Salvar senhas no Chrome é seguro? Especialista explica os reais riscos

Salvar senhas no navegador é um hábito comum entre usuários de internet que buscam praticidade no dia a dia. O Google Chrome, um dos navegadores mais usados do mundo, oferece um gerenciador de senhas integrado que promete facilitar logins, sugerir combinações mais fortes e sincronizar credenciais entre dispositivos. Mas, diante de vazamentos de dados, golpes digitais e ataques cada vez mais sofisticados, muitos usuários se perguntam até que ponto confiar suas senhas ao navegador da Google. Para esclarecer esses pontos, o TechTudo ouviu Gustavo Torrente, especialista em segurança digital e head de B2B & Technical Solutions da Alura + FIAP para empresas, que analisou os mecanismos de proteção do Chrome e os cenários em que o uso do gerenciador pode se tornar problemático. Ao longo deste guia, explicamos como o navegador protege as senhas, quais são os riscos reais para o usuário comum e em que situações é melhor evitar esse tipo de armazenamento — ajudando você a decidir quando a praticidade vale a pena e quando a segurança deve falar mais alto. Gemini lidera buscas por IAs no Google em 2025; ChatGPT fica de fora Canal do TechTudo no WhatsApp: acompanhe as principais notícias, tutoriais e reviews Salvar senhas no Chrome é seguro? Especialista explica os reais riscos Reprodução/Mariana Tralback Como baixar músicas do Spotify no PC? Veja no Fórum TechTudo O que é o gerenciador de senhas do Google Chrome O gerenciador de senhas do Google Chrome é um recurso nativo do navegador que permite ao usuário salvar, organizar e preencher automaticamente senhas usadas em sites e serviços online. Sempre que alguém faz login em uma página pela primeira vez, o Chrome oferece a opção de armazenar aquelas credenciais, evitando que a pessoa precise memorizar combinações longas ou repetir senhas fracas em vários serviços. Na prática, o recurso funciona como um cofre digital integrado ao navegador e à conta Google, com foco em conveniência e no uso cotidiano, especialmente para quem já utiliza o ecossistema do Google no dia a dia. O gerenciador de senhas do Google permite ao usuário armazenar todas as suas senhas em um só local Reprodução/Gabriel Pereira As senhas salvas no Chrome ficam associadas à conta Google do usuário, mas também dependem do dispositivo em que ele está conectado. Quando a sincronização está ativada, as credenciais são armazenadas de forma criptografada nos servidores do Google e sincronizadas automaticamente entre os aparelhos em que a conta estiver logada. Além disso, o acesso a essas senhas no computador ou no celular é protegido pelo método de desbloqueio do próprio sistema — como senha do Windows ou macOS, PIN, impressão digital ou reconhecimento facial no smartphone. Isso significa que, mesmo estando na nuvem, as credenciais não ficam abertas livremente: elas exigem autenticação local para serem visualizadas ou usadas. Existe também uma diferença importante entre salvar senhas no navegador e salvá-las apenas localmente no dispositivo. Quando o usuário não ativa a sincronização da conta Google, as senhas ficam restritas àquele computador ou celular específico, funcionando como um armazenamento local. Já com a sincronização ativada, o Chrome passa a atuar como um gerenciador multiplataforma, permitindo o preenchimento automático em outros computadores, smartphones Android e até em dispositivos iOS, por meio do app do Chrome. Essa integração entre sistemas é um dos principais atrativos do recurso, pois garante continuidade no uso das senhas independentemente do aparelho, desde que o usuário esteja logado na mesma conta Google. Como o Chrome protege as senhas O Google Chrome protege as senhas salvas combinando criptografia avançada, autenticação da conta Google e barreiras de acesso no próprio sistema operacional. Sempre que uma senha é armazenada, ela passa por processos de proteção tanto no envio quanto no armazenamento. Segundo Gustavo Torrente, o navegador utiliza o padrão de criptografia AES, amplamente adotado por bancos e governos, o que garante que as informações fiquem ilegíveis para terceiros. Além disso, durante a transmissão entre o navegador e os servidores do Google, os dados são protegidos por TLS, protocolo que o especialista compara a um “carro-forte digital”, impedindo que alguém intercepte ou leia as informações no caminho. O Gogle utiliza criptografia AES para proteger as senhas dos usuários, mesma utilizada por bancos e governos Reprodução/Freepik Quando a sincronização está ativada, as senhas são criptografadas antes de serem enviadas para a nuvem e permanecem protegidas enquanto ficam armazenadas nos servidores do Google. O Chrome também oferece a opção de criar uma frase de sincronização personalizada, que adiciona uma camada extra de proteção: nesse modo, só o usuário possui a chave para descriptografar os dados. Torrente explica, no entanto, que o gerenciador do Chrome não adota criptografia de conhecimento zero por padrão, o que significa que o Google ainda mantém acesso técnico às chaves. “É como um cofre bem trancado, mas em que a empresa