Cortinas novas, poesia em dialeto e sopa de pêssego: cidade do ES se prepara para Natal pomerano

A casa começa a ser preparada no início deste mês, com uma faxina para jogar o que não serve mais no lixo, deixar tudo limpo e fazer as boas energias circularem para o próximo ano. Na decoração, um pinheiro natural ganha enfeites, e o uso de cortinas novas é obrigatório. Na véspera do Wiehnachten, crianças declamam poesias em um dialeto estrangeiro, enquanto aguardam a chegada do Wijnachtsman. Os versos, como prevê a tradição, são a garantia para que haja entrega de presentes. Na cozinha, o marreco assado, a sopa de pêssego e o pão mijlchebrood já estão preparados. O Natal pomerano é assim. SP: Incêndio em apartamento no 14º andar mata três pessoas e dois animais em Piracicaba 'Mesmo sangrando, amaremos até o fim': primeira missa de padre Júlio pós-punição tem igreja lotada e abaixo-assinado Em Santa Maria de Jetibá, cidade serrana do Espírito Santo a 80 quilômetros da capital Vitória, o período do Natal, ou Wiehnachten, é usado pelos descendentes de imigrantes pomeranos para reforçarem sua cultura e manterem, de forma mais intensa, as tradições herdadas da antiga Pomerânia — Estado autônomo da Europa que deixou de existir nos anos 1940, após a Segunda Guerra Mundial. Mas, assim como no restante do Brasil, também há no Natal pomerano a tradicional ceia, a troca de presentes e a presença de Papai Noel, chamado de Wijnachtsman, ou Homem Natal, esperado nos primeiros minutos do dia 25 de dezembro. População bilíngue Com aproximadamente 42 mil habitantes, o município capixaba promove ao longo de dezembro cultos luteranos natalinos na língua pomerana. O dialeto praticamente desapareceu da Europa, mas hoje permanece vivo no Espírito Santo e em colônias de descendentes existentes em Rondônia, Santa Catarina e Minas Gerais. Santa Maria de Jetibá é considerada a cidade mais pomerana do país, com cerca de 80% da população com algum tipo de ligação com os imigrantes da Pomerânia. De acordo com a secretária municipal de Cultura e Turismo, Priscilla Gaiba, há uma preocupação dos moradores de manterem vivas as tradições pomeranas. Ela cita as apresentações de grupos de trombones nas ruas durante a programação de Natal, que também inclui desfile e caminhadas ecumênicas e se estende ao longo do mês no Centro e em localidades da zona rural. —Os moradores têm essa preocupação. Preparam a casa, limpam o guarda-roupa, refazem os jardins. Na zona rural, os paióis também são organizados. As árvores de Natal são feitas dentro da tradição pomerana, usando pinheiros naturais. Há um cuidado especial com a ceia e são feitos biscoitos próprios da época — conta Priscilla, explicando que são feitas pequenas adaptações nas receitas originais da Pomerânia, feitas pelos primeiros imigrantes, como o uso de ingredientes locais, entre eles o aipim, a goiaba e o inhame. A secretária chama a atenção para a preocupação com a língua pomerana e menciona que o comércio do município tem priorizado o emprego de funcionários bilíngues. O uso do português e do pomerano também é feito em cartazes dentro das lojas, em repartições públicas e nas placas de sinalização da cidade. Andar pelas ruas estreitas de Santa Maria de Jetibá durante o período do Natal, segundo os moradores, é se transportar para a antiga Pomerânia. O antigo Estado, até o fim da Segunda Guerra, pertencia à Prússia. Depois, foi dividido ao meio, ficando uma parte com a Alemanha e outra com a Polônia. No Brasil, os primeiros imigrantes chegaram bem antes, no século XIX, e a maior colônia foi formada no Espírito Santo. Além de Santa Maria de Jetibá, há núcleos nas cidades capixabas de Domingos Martins, Laranja da Terra, Pancas e Vila Pavão. Ao serem perguntados sobre a nacionalidade, alguns descendentes dizem que são pomerano-brasileiros.