Palcos do futebol, Allianz Parque e Morumbis consolidam SP como sede dos megashows no Brasil

O ano já está quase no fim, só que ainda há mais algumas atividades para concluir na recheada agenda de shows paulistana, protagonizada por duas arenas localizadas na Zona Oeste da cidade: Allianz Parque, o estádio do Palmeiras, na Água Branca, e Morumbis, do São Paulo Futebol Clube, no bairro do Morumbi. Amanhã, por exemplo, Ney Matogrosso subirá ao palco da arena palmeirense a partir das 20h30, ainda com alguns ingressos disponíveis. Antes dele, passaram pela capital paulista nos últimos meses, no Morumbis, a esperada turnê de reencontro do Oasis — com dois dias de shows esgotados —, Dua Lipa e Linkin Park, que reuniram públicos em torno de 70 mil pessoas em cada apresentação. Primeira entrevista: ela foi filmada com o chefe num show do Coldplay. Humilhada e ameaçada de morte, decidiu quebrar o silêncio Os livros do ano: confira 100 títulos que foram destaque em 2025, entre ficção, não ficção, poesia e quadrinhos De acordo com levantamento da SP Turis, as duas arenas receberam 900 mil pessoas, só em atrações musicais, no segundo semestre do ano. São Paulo teve quatro dezenas de megashows em 2025 localizados nos estádios de futebol do Palmeiras e do São Paulo. Oasis teve dois dias de shows esgotados no Morumbis, onde lotação é próxima de 70 mil pessoas Maria Isabel Oliveira Oferta em 2025 e em 2026 A cerca de 11 quilômetros de distância do Morumbis, o Allianz Parque recebeu, desde julho, Kendrick Lamar, Guns N’ Roses, Gilberto Gil, Planet Hemp e Fall Out Boy, num festival chamado I Wanna Be Tour (que também teve Good Charlote e Yellowcard). O grande volume de nomes — num ano que teve ainda cinco dias do festival The Town na mesma cidade, em setembro — ratifica o gosto do paulistano (e dos turistas) pelas grandes turnês, capazes de acumular dezenas de milhares de pessoas. A agenda do ano que vem também está aquecida. No Morumbis, estão esgotados os ingressos para ver o AC/DC em três datas entre fevereiro e março. The Weeknd terá mais duas. No Allianz, está prevista a apresentação de Bad Bunny — com sua celebrada turnê “DeBÍ TiRAR MáS FOToS”, em fevereiro. My Chemical Roomance, Korn e Iron Maiden igualmente passam pela cidade. E shows nacionais também devem fazer barulho, como o retorno de Barão Vermelho, com participação de Ney Matogrosso e mais datas da turnê nacional, de estádios, de Djavan. — Eu diria que o excesso de vida digital e de bolhas faz com que shows e também os jogos de futebol promovam uma sensação de alívio — avalia o vice-presidente da W Torre Entretenimento, Marcelo Frazão, responsável pela gestão do Allianz Parque. — Hoje, momentos de show e de turnês são ocasiões para encontros reais. De fora da lista de Natal: 6 brinquedos clássicos do século XX, mas que o Papai Noel não entregaria hoje Este ano, o Allianz, que mais acumula eventos do tipo, deve fechar o ano com 34 dias de shows. É um pouco menor do que suas quase 50 datas em 2024 — em anos pares, explica Frazão, o Rock in Rio dá um empurrãozinho na agenda paulistana, que segue como a mais recheada do Brasil. — Há esse fenômeno da concentração dos shows em São Paulo. Isso é uma tendência mundial. Cada vez mais se repete esse conceito de residência. Esse lugar tem que ter um bom poder de mercado e ser bom para receber turismo de entretenimento — diz Frazão. — Não é algo novo, Elvis fez isso em Vegas, mas agora acontece também em estádios. Allianz Parque, estádio do Palmeiras Fabio Menotti/Palmeiras A previsão de quem trabalha no setor é que os próximos anos devem seguir concorridos na programação. Um fator que ajuda nessa percepção é o fato de o Morumbis ter fechado um acordo até 2031 com a megaprodutora Live Nation, responsável justamente por trazer o Oasis ao Brasil este ano. O estádio tinha um acordo vigente com a empresa desde 2023 e, desde então, já havia realizado 20 apresentações na arena. Depois dessa marca, ainda vieram Imagine Dragons, Linkin Park, Dua Lipa e, por fim, os irmãos Gallagher. Ano que vem, nada menos que cinco datas já estão ocupadas no local com The Weeknd e AC/DC. O São Paulo Futebol Clube, porém, se viu recentemente envolvido numa polêmica de revenda irregular de tíquetes de camarotes ligados ao clube num show da cantora Shakira, realizado no mês de fevereiro. A venda teria sido intermediada por dois diretores. O caso foi revelado pelo Globo Esporte. O clube afirmou que as apresentações do ano que vem estão mantidas. O perfil de cada um Apesar de estarem em áreas próximas da cidade, os estádios guardam importantes diferenças. O Morumbis tem uma ocupação maior, chegando à lotação próxima de 70 mil pessoas, como ocorreu no show do Oasis e do Linkin Park. O Allianz, por sua vez, teve apresentações próximas das 50 mil pessoas de ocupação, como foi com Taylor Swift na The Eras Tour, realizada em 2023. Ambos estão próximos de estações de metrô, o que facilita a chegada no local. O Morumbis está a 1,5 quilômetro da estação São Paulo- Morumbi. A saída ao final dos eventos no Allianz, porém, costuma ser menos tumultuada, justamente pela proximidade com o Terminal da Barra Funda (a cerca