Em cúpula do Mercosul, Milei defende pressão de Trump sobre a Venezuela e chama Maduro de 'narcoterrorista'

O presidente da Argentina, Javier Milei, defendeu neste sábado, durante reunião de cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu (PR), a pressão política, econômica e militar exercida pela Casa Branca sobre o regime de Nicolás Maduro na Venezuela. Para ele, “o momento para uma abordagem tímida em relação a este assunto acabou”. Pouco antes, o anfitrião do encontro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que uma intervenção armada americana seria uma “catástrofe humanitária” e abriria “um precedente perigoso” para todo o mundo. — A Argentina acolhe com satisfação a pressão dos Estados Unidos e de Donald Trump para libertar o povo venezuelano. O momento de uma abordagem tímida sobre este assunto acabou — afirmou Milei, diante de seus pares do Mercosul. — A ditadura atroz e desumana do narcoterrorista Nicolás Maduro lança uma sombra escura sobre a nossa região. Este perigo e esta vergonha não podem continuar a existir no continente, ou acabarão por nos arrastar a todos para o fundo do poço. Impasse: Lula pede que UE mostre 'coragem' e assine acordo comercial com o Mercosul UE-Mercosul: Lula liga para Meloni e diz que italiana quer mais tempo para convencer agricultores a aceitar acordo Milei, alinhado ao trumpismo, lembrou que a Venezuela foi suspensa do Mercosul em 2016, acusada de violar os protocolos relacionados ao respeito à democracia e aos direitos humanos, e defendeu que os demais países do bloco “apoiem essa posição e condenem, de maneira taxativa, este experimento autoritário”. Ele ainda fez elogios à “coragem” da líder opositora María Corina Machado, vencedora do Nobel da Paz deste ano e que deixou a Venezuela de forma clandestina, no começo do mês. Em uma cúpula marcada pelo recuo europeu na assinatura de um acordo comercial Mercosul-União Europeia, que enfrenta resistências políticas — mesmo após quase 30 anos de negociação — e protestos internos, a Venezuela foi um ponto crucial de dissonância. Paraguai — que firmaram com os EUA um acordo de cooperação de segurança há alguns dias — e Argentina queriam menções mais duras a Caracas em uma resolução ministerial e na declaração final dos líderes, e os chanceleres dos dois países afirmaram à imprensa que Maduro “precisava ir embora”. Mas a diplomacia brasileira barrou as iniciativas. Elo pela paz: Lula oferece mediação em crise diplomática entre Trump e Maduro e diz que vai ter conversa com americano antes do Natal Se Milei saiu em defesa de Trump e de uma hipotética ofensiva militar em um país sul-americano, Lula fez um discurso em defesa da não-intervenção na reunião de líderes, na manhã deste sábado, e citou o exemplo da própria Argentina. Ele e Milei apenas apertaram as mãos de forma protocolar e não conversaram a sós. — Passadas mais de quatro décadas desde a Guerra das Malvinas, o continente sul-americano volta a ser assombrado pela presença militar por uma potência extrarregional. Os limites do direito internacional estão sendo testados — disse o presidente, se referindo ao conflito travado entre argentinos e britânicos em 1982, sobre a posse do arquipélago conhecido por Londres como Ilhas Falklands. Lula ainda alertou para os riscos de uma guerra em um país que há anos está no centro de uma das mais graves crises migratórias da América Latina. — O continente sul-americano está mais uma vez ameaçado pela presença militar de uma potência extrarregional (...) Uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária — afirmou Lula. — Construir uma América do Sul próspera e pacífica é a única doutrina que nos convém. Há quem argumente que avançar na integração é abrir mão da soberania. Mas as verdadeiras ameaças à nossa soberania são de outra natureza. Elas se apresentam hoje são na forma da guerra, das forças antidemocráticas e do crime organizado. Incertezas: Governo Lula tenta entender alcance de ações dos EUA sobre a Venezuela e teme impacto na região A linha foi seguida pelo presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, que expressou seu “compromisso inabalável de colaborar ativa e construtivamente na restauração pacífica da ordem institucional e democrática” na Venezuela, pediu respeito à integridade dos Estados e pregou a abstenção do uso e da ameaça da força. Há meses, o governo americano incrementa a presença militar no Caribe, com cerca de 15 mil militares, aeronaves de combate, navios de guerra e o maior porta-aviões de sua armada, o USS Gerald Ford. Oficialmente, a chamada Operação Lança do Sul tem como objetivo atacar os cartéis do narcotráfico na região, e já destruiu mais de 20 embarcações acusadas de serem usadas pelas organizações criminosas, embora sem apresentar provas. Frota americana posicionada no Caribe Arte/O GLOBO Contudo, o alvo principal de Trump parece ser o regime de Nicolás Maduro. Segundo levantamento da rede CNN, o republicano disse em quase 20 ocasiões desde setembro que uma ofensiva terrestre na Venezuela (e em outros países) era iminente. Para o Departamento de Estado, Maduro é líder de um cartel conhecido como Cartel de los Soles, e há uma recompensa de US$ 50 milhões por sua captura. Caracas nega as alegações e afirma que o único objetivo de Trump é a derrubada do governo. Nos últimos dias, os EUA anunciaram um bloqueio naval à Venezuela, e ameaçaram interceptar todos os petroleiros alvos de sanções que se aproximarem da costa do país — ao menos uma embarcação foi capturada, levada para um porto americano e teve a carga foi apreendida pelas autoridades do país.