do cofre também tem uma cópia da chave”, resume o especialista. Essa abordagem favorece a recuperação de dados em caso de perda da senha da conta, mas reduz o nível máximo de isolamento das informações. Além da criptografia, o acesso às senhas no Chrome depende da autenticação local do dispositivo, como senha do sistema, PIN ou biometria — especialmente em celulares Android e iPhones, onde o preenchimento automático exige impressão digital ou reconhecimento facial. O navegador também tenta reduzir riscos de phishing ao não preencher automaticamente credenciais em sites com domínios diferentes dos originais. Ainda assim, Torrente alerta que o maior ponto fraco não está na tecnologia, mas no uso cotidiano: “Se o computador estiver desbloqueado, qualquer pessoa pode acessar as senhas salvas indo até as configurações”. Por isso, manter o dispositivo sempre bloqueado, proteger bem a conta Google e ativar a autenticação em duas etapas são medidas essenciais para que a segurança oferecida pelo Chrome não seja comprometida. Quais são os riscos reais de salvar senhas no Chrome Salvar senhas no Google Chrome é prático, mas envolve riscos reais que vão além da tecnologia e estão diretamente ligados ao comportamento do usuário e ao ambiente em que o navegador é utilizado. O principal deles é o acesso físico ao dispositivo. Segundo ao especialista, esse é o maior perigo para o usuário comum: “Se o computador estiver aberto, qualquer pessoa pode acessar suas senhas salvas. Basta ir nas configurações e pronto, lá estão todos os logins”. Em computadores compartilhados, no trabalho ou em casa, um descuido simples — como se afastar da máquina sem bloquear a tela — pode expor e-mails, redes sociais e outros serviços sensíveis, mesmo que a criptografia esteja ativa. O gerenciador de senhas do Google possui alertas para caso alguma das senhas seja comprometida Reprodução/Gabriel Pereira Outro risco frequente envolve os golpes de phishing, que não exploram falhas técnicas do Chrome, mas sim o erro humano. Nesses ataques, o usuário é induzido a inserir suas credenciais em sites falsos que imitam páginas legítimas. O Chrome tenta reduzir esse risco ao não preencher automaticamente senhas em domínios diferentes do original, mas essa proteção não é absoluta. Se a pessoa digitar manualmente a senha ou aceitar salvá-la em um site fraudulento, o sistema deixa de ser uma barreira eficaz. Há ainda ameaças mais técnicas, como malware e keyloggers, capazes de capturar tudo o que é digitado ou de extrair senhas diretamente do navegador. Como os navegadores armazenam credenciais em locais conhecidos do sistema, programas maliciosos conseguem roubar grandes volumes de dados de uma só vez. Esse risco aumenta significativamente em computadores públicos ou compartilhados, onde o usuário não controla o nível de segurança do sistema. Por fim, existe o cenário mais crítico: a conta Google comprometida. Se um invasor obtiver acesso a essa conta, ele pode baixar todas as senhas salvas de uma única vez e sincronizá-las em outro dispositivo. Quando não é recomendado salvar senhas no navegador Salvar senhas diretamente no navegador não é a melhor escolha quando se trata de contas bancárias, financeiras ou qualquer serviço que envolva dinheiro e dados altamente sensíveis. Nesses casos, o impacto de uma falha é muito maior, já que um único incidente — como malware no computador, acesso físico indevido ou comprometimento da conta Google — pode gerar prejuízos financeiros diretos. Gustavo Torrente reforça que o gerenciador do Chrome não utiliza criptografia de conhecimento zero por padrão, o que significa que o Google ainda mantém acesso técnico às chaves. É necessário acompanhar os alertas de vazamento de senhas fornecidos pelo Google Reprodução/Gabriel Pereira O uso do gerenciador de senhas do navegador também não é indicado em sistemas corporativos ou ambientes de trabalho em equipe. Empresas costumam exigir controles mais rígidos, como auditoria de acessos, gestão centralizada de permissões e compartilhamento seguro de credenciais entre colaboradores, recursos que o Chrome não oferece de forma nativa. Segundo Torrente, essa limitação faz com que o gerenciador não atenda aos padrões de segurança corporativa, já que as senhas ficam vinculadas à conta individual do funcionário. Em casos de desligamento ou troca de função, o processo de transferência de acessos se torna manual e arriscado, aumentando a chance de vazamentos e falhas de conformidade. Outro cenário crítico envolve o uso em dispositivos compartilhados e por usuários que não ativam a autenticação em duas etapas. Em computadores familiares, de escolas, bibliotecas ou locais de trabalho, qualquer pessoa com acesso ao dispositivo desbloqueado pode visualizar ou exportar senhas salvas com relativa facilidade. Torrente destaca que, para o usuário comum, esse é um dos maiores riscos do dia a dia. Já no caso de contas Google sem verificação em duas etapas, o perigo é ainda maior: se a conta for invadida, todas as senhas sincronizadas podem ser acessadas de uma só vez. Com informações de Kaspersky, BGR, Keeper Security, Suporte Google