Rhea Seehorn, a mal-humorada Carol de ‘Pluribus’, comenta questões da série: 'Existe altruísmo sem algum tipo de objetivo?'

Carol Sturka acaba de lançar seu novo livro da saga de romantasia “Wycaro” — que, por sinal, ela detesta — quando a Terra é acometida pelo estranhíssimo fenômeno que deixa todo mundo feliz e solícito. Desconhecidos de sorrisos robóticos olham para ela e dizem “Oi, Carol!” como se a conhecessem com intimidade. Diante desse detestável cenário, ela tenta lutar como pode para acabar com essa festa estranha de gente esquisita e voltar a um mundo problemático, mas real. Os livros do ano: confira 100 títulos que foram destaque em 2025, entre ficção, não ficção, poesia e quadrinhos 'Vale tudo', 'Tremembé', 'Adolescência', mudanças no Jornal Nacional: o que 'bombou' na TV e no streaming em 2025 Esta história e o impacto dela foram alguns dos temas da entrevista do GLOBO com Rhea Seehorn antes da exibição do oitavo episódio. Indicada ao Critics Choice e ao Globo de Ouro como melhor atriz de drama pelo papel, a americana também contou qual é sua cena favorita e explicou a fama de Vince Gilligan de “chefe mais legal de Hollywood”. O GLOBO: Antes de mais nada, as pessoas têm te abordado como os personagens da série, que sempre falam “Oi, Carol!” tentando ser agradáveis? Algumas (risos). Outro dia mesmo, no supermercado, alguém deu um grito assustado, e achei que eu tinha deixado cair alguma coisa. Mas, quando me virei, a pessoa disse “Oi, Carol!”, riu e saiu correndo. Mas, sim, definitivamente já aconteceram algumas dessas situações. É muito carinhoso. Rhea Seehorn e Vince Gilligan na estreia de 'Pluribus' Divulgação Vince Gilligan disse, há pouco tempo, que a TV precisa de mais heróis. Que tipo de heroína é a Carol? Uma heroína relutante. Não acho que ela quisesse liderar uma revolução. É algo que todos nós já pensamos em algum momento, tipo: “Será que ninguém vai fazer nada a respeito de tal coisa?” Acho que a personagem representa alguém que tenta lutar pelo que acredita. Mas sem machucar os outros no processo, porque uma das questões centrais dela com os demais é justamente: “Parem de tentar me dizer o que vai me fazer feliz.” Há uma cena maravilhosa logo no começo, no hospital, com a brilhante Karolina Wydra, em que ela diz algo como: “Sim, mas você também está tentando nos mudar.” Ao longo da série, existem contra-argumentos aos argumentos da Carol, o que, acredite, também deixou a minha cabeça rodando. Que conversas em torno de “Pluribus” mais a empolgaram ou até surpreenderam de maneiras que você não tinha previsto? Fiquei surpresa com o fato de provocar nas pessoas exatamente as mesmas conversas que eu passava noites em claro tendo com a equipe, por meses. Perguntas do tipo: como você define felicidade? É possível separar atos de gentileza e de manipulação, ou eles estão sempre entrelaçados? Existe altruísmo verdadeiro sem algum tipo de objetivo? Alegria é a mesma coisa que contentamento? São questões com as quais eu mesma ainda estou lidando. E é muito gratificante ver que “Pluribus” está puxando essas conversas. Mas o que me surpreendeu foi uma mulher que disse que, para ela, a série inteira era uma metáfora e um retrato do luto e da depressão, da ideia de que você está no fundo de um poço nesses momentos da vida. E, por mais que todo mundo tente te animar, ninguém consegue te alcançar, e você também não consegue alcançar ninguém até sair disso por conta própria. Nunca tinha pensado nisso e achei lindo. “Pluribus” é tão aberta a interpretações que, se é isso que você enxerga, adoro essa leitura. Vince Gilligan e Rhea Seehorn no set de 'Pluribus' Divulgação Apple TV A série é muito plástica, tem uma fotografia impressionante. Quando você sentou para assisti-la, há alguma cena que te fez pensar: “Uau, a gente realmente fez isso?” Muitas mesmo, mas uma em especial. Lembro que me chamaram para assistir no monitor, logo depois de gravada, dizendo: “Você precisa ver isso.” Normalmente, não há tempo para isso e eu nem gosto de ver. (Atenção para spoilers!) É a cena em que estou colocando as pedras para cobrir a cova e depois volto para o carro uma última vez. Queríamos mostrar que aquilo levou o dia inteiro para ser feito. Era preciso acompanhar o sol o tempo todo, mover a câmera continuamente para que o sol ficasse exatamente na posição certa para contar a história. Não podia estar muito deslocado, senão pareceria que tinha passado tempo demais; nem parado, para não parecer que o tempo não avançava. É um plano belíssimo que eu não consegui ter noção porque estava concentrada atuando. Mas adorei ver umas 200 pessoas correndo feito loucas para conseguir uma imagem linda. Vince Gilligan sempre é descrito pela imprensa americana como o “chefe mais legal de Hollywood”. Pela sua experiência, o que faz com que ele se destaque ? Ele é extremamente inteligente e criativo, mas também transparente e generoso. Ele acredita genuinamente que a melhor ideia vence. Não precisa impor autoridade no set. Não precisa de pose. Nunca é um bully, nunca tenta intimidar ninguém. Para mim, é alguém que parte do princípio de que o melhor das pessoas vai aparecer. Isso faz você chegar ao trabalho pensando: “Espero ser tão bom quanto esse cara acredita que sou.” Em muitos ambientes, você sente medo de ser desmascarado, de não ser bom o suficiente e acaba gastando energia tentando se provar. Aqui não. Não é que alguém deixe de tentar ser excelente, todos tentam. Mas é como se a gente quisesse ser ainda melhor, em todos os departamentos, porque você gosta da forma como Vince te enxerga. Você quer estar à altura do olhar que ele tem de você.