Informações extraídas dos celulares do presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar, e do desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) Macário Judice Neto — três de cada — já trazem conteúdo suficiente para uma terceira fase da Operação Unha e Carne, da Polícia Federal. Embora o magistrado não tenha fornecido as senhas de seus aparelhos, assim como o deputado, a equipe técnica da PF conseguiu desbloqueá-los. Magistrado preso: Desembargador Judice Neto ficará em presídio de Niterói numa sala com cama, TV e refrigerador Moraes diz que encontrou indícios de autoria do desembargador Judice Neto em cinco crimes; veja quais são A Unha e Carne nasceu do desdobramento da Operação Zargun, que prendeu, em 3 de setembro, o então deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Jóias, apontado como elo político entre o Comando Vermelho e o Poder Legislativo. Um vazamento de informações, contudo, pode ter atrasado o cumprimento do mandado de prisão e permitido a destruição de provas. Prisão de TH, o início A Polícia Federal chegou a Bacellar e Macário Neto, acusados de obstrução às investigações, a partir da suspeita de vazamento da ação. O desembargador foi quem decretou a prisão de TH Jóias e foi flagrado em ligação telefônica com o presidente da Alerj na véspera de o então parlamentar ser preso. Bacellar, inclusive, teria sugerido que TH Jóias destruísse o celular que usava, segundo a PF. No momento da ligação para o então deputado, em 2 de setembro, de acordo com as investigações, o presidente da Alerj e o desembargador estariam juntos numa churrascaria. Ação estratégica: PF adota 'fator surpresa' para evitar vazamentos e impedir sumiço de celulares, como na prisão de Bacellar O caso está no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, no âmbito da ADPF das Favelas, numa investigação sobre a infiltração do crime organizado na administração pública. O advogado Fernando Fernandes, que defende o desembargador, afirma que não houve o encontro de seu cliente com Bacellar no restaurante. Segundo ele, não há imagens que comprovem que os dois estivessem juntos na véspera da operação contra TH Jóias. — Será comprovado que o jantar não existiu. O jantar e o vazamento não aconteceram. Não há a menor dúvida — disse Fernandes, pedindo celeridade à polícia para esclarecer os fatos. Questionado sobre o motivo de Macário Neto não ter fornecido as senhas de seus aparelhos aos investigadores, o advogado afirmou que seu cliente conhece seus direitos. Segundo Fernandes, por considerar a prisão ilegal, Macário Neto entendeu que não deveria entregar as senhas. Ele ressaltou que os celulares continham informações de cunho familiar e bancário. Chefe do CV ligado a TH Jóias volta ao Rio após deixar presídio federal, na semana em que Bacellar é preso A expectativa de uma nova operação tem causado ansiedade entre parlamentares. Fontes da Alerj relataram que alguns políticos passaram a fazer contas para estimar o número de deputados estaduais que, supostamente, estariam comprometidos com o presidente da Casa e que poderiam receber a visita da PF até o fim deste ano. Como a primeira medida da polícia costuma ser a apreensão de celulares, parlamentares têm evitado o uso de seus aparelhos e encontros, por medo de estarem sob vigilância. Na decisão que decretou a prisão de Macário Neto, o Alexandre de Moraes afirmou haver indícios suficientes de autoria na prática de crimes como organização criminosa armada, com participação de agente público, obstrução de investigação, violação de sigilo funcional, fraude processual e favorecimento pessoal e real. Em um dos trechos da decisão, o ministro escreveu: “Os investigados utilizaram dessa relação de intimidade para se encontrar presencialmente, na véspera da operação policial, em alinhamento para a prática de condutas delitivas.” Macário Neto está custodiado na Cadeia Pública Constantino Cokotós, em Niterói, destinada a policiais. TH Jóias foi transferido para um presídio federal fora do estado. Já Bacellar está solto, mas o STF determinou seu afastamento da Alerj.