Unimed Ferj diz que Rede Casa descumpre decisão judicial

A Unimed Ferj conseguiu na Justiça decisão que suspende cobranças e proíbe que hospitais, clínicas, laboratórios e prestadores conveniados recusem ou restrinjam atendimento a usuários do plano de saúde. Segundo a operadora, porém, a Rede Casa, considerada a principal da rede credenciada, está descumprindo a determinação. Veja a lista: Unimed do Brasil fecha acordo com hospitais para retomar atendimento a usuários da Unimed Ferj Planos de saúde: Ferramenta do GLOBO mostra como escolher a melhor opção A decisão do juiz Marcelo Mondego de Carvalho, da 2ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), publicada no último dia 9, protege a operadora de ruptura na rede de assistência por 60 dias, ou seja, até o início de fevereiro. Dívida de R$ 240 milhões Imersa numa crise financeira, a Ferj — que assumiu a carteira da antiga Unimed-Rio em maio de 2024 —, há um mês passou a compartilhar o risco da operação com a Unimed do Brasil, gestora da marca Unimed em nível nacional. Com mimos e 'camarote do parto': Casa São José vai reabrir maternidade em parceria com Amil A discussão foi levada à Justiça depois que 13 hospitais da Rede Casa e do Grupo Prontobaby suspenderam o atendimento a beneficiários, no fim de novembro. A decisão, segundo as empresas, se deu após “sucessivas tentativas de negociação” com a Unimed, que tem R$ 240 milhões em dívidas com as duas redes. No dia 10, a Unimed do Brasil informou que tinha fechado acordo com seis redes hospitalares e de laboratórios para normalizar o atendimento. Como mostrou o blog da colunista Míriam Leitão, a Rede Casa notificou a Unimed do Brasil para que transferisse 98 pacientes internados em seus hospitais para a nova rede assistencial divulgada pela operadora. Por isso, o presidente da Unimed Ferj, o médico João Alberto da Cruz, sustenta que a Rede Casa está descumprindo a decisão da Justiça. Porto Saúde lança cobertura ‘microrregional’ no Rio, e CEO critica regulação do setor: ‘Planos não comportam remédio de R$ 10 milhões’ O grupo, segundo o executivo, é a principal prestadora dos planos básicos da Unimed Ferj, que são a maioria dos contratos. Antes da suspensão de atendimentos, eram 300 pacientes da Unimed Ferj atendidos por dia em hospitais como o Casa Evangélico, na Tijuca, e o Casa São Bernardo, na Barra. — Temos uma confissão de dívida assinada com eles e outros credores, e vínhamos pagando em dia, mas teve essa questão de novembro para cá (a entrada da Unimed do Brasil) — diz Alberto da Cruz. — (A Rede Casa) era a mais importante. Está ruim para nós, mas também para eles. ‘Caminho da mentira’ Em nota, a Rede Casa afirma que o presidente da Ferj é “o principal responsável pela gestão temerária” da empresa e tem “optado reiteradamente pelo caminho da mentira”. A Rede Casa ressalta que tem mais de R$ 200 milhões a receber e opera sem pagamento desde julho: “estamos falando de cirurgias realizadas, atendimentos de urgência e emergência, internações”. Míriam Leitão: Hospitais marcam para 6 de janeiro assembleia que votará suspensão de atendimentos da Unimed Desde o início do ano, a Associação de Hospitais do Estado do Rio (Aherj) sustenta que os débitos da Ferj passam de R$ 2 bilhões, montante que envolveria R$ 1,6 bilhão deixados em aberto pela Unimed-Rio e o restante em faturas já do exercício da Ferj. Segundo o presidente da operadora, porém, os valores devidos somam R$ 1,4 bilhão, e a maior parte é referente a dívidas com a Oncoclínicas, negociadas em setembro. Existiriam, segundo ele, R$ 600 milhões em débitos com outros prestadores, desde hospitais e laboratórios até fornecedores de medicamentos e materiais. Para lidar com esses credores, a Ferj informou que contratou a Câmara de Mediação e Arbitragem da FGV para a organização das dívidas: — Quando você diz que uma empresa deve R$ 2 bilhões, você reduz as possibilidades de crédito, bancos se retraem. É um inferno. Segundo Marcus Quintella, presidente da Aherj, os valores declarados pelo presidente da Unimed Ferj não foram apresentados em prestação de contas para a associação e nem para a ANS. — Está faltando transparência e mostrar aos hospitais a dificuldade e qual o acordo para pagar. O presidente da Unimed considera a dívida negociada como dívida paga, mas não é. Ele parcelou a dívida, mas ela continua existindo. Quintella contou que em reunião com os hospitais foi acertada uma paralisação. Nova assembleia em 6 de janeiro deve definir como proceder. No acordo determinado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a Unimed do Brasil passou a compartilhar o risco assistencial do atendimento dos 344 mil usuários. Assim, 90% da receita com as mensalidades ficam com a Unimed do Brasil para administrar a carteira, o que inclui a relação com prestadores e reembolsos. Os 10% restantes ficam com a Unimed Ferj para pagar dívidas contraídas. Alberto da Cruz diz que a operadora prevê cortes para economizar, o que inclui a demissão de funcionários e o encerramento do Espaço Cuidar Bem, para onde foram direcionados pacientes oncológicos quando a Oncoclínicas suspendeu atendimentos. A assistência foi depois retomada. Mesmo com a decisão judicial, médicos cooperados têm recusado atendimento por atraso nos pagamentos. Os profissionais são vinculados à Unimed-Rio, que paga honorários a partir de repasses da Ferj. Alberto da Cruz defende que todos os repasses foram feitos em dia até abril, mas foram suspensos porque R$ 200 milhões do R$ 1 bilhão repassado à Unimed-Rio desde 2024 não tiveram prestação de contas feita pela cooperativa. E diz que os valores precisam ser cobrados da Unimed-Rio. A Unimed-Rio diz que cumpriu os acordos firmados desde a transferência da carteira em 2024 e apresentou prestações de contas solicitadas pela Unimed Ferj, que não foram respondidas. A Unimed-Rio diz desconhecer os R$ 200 milhões citados e atribui a crise a dificuldades da Ferj.