A indicação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como pré-candidato à Presidência abriu distância entre o núcleo duro do bolsonarismo e eleitores que ainda não têm o voto definido para 2026. A escolha do filho mais velho de Jair Bolsonaro é alvo de críticas no grupo de indecisos acompanhado pelo GLOBO, que tem negado a intenção de voto a qualquer representante da família do ex-presidente. Parte deles tem, aos poucos, avaliado pré-candidaturas de governadores de centro-direita que se colocaram à disposição para a disputa presidencial. Farol para 2026: Eleitores mais disputados para próximo pleito veem em reflexos de tarifaço de Trump guia para voto Privilégio a parlamentares e divisão sobre penas no 8/1: Como eleitores indecisos avaliam PEC da Blindagem e Anistia A tendência apareceu na pesquisa Genial/Quaest divulgada na semana passada, que mostrou que o segmento de eleitores independentes, considerado decisivo para 2026 e que deu vitória para o presidente Lula em 2022, tenderia a apoiá-lo novamente no ano que vem (37%) caso ele dispute contra Flávio (23%), apesar de um terço (34%) afirmar que não compareceria ao pleito ou que votaria branco ou nulo. A diferença entre o apoio dado ao pré-candidato de direita e ao petista, no entanto, diminuiu ao serem testados os governadores. No comando do Executivo de São Paulo e cotado como presidenciável pelo Centrão, Tarcísio de Freitas (Republicanos) teria 29% contra os mesmos 34% de Lula. A distância é ainda menor para Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, que registraria 31% ante os também 34% do petista. Já Ronaldo Caiado (União), de Goiás, teria empate numérico com Lula, ambos com 29%. O único a passar numericamente o petista, entre os eleitores independentes, seria o mineiro Romeu Zema (Novo), que teria 32%, enquanto o petista registraria 31%. Veja o que cada um pensa Fabiana Gomes, administradora - “A direita não consegue mais articular nenhum nome palatável. Todos são farinha do mesmo saco” Benedicto Patrão, advogado - “Consigo vislumbrar a possibilidade de votar nele (Tarcísio), mas não é nada certo” Lorena Mendes, estudante - “A direita abandonou a esperança de recolocar Bolsonaro e tentar preservar a influência da família” Vinícius Ribeiro, atendente - “Acho péssimo qualquer um dos nomes que tenham vínculo com Bolsonaro” Vinícius Portugal, jornalista - “Ratinho Jr. e o Eduardo Leite poderiam trazer visão mais moderada” Laís Barreiros, psicóloga - “Não votaria nem em Michelle, nem em Flávio ou Tarcísio” Célio Gomes, balconista - “Preciso estudar mais quais são as ideias dele (Tarcísio de Freitas), mas acho que consideraria votar nele, sim” Walter Dias, taxista - “Flávio não ganha nada e Michelle perderia de forma incontestável, mas se o Tarcísio for para o segundo turno, ele teria chance de ganhar, sim” Para entender como pensam os eleitores que estão com o voto em aberto, O GLOBO tem ouvido representantes desse grupo, como parte de uma série de reportagens que acompanhará até outubro percepções de moradores de colégios eleitorais considerados estratégicos no país. Na primeira rodada, em julho, eles responderam perguntas sobre o tarifaço do presidente americano Donald Trump e sobre a primeira resposta dada pelo governo brasileiro à crise. Já em setembro, comentaram a PEC da Blindagem e a proposta de anistia para os condenados pela trama golpista. De Salvador, a psicóloga Laís Barreiros, de 33 anos, se coloca contra o lançamento de Flávio e afirma que o senador “só não é pior alternativa que o irmão Eduardo”. Dos Estados Unidos, onde está em autoexílio desde março, o agora ex-deputado articulou por sanções americanas contra o país e autoridades brasileiras. Laís acrescenta que não votaria em nenhum outro candidato da família do ex-presidente ou em Tarcísio, por discordar da “forma de fazer política e dos ideais defendidos pelo grupo”. As indicações de pessoas próximas a Bolsonaro também são rechaçadas pela estudante de Psicologia Lorena Mendes, de 20 anos, moradora de Manhuaçu (MG). Para ela, a direita “abandonou a esperança de recolocar o Jair no poder e tenta preservar a influência da família no cenário político”. Diz não ver diferença entre os nomes de Flávio e Michelle, mas acredita que a ex-primeira-dama foi preterida porque “dentro do conservadorismo, ainda predomina a lógica patriarcal de que o posto de comando deve ser ocupado por um homem”. Contra redução de pena De São Paulo, o atendente da Shopee Vinícius Ribeiro, de 31 anos, afirma que o ex-presidente “manchou a imagem de todo o partido dele” ao ser condenado na trama golpista. O comerciante também criticou Bolsonaro pela violação da tornozeleira eletrônica, ação vista por ele como uma tentativa de fuga, e se colocou contra o projeto aprovado pelo Congresso que reduz as penas dos envolvidos no 8 de Janeiro e beneficia o ex-presidente. Lula disse que vetará. — Essa proposta é uma clara injustiça com a sociedade. Um pobre de favela não é julgado do mesmo jeito que um empresário — disse. O mesmo argumento é defendido pela administradora Fabiana Gomes, 48 anos, de Belo Horizonte. Ela não se vê representada por nenhum dos nomes cotados como pré-candidatos, nem mesmo por Zema, ao qual faz críticas relacionadas à administração estatual, como os processos de privatização de estatais. No passado, conta, ela foi eleitora do PSDB e optou por votar em Lula em 2022 “para tirar Bolsonaro”, mas, para 2026, ainda não tem uma decisão: — A direita não consegue mais articular nenhum nome palatável, a meu ver. Todos são farinha do mesmo saco. ‘Candidato viável’ As opções também são criticadas pelo advogado Benedicto Patrão, de 46 anos, de Niterói (RJ), que descreve candidaturas como a de Zema como “um apêndice do bolsonarismo” e afirma que o nome de Ratinho Júnior “não tem expressão nacional”. Ele considera Caiado o candidato “menos pior”, em função de sua experiência como político desde os anos 1980, mas diz não enxergar nele “a expressão política necessária para chegar à Presidência”. Já em Tarcísio, vê um candidato viável e melhor que Flávio e Michelle, mas condiciona o apoio ao afastamento do bolsonarismo. — Se houver uma separação clara, um rompimento real com esse modo de fazer política, eu até consigo vislumbrar a possibilidade de votar nele. Vislumbrar apenas, não é nada certo — afirma. O apoio ao governador também tem sido avaliado pelo balconista carioca Célio Gomes, de 46 anos, que admite ainda precisar “estudar” a atuação política de Tarcísio. Além dele, o taxista em São Paulo, Walter Dias, de 69 anos, afirma que Flávio “não ganha nada” e que Michelle perderia de maneira “incontestável”, mas vê Tarcísio com chance de ganhar se for para o segundo turno com o petista. O jornalista Vinícius Portugal, de 23 anos, por sua vez, admite que está com “um pé e meio” em Lula, mas que, nesse meio tempo, os nomes de Ratinho Júnior e Eduardo Leite têm entrado em seu radar. Ele explica que, por serem do PSD, tem expectativa de que representem alternativas “um pouco mais moderadas” e levem uma “visão mais progressista” da centro-direita no pleito.