de 800 metros), que aglutina metrô, trem e diversas linhas de ônibus. Além disso, pegar um carro de aplicativo fica mais fácil nas ruas próximas. No Morumbis, conforme o GLOBO registrou no último show do Oasis, um trânsito pesado se concentra nas ruas paralelas à Avenida Jorge João Saad, a principal via para deixar o estádio no sentido das Zonas Oeste e Sul da cidade. Estádio do MorumBIS Divulgação Essa foi a observação de fãs ouvidos pelo GLOBO no último show de Dua Lipa. — No Allianz acaba sendo mais perto de chegar, por ser na boca do metrô. E, por ser menor, a visão da arquibancada é melhor — diz Nicola Valetim, de 18 anos, que esteve em shows de Justin Biber e Shakira no Allianz Parque em anos anteriores. Daniele Licinio, de 41 anos, e Gabriela Assiz, de 29, porém, dizem que a chegada para entrar no Morumbis foi mais fácil do que no Allianz. — Passei por uma entrada caótica no show do Natiruts. Aqui achamos mais fácil, mais tranquilo. Lá me pareceu mais lotado e aqui o fluxo de portões foi melhor — detalhou Daniele. População gasta dinheiro com entretenimento A volumosa agenda em São Paulo ajuda a movimentar outros tipos de negócios relacionados à programação de shows. Desde o fim de outubro, o Nosso — concorrida marca de camarotes da Sapucaí — começou a operar no Morumbis num espaço para 150 convidados, dentro de um dos camarotes de patrocinadores. O espaço oferece bufê, open bar e “experiências”, o que ajuda a reforçar a ideia de que os shows figuram como o desejo do momento na cidade. A marca deve intensificar suas atividades na área ano que vem. — O show se enquadra muito no que as pessoas estão buscando de entretenimento, que é o “começa cedo, termina cedo” e não tem essa coisa de as pessoas ficarem se sentindo sozinhas. É um entretenimento em que é possível curtir solteiro, casado, com amigos. Essa perspectiva combina muito com as novas gerações — diz Santiago Vieira, CEO do Nosso. — São Paulo tem uma população que gasta dinheiro com entretenimento. No camarote, por R$ 6.500 A previsão de Fernando Ximenes, sócio do camarote Backstage Mirante, com unidades no Morumbis, no Allianz Parque e na nova Arena Mercado Livre Pacaembu, é que a programação deve seguir aquecida nos próximos anos, repetindo o que foi visto em 2023 e 2024. Kendrick Lamar, Linkin Park, Oasis e Dua Lipa ffizeram shows em SP em 2025 Reprodução/Instagram — Desde já, 2026 parece muito promissor. O show do AC/DC, por exemplo, esgotou todos os ingressos em poucas horas. No camarote, já temos uma data totalmente esgotada e, como nosso preço é flutuante, lotes chegam a R$ 6.500 — diz o executivo. — São Paulo tem muitas experiências num mesmo final de semana. Em novembro houve dias em que aconteceram de cinco a seis shows paralelos em diferentes pontos. Embora receba dezenas de milhares de pessoas, os estádios ficaram pequenos para Thiaguinho e seu evento de múltiplas horas de pagode, a Tardezinha. O encerramento da atual temporada de shows acontece no Autódromo de Interlagos (onde normalmente acontecem os maiores festivais da cidade, como Lollapalooza e The Town), no sábado. A expectativa é que a realização do evento se aproxime do público de 80 mil pessoas que o evento acumulou no Parque Olímpico, no Rio, na semana passada. Ao todo, o evento ultrapassou 900 mil pessoas presentes ao longo do ano. — A Tardezinha foi crescendo ao longo de dez anos. E chegamos nessas edições finais, no Parque Olímpico e no Autódromo de Interlagos: a demanda transbordou os estádios — diz Rafael Liporace, CEO e sócio da atração.— O evento esteve nas grandes arenas e estádios. O mais interessante para o mercado é dizer que construímos demanda. Criamos base, começamos pequeno e fomos crescendo. Novos formatos Em paralelo, mirando em eventos menores, de porte médio, o Pacaembu começa a aparecer na agenda da capital. Recebeu no começo do mês, por exemplo, um show de Andrea Bocelli. Também recebeu datas das apresentações de Jorge & Mateus, ícones do sertanejo, que anunciaram uma pausa na carreira. No ano que vem, terá Rüfüs Du Sol e já tem uma apresentação de Laura Pausini marcada para 2027. — Temos um posicionamento muito claro da arena: é um lugar onde o artista ficará mais próximo de todo mundo. Dará uma conotação de diferenciação de outras arenas, é o que a gente procura. Vamos ficar nesse espaço entre 30 mil e 40 mil pessoas — diz Thiago Savodi diretor de Negócios e Experiências da Mercado Livre Arena Pacaembu. — Estamos encontrando os principais produtores para nos apresentar e mostrar nosso posicionamento. O Pacaembu tem uma vantagem em relação a outras arenas da cidade, por estar localizado numa região mais centralizada, com saída de carro mais facilitada do que outros concorrentes. O estádio foi concedido à iniciativa privada desde 2019 e abriu as portas para a população em janeiro deste ano com uma série de serviços, além do campo de futebol. Em meio ao funcionamento, a concessionária tem acumulado títulos de dívidas protestados em cartório. Sobre o tema, a Allegra Pacaembu (que tem um contrato de 35 anos) afirmou que “já realizou a maior parte dos acordos ou pagamentos referentes aos compromissos protestados”.