Os preços do cacau estão despencando. Por que o chocolate continua tão caro?

Após a disparada histórica do ano passado, os preços do cacau caminham para a maior queda anual já registrada. Mas não há sinal de que o custo de balas, barras ou chocolates de Natal vá acompanhar essa queda tão cedo. Entenda: Por que a segunda parcela do décimo terceiro tem valor menor? IPVA de R$ 700 mil? Veja carros que terão impostos 'nas alturas' em 2026 Os contratos futuros de cacau quase triplicaram no ano passado, causando prejuízos aos fabricantes, que, por sua vez, elevaram os preços do chocolate. Eles ainda estão trabalhando com grãos comprados no pico da alta e também fizeram mudanças nas receitas que não são fáceis de reverter. Produtores e analistas esperam que o cacau mais barato só comece a chegar às prateleiras dos supermercados no segundo semestre do ano que vem — e mesmo isso está longe de ser garantido. Isso significa que famílias já pressionadas por alimentos mais caros, do bife ao café, terão de continuar avaliando se o chocolate segue sendo um agrado acessível. — Os preços com os quais a indústria do chocolate está trabalhando atualmente são muito altos e dolorosos — disse Jonathan Parkman, chefe de vendas agrícolas da corretora de commodities Marex Group, em Londres. — Vai levar bastante tempo para conseguirmos absorver isso. O cacau disparou para um recorde de quase US$ 13 mil por tonelada no ano passado, quando doenças e condições climáticas extremas devastaram lavouras na Costa do Marfim e em Gana, que fornecem mais da metade do cacau mundial. Mas os preços despencaram à medida que as perspectivas de colheita melhoraram, a demanda enfraqueceu e parte das preocupações com uma escassez duradoura diminuiu. Veja também: Sony amplia controle em marca que abriga os icônicos personagens Snoppy e Charlie Brown Eles acumulam queda de cerca de 50% neste ano, a caminho do maior recuo anual desde o início dos registros, em 1960. A disparada deixou uma marca profunda na indústria, com empresas que vão de gigantes de alimentos embalados a pequenos chocolatiers artesanais na Europa e nos EUA correndo para garantir cacau suficiente e equilibrar custos e lucros. Algumas lutaram para sobreviver. Elas não devem se apressar a reduzir os preços no varejo. A Lambertz, uma das mais antigas fabricantes de confeitos da Alemanha, tem estoques de cacau suficientes para durar até quase meados de 2026, após garanti-los quando os preços estavam elevados, disse o proprietário Hermann Bühlbecker, que está na empresa há cinco décadas. — Até onde me lembro, nunca houve uma explosão de preços como essa — afirmou. Initial plugin text A empresa familiar, conhecida como Lambertz, produz biscoitos e pães de mel cobertos de chocolate, uma iguaria popular no Natal. O reforço de estoques de cacau caro acrescentou cerca de €150 milhões (US$ 176 milhões ou R$ 960 mi) em custos anuais extras — o equivalente a um quinto da receita do ano passado. Como muitos outros, a Lambertz teve de repassar custos aos consumidores e aceitar uma perda no volume de vendas. Agora, os produtores tentam recuperar parte dessas receitas perdidas e das margens reduzidas, segundo Scott Amoye, vice-presidente de commodities da fabricante de chocolate Guittard Chocolate, da Califórnia, cujos clientes incluem padeiros e confeiteiros. — Você pode atravessar um período significativo em 2026 antes de ver qualquer alívio nos preços — disse. Alguns dos maiores fabricantes de chocolate evitam sinalizar mudanças, citando a volatilidade do mercado de cacau. A Nestlé, fabricante do Kit Kat, afirmou que, embora os movimentos recentes de preços sejam encorajadores, ainda é cedo demais para comentar mudanças específicas. A Hershey, que produz os Reese’s Peanut Butter Cups, espera que alguma “deflação” comece a ocorrer “mais profundamente em 2026”, disse o diretor financeiro Steve Voskuil em uma teleconferência de resultados em outubro. Eles têm bons motivos para cautela. Embora os futuros do cacau tenham caído para menos de US$ 5.000 por tonelada em novembro, agora giram em torno de US$ 6.000 em Nova York, à medida que os traders avaliam expectativas menores de um grande superávit nesta safra. Analistas do Rabobank e do Citigroup reduziram suas estimativas nas últimas semanas. A oferta da África Ocidental continua frágil, e os pequenos agricultores da região sofrem cronicamente com falta de financiamento, sem acesso suficiente a fertilizantes, mudas resistentes a doenças e ferramentas que ajudem a lidar com as mudanças climáticas. — Os desafios estruturais de longo prazo não foram resolvidos — disse Peter Feld, diretor-presidente da Barry Callebaut AG, em uma teleconferência com analistas no mês passado. — A produção de cacau na África Ocidental enfrenta um déficit crônico de investimentos. O chocolate ficou barato demais por tempo demais. A maior fabricante mundial de chocolate a granel busca expandir sua divisão de alternativas ao cacau, ao mesmo tempo em que explora inovações para amortecer o impacto da volatilidade persistente do cacau. A empresa também avalia separar sua unidade de moagem de cacau do restante do negócio. Em todo o setor, produtores encontraram maneiras de lidar com essa volatilidade ajustando receitas para reduzir o teor de cacau ou diminuindo o tamanho das porções. Na Alemanha, as populares barras Milka, embaladas em roxo, estão agora 10% mais leves, enquanto sua fabricante, a Mondelez, elevou os preços em cerca de um quarto, segundo pesquisa do Centro de Defesa do Consumidor de Hamburgo. No Reino Unido, barras clássicas como Toffee Crisp, da Nestlé, e Penguins, da McVitie’s, já não podem mais ser chamadas de “chocolate” depois que seus fabricantes reduziram a manteiga de cacau em favor de óleos vegetais mais baratos. Reverter essas trocas de receita não é fácil, o que significa que essas mudanças tendem a permanecer por mais tempo. Por ora, descontos promocionais temporários são mais prováveis do que cortes de preços, segundo Allyson Myers, vice-presidente de vendas e marketing da Lake Champlain Chocolates, de Vermont. — Provavelmente não conseguiremos devolver tudo — disse.