MANOELLA SMITH FOLHAPRESS O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou em entrevista à emissora NBC News que não descarta a possibilidade de uma guerra contra a Venezuela. "Não descarto isso, não", disse o republicano em conversa por telefone. Trump também afirmou que seu governo pode fazer novas apreensões de petroleiros próximos às águas do país latino-americano. "Se eles forem tolos o suficiente para continuar navegando, vão acabar voltando para um dos nossos portos." Questionado se o seu objetivo final era destituir o ditador Nicolás Maduro, Trump se esquivou. "Ele sabe exatamente o que eu quero. Ele sabe melhor do que ninguém." A entrevista foi publicada nesta sexta (19). O secretário de Estado americano, Marco Rubio, repercutiu o assunto pouco depois e ecoou as palavras do presidente. Segundo ele, "nada vai impedir" que Washington aplique bloqueios contra petroleiros sancionados pelos americanos. O chefe da diplomacia acrescentou que a relação atual entre Washington e Caracas é intolerável e disse que não está preocupado com a possibilidade de uma nova crise com a Rússia devido à Venezuela, aliada de Moscou. "Sempre esperamos que eles dessem apoio retórico ao regime de Maduro, mas isso não é um fator determinante na forma como nós consideramos toda essa situação", disse Rubio. Em nota, o ministério das Relações Exteriores da Rússia escreveu na quinta-feira (18) esperar que o governo Trump não cometa um "erro fatal" em relação à Venezuela. Comunicou ainda que Moscou está preocupada com as decisões dos EUA que representariam uma ameaça à navegação internacional. Também na quinta, oito aviões do Exército dos EUA sobrevoaram o litoral perto de Caracas, segundo o site de monitoramento Flightradar24. As aeronaves são modelos usados em guerra e para vigilância. Entre os modelos registrados no site estão dois EA-18G Growler , três caças F/A-18E Super Hornet, dois aviões de alerta aéreo Grumman E-2D Advanced Hawkeye e um Boeing E-3C Sentry. O presidente americano vem aumentando o cerco contra o regime chavista. Na semana passada, os EUA capturaram um navio petroleiro na costa da Venezuela. Depois, na terça (16), o presidente americano impôs um bloqueio total de petroleiros sob sanção dos EUA ao redor da Venezuela. O regime de Maduro reagiu, classificando a ação dos EUA de irracional e "ameaça grotesca", e as Forças Armadas da Venezuela reafirmaram apoio ao ditador. O bloqueio anunciado por Trump deverá impedir a entrada ou saída de águas venezuelanas de quase todos os cargueiros de petróleo não ligados à americana Chevron. A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo, e as exportações da commodity são cruciais para a economia do país e a sobrevivência do regime -sem elas, a ditadura pode viver uma grave crise de arrecadação. Desde o início de setembro, o Exército americano, sob o comando do chefe do Pentágono, Pete Hegseth, tem feito uma campanha militar na região. Washington acusa Caracas, sem apresentar provas, de envolvimento no transporte de drogas em direção a território americano. Outras cinco pessoas foram mortas na quinta, em mais um ataque das forças americanas contra duas embarcações. Ao todo, a ofensiva dos EUA já matou ao menos cem pessoas em águas do Caribe e do Pacífico. O governo Trump deslocou de 12 mil a 16 mil soldados para a região, além de caças, navios de guerra e o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford. Maduro argumenta que o discurso de combate às drogas é um pretexto para uma mudança de regime em Caracas. A Venezuela solicitou na quarta-feira (17) a convocação de uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas para discutir a "agressão persistente" dos EUA contra o país. O órgão deve se reunir para discutir a questão na próxima terça (23), mas a chance de uma decisão favorável a Caracas é zero, uma vez que Washington tem poder de veto.