam sua ex-namorada e parceira de negócios, Ghislaine Maxwell condenada a mais de 20 anos de prisão. Laços complexos: Acusado de abuso de menores, Epstein afirmou que Trump 'sabia das meninas' em e-mails divulgados pelo Congresso dos EUA O processo contra Epstein também está na raiz de vários movimentos conspiratórios nos EUA, que acreditam na existência de uma suposta lista de clientes do milionário, que teria os nomes de alguns de seus rivais do Partido Democrata, como os ex-presidentes Bill Clinton e Barack Obama, além de empresários e políticos estrangeiros. A história foi replicada por Trump em sua campanha recente à Casa Branca, no ano passado, e ele prometeu divulgar a tal lista se fosse eleito. De volta à Presidência, ele dobrou a aposta, e a secretária de Justiça, Pam Bondi, chegou a dizer que o documento estava sobre sua mesa, prestes a ser divulgado. Meses depois, Bondi e o diretor do FBI, Kash Patel, reconheceram que a lista não existia. Análise: Após caso Epstein, republicanos começam a planejar futuro político pós-Trump nos EUA A explicação não foi suficiente para boa parte da base trumpista, que também apostou nas teses conspiratórias. Deputados e senadores republicanos exigiram a liberação de todos os documentos do caso, e ameaçaram algumas votações importantes. Os democratas aproveitaram e se juntaram ao coro, na esperança de colher dividendos eleitorais no ano que vem, quando a Câmara e parte do Senado serão renovados. Ao mesmo tempo em que alguns documentos começaram a ser divulgados, revelando uma incômoda proximidade entre Trump e Epstein (o presidente garante que ambos romperam laços há mais de 20 anos), o governo foi obrigado a ceder e concordar com a liberação de todos os arquivos em poder do Departamento de Justiça, através de uma lei aprovada no Congresso e sancionada por Trump. O prazo de 30 dias vencia nesta sexta-feira, e a capital americana vivia um misto de expectativa e medo, especialmente por parte dos governistas: funcionários da Casa Branca repetiam a jornalistas acreditar que não houvesse nada comprovando algum ato criminoso de Trump. — Não há qualquer tentativa de omitir nada por causa do nome de Donald Trump, ou de qualquer outra pessoa, o nome de Bill Clinton, o nome de Reid Hoffman (empresário). Não há qualquer tentativa de omitir ou deixar de omitir algo por causa disso —disse Blanche à ABC News.