Brasileira com fibromialgia vira dançarina profissional de salsa e se torna campeã mundial O que começou como uma orientação médica para aliviar dores crônicas se transformou em paixão, profissão e em título inédito para o Brasil. Diagnosticada com fibromialgia e enfrentando crises frequentes de enxaqueca, a dançarina Priscila Barkmann, de 35 anos, moradora de São Paulo, encontrou na dança um caminho de superação. Mais de uma década depois, ela se tornou a primeira brasileira campeã mundial de salsa solo. Priscila conquistou o título na categoria salsa solo feminino durante o WDSF Caribbean Dances World Championship, realizado nos dias 6 e 7 de dezembro na Turquia, que contou com quase 300 atletas. A competição é organizada pela World DanceSport Federation (WDSF) e, pela primeira vez, uma brasileira subiu ao lugar mais alto do pódio nessa modalidade. "Foi a primeira vez que tive que dançar improvisos e coreografia. Normalmente tem só a coreografia nas competições. Então, foi um grande desafio físico mesmo. Mas eu posso te dizer que o momento mais emocionante para mim, realmente, foi a cerimônia de premiação com o hino do Brasil. Foi muito emocionante para mim esse momento. Me senti muito orgulhosa de ser brasileira, do meu nome associado à excelência e por honrar meu país", afirmou ao g1. A Confederação Nacional de Dança Desportiva (CNDD) celebrou o marco inédito nas redes sociais. "Nossa atleta, Priscila Barkmann, conquistou a medalha de OURO no 2025 WDSF World Championship Caribbean. Priscila Barkmann se torna a primeira brasileira a subir no lugar mais alto do pódio em um Campeonato Mundial da World DanceSport Federation (WDSF). Essa vitória, na vibrante modalidade Caribbean Dances - Salsa Shine é a prova da excelência e da dedicação da nossa comunidade. O talento brasileiro faz história. Parabéns, Priscila! Seu sucesso é a nossa inspiração", escreveu no perfil do Instagram. Mas a história da dançarina com a dança começou em 2011, de forma pouco comum. Na época, Priscila lidava com dores constantes e buscava alternativas para melhorar a qualidade de vida. “A dança entrou na minha vida como uma recomendação médica. É uma forma bem atípica de uma pessoa começar a dançar, mas eu tinha crises de enxaqueca com muita frequência e eu tinha um médico que me acompanhava já um tempo. O médico falou: 'olha, eu recomendo você começar a atividade física'. A atividade física iria me ajudar com as crises de enxaqueca e com a fibromialgia. Então, ele colocou na receita médica, eu lembro como se fosse hoje, colocou na receita médica: natação ou dança”. Priscila conquistou o título na categoria salsa solo feminino durante o WDSF Caribbean Dances World Championship, realizado nos dias 6 e 7 de dezembro na Turquia Arquivo Pessoal Ela decidiu seguir as duas opções indicadas pelo médico, e foi assim que a salsa entrou em sua vida. “E aí eu me inscrevi nas duas coisas, tanto na natação quanto na dança. As duas me acompanham até hoje. Mas foi aí que eu descobri a salsa, descobri a minha paixão pela salsa.” Além da mudança emocional, os impactos físicos também foram significativos. As crises de enxaqueca diminuíram drasticamente, e a fibromialgia passou a ser controlada sem o uso constante de medicamentos. “Em relação à fibromialgia, eu tenho um diagnóstico que é um diagnóstico difícil, porque é uma doença crônica, difícil de lidar, mas a dança, ela é praticamente um remédio. Realmente o médico colocou na receita médica e virou um remédio na minha vida". “Eu consigo sobreviver com a fibromialgia sem depender de remédios. A fibromialgia, quem tem precisa tomar remédios muito fortes para conseguir dar conta. As crises de enxaqueca que eu tinha com muita frequência, como toda semana, eu praticamente zerei. Hoje em dia eu tenho, sei lá, uma vez no ano, uma coisa bem esporádica". LEIA MAIS A jornada da primeira comandante brasileira do maior avião comercial do mundo Aos 91 anos, idosa ganha bolsa de estudo para faculdade e realiza sonho Maior salão de beleza do mundo fica nos Jardins, em SP De hobby para profissão Dançarina Priscila Barkmann, de 35 anos, moradora de São Paulo, é tetracampeã brasileira Arquivo Pessoal O que começou como hobby passou, aos poucos, a disputar espaço com a carreira que Priscila já tinha fora da dança. Formada em Comunicação Institucional e em Publicidade e Propaganda, ela trabalhava na área de marketing quando percebeu que a dança já ocupava um lugar central em