Em Berlim há um prédio de betão de Siza com Bonjour Tristesse escrito no topo. A mesma fachada, anos depois, ganhou um segundo aviso, mais urgente que poético: BITTE LEBN, "por favor vive". Entre estas duas frases, como entre os lados menos turísticos da trilogia de Berlim de David Bowie, cabe uma geração portuguesa que fez as malas na grande crise da troika, deixou recibos verdes e chaves de casa em cima da mesa e foi aprender para Berlim como se respira noutra língua. Esta é a terceira e última reportagem de uma trilogia que segue algumas dessas vidas adiadas, divididas entre o país que empurrou e a cidade que acolheu: trabalho qualificado pago como se fosse favor, invernos que não acabam, línguas que se aprendem à pressa, regressos que tanto salvam como doem. Mais do que histórias de emigração, são três cartas escritas de Berlim para um lugar chamado Portugal, a tentar dizer, com todas as sílabas: adeus, tristeza