sua vida. “Eu comecei a dançar como um hobby e começaram a surgir propostas de trabalho. E aí eu comecei a conciliar a carreira que eu tinha antes, que também era na comunicação, com as propostas de trabalho de dança. “Chegou um momento em que eu realmente, enquanto eu estava trabalhando na minha área, que era o marketing, eu me sentia perdendo tempo. Eu queria estar ensaiando, eu queria estar treinando.” A decisão de mudar de carreira, no entanto, não foi simples e nem teve apoio imediato da família. “A maior parte da minha família não apoiou. E eu entendo também a preocupação da família, né? A família se preocupa com a questão financeira, como que um dançarino vai sobreviver financeiramente. E eu tinha já uma carreira estável, eu tinha faculdade na área de comunicação. Então, eles tinham essa preocupação". Com o tempo, Priscila construiu uma carreira sólida. Ela se formou pela Escola de Dança Teatro Guaíra, onde também obteve o DRT de bailarina. Estudou danças folclóricas cubanas no grupo Folkcuba, em Havana, salsa on1 e on2 na Sosa Academy, em Milão. Há também no seu currículo salsa caleña na escola Vibrando con Stilo, em Cali, na Colômbia, e integrou a companhia Bomba Salsera. Também passou por países como Itália, Espanha, Alemanha, México e Cuba. Competições Dançarina Priscila Barkmann, de 35 anos, moradora de São Paulo, se tornou tetracampeã brasileira de salsa Arquivo Pessoal Vieram, então, as competições nacionais e internacionais, com títulos como Dance Open Brasil, Brasil Latin Open e CNDD (Campeonato de Dança Esportiva). Em 2024, Priscila venceu sua categoria de salsa solo profissional no campeonato nacional e alcançou uma das melhores colocações no ranking brasileiro, o que garantiu a ela um convite oficial da Confederação Nacional de Dança Desportiva (CNDD) para representar o Brasil no mundial. “Foi a primeira vez que fui levada para um mundial com todas as despesas pagas para representar o Brasil. Sempre precisei trabalhar dobrado para conseguir viajar e competir, então me sinti muito valorizada.” A preparação para o mundial marcou um novo momento em sua trajetória. Pela primeira vez, Priscila conseguiu estruturar uma rotina de treinos respeitando os limites do corpo e a fibromialgia. “Pela primeira vez eu consegui ter um treino que não fazia eu me sobrecarregar tanto. É um treino consistente, mas sem tanta sobrecarga. Eu descobri que eu treinava dois dias e no terceiro dia eu já estava exausta, porque eu tenho fibromialgia, então eu tenho mais fadiga do que uma pessoa normal.” A rotina incluiu treinos de musculação, peso do corpo, natação, ensaios de dança, flexibilidade, meditação e analgesias não medicamentosas, além de acompanhamento com profissionais da saúde. No mundial, além da coreografia, Priscila enfrentou o desafio do improviso , o que tornou a prova ainda mais exigente fisicamente. “Foi um grande desafio físico mesmo. Foi muito desgastante, muito fisicamente muito difícil. Mais difícil do que as outras competições que eu já tinha participado.” Aulas Dançarina Priscila Barkmann, de 35 anos, moradora de São Paulo, se tornou tetracampeã brasileira de salsa Arquivo Pessoal Hoje, além de competidora, Priscila Barkmann também é referência como treinadora de solistas no Brasil. Ela mantém turmas online e realiza workshops em várias cidades brasileiras e no exterior. “Eu amo ser professora. Eu tenho prazer em ver a evolução dos meus alunos. Eu sou muito professora muito antes de ser dançarina. Eu já formei alguns campeões brasileiros, graças a Deus. E espero também formar campeões a nível internacional. Eu tenho alunos que já têm bons resultados a nível internacional, mas ainda não tem um campeão mundial. Espero abrir as portas para que novas pessoas também conquistem esse título". Ao olhar para a própria trajetória, Priscila resume o papel da dança em sua vida. "A dança é meu remédio. É meu remédio diário, é um alimento para a alma. É uma conexão espiritual quando você consegue se conectar com a música, com os instrumentos, com o seu corpo. É algo transcendental, eu diria. Então, a dança é um remédio para o corpo e para a alma". Dançarina Priscila Barkmann, de 35 anos, moradora de São Paulo, se tornou tetracampeã brasileira de salsa Arquivo Pessoal Dançarina Priscila Barkmann, de 35 anos, moradora de São Paulo, se tornou tetracampeã brasileira de salsa Arquivo Pessoal Dançarina Priscila Barkmann, de 35 anos, moradora de São Paulo Arquivo Pessoal