Dona do cuscuz mais famoso de SP, Irina Cordeiro ensina receita de Natal tropical

Acostumada a churrascos natalinos, Irina Cordeiro estranhou o Natal “100% americano” — com nozes, frutas vermelhas e peru — quando se mudou do Rio Grande do Norte para São Paulo, oito anos atrás. “É uma tradição de comida de lugar onde neva, e aqui no Brasil é um verão danado, né?” O tempo passou, e a potiguar se acostumou a muitos aspectos da vida sudestina. Mas continuava incomodada com as receitas importadas do frio. Neste ano, resolveu tropicalizar a ceia — tanto no menu do seu restaurante Cuscuz da Irina quanto em uma série de posts nas redes sociais. “Quis resgatar o que são as comidas de festa do Brasil lá de cima”, conta. “Comidas de travessa.” Entram em cena os escondidinhos — um de carne-de-sol com macaxeira, outro de abóbora com cogumelos. O salpicão não leva uva-passa, mas caju caramelizado; a farofa ganha maracujá. De sobremesa, bolo de macaxeira caramelado. É um jeito doce de encerrar um ano que Irina descreve como “o melhor da vida”. “Achei meu tom”, diz. “O mantra ‘prosperar sem adoecer’ conseguiu se realizar.” Em 2025, ela comprou a casa própria e reorganizou as empresas para crescer sem depender integralmente de si, apostando em lideranças mais maduras. Hoje, cerca de 50 pessoas trabalham nos seus negócios: três restaurantes em São Paulo — dois Cuscuz (na Vila Madalena e em Santa Cecília) e o Irina Restaurante, dentro da loja Pinga, nos Jardins — além de projetos de conteúdo em um Instagram que soma mais de 500 mil seguidores. Para 2026, os planos incluem novas unidades do Cuscuz e uma parceria com uma grande marca, ainda mantida em sigilo. “As pipoquinhas do milho começaram a estourar.” Pode compartilhar a receita para crescer com equilíbrio que aprendeu no ano? “Primeiro, ter os limites muito claros e saber dizer não. Segundo, praticar o ócio, porque a genialidade está no ócio. Os homens prosperam mais porque têm tempo de pensar além da imersão de tarefas diárias. Terceiro, atividade física.” Dizer “não”, ela ressalta, é um privilégio que nem sempre teve. “Tive que dar muitos ‘sins’ para chegar nesses ‘nãos’.” Irina conta que cresceu em uma família que perdeu a estabilidade financeira quando o pai, advogado, adoeceu. Viveu escassez alimentar e, ainda adolescente, precisou trabalhar. “O que me salvou foi a educação”, diz. Conseguiu bolsa de estudos, entrou na faculdade de Direito, fez intercâmbio na Itália — onde estudou vinhos e acabou migrando para a gastronomia. Com uma participação no “MasterChef Profissionais” de 2017, tornou-se conhecida do público e surfou na onda. A chef Bel Coelho admira a trajetória. “A forma como ela entrelaça sua história de vida com o trabalho é cheia de autenticidade e beleza.” A mixologista Néli Pereira faz coro: “É uma referência na nova geração”. Irina Cordeiro Divulgação Os próximos passos? Veranear no Nordeste. “Vou para descansar a mente, fazer kitesurf em Barra Grande, no Piauí, me reconectar.” E seguir pesquisando e cozinhando. “O futuro da minha comida é voltar para o passado”, afirma. “Sou pesquisadora da Jurema brasileira — essa mistura da cultura afro com indígena que corta o Brasil. Meu trabalho é pegar tradições que estão morrendo, com que eu cresci — minha avó era benzedeira — e trazê-las para a modernidade, servir em louça bonita, para aumentar o valor e o reconhecimento.” Se antes se definia como “retirante” em SP, hoje Irina diz que o deslocamento deu lugar a um pertencimento interno. “Foquei mais no mundo aqui dentro.” Ao mesmo tempo, viajar pelo país como cozinheira ampliou sua percepção de Brasil. Sem esquecer o Nordeste, claro. “Acho chique o Nordeste estar na moda”, diz. “Tem mais é que continuar.” Creme de festa nordestino Ingredientes 4 colheres (sopa) de azeite 4 dentes de alho 1 cebola roxa 1/2 pimentão verde 5 pimentas de cheiro 1/2 pimenta dedo-de-moça 2 tomates maduros 1 kg de coxa e sobrecoxa de frango 3 colheres de shoyu 2 colheres de colorau 1 colher de cominho Sal a gosto 500 ml de creme de leite 1/2 xícara de milho-verde 1/2 de ervilha congelada Em uma panela de pressão, refogue em azeite tudo bem picadinho, na seguinte ordem: alho, cebola, pimentão, pimenta de cheiro, pimenta dedo-de-moça e tomate. Quando tudo estiver bem murchinho, adicione o frango junto com o shoyu e os temperos secos (colorau, cominho e sal). Adicione água até cobrir e feche a panela. Quando pegar pressão, conte 20 minutos e desligue. Retire as coxas e sobrecoxas e desfie bem. Pode descartar os ossos. Volte para a mesma panela e deixe reduzir por cerca de 10 minutos. Finalize pondo o creme de leite, o milho e a ervilha. Sirva com arroz. Arroz de coentro Ingredientes 4 xícaras de água 1 maço de coentro 4 dentes de alho 2 colheres de óleo 2 xícaras de arroz branco Sal a gosto Faça um suco com o coentro e a água. Coe e reserve. Refogue o alho picadinho em óleo e acrescente o arroz. Deixe dar uma refogada. Depois adicione o suco do coentro e o sal e deixe cozinhar em fogo brando. Quando secar toda a água, tampe a panela e deixe descansar por 20 minutos antes de mexer — segredo para o arroz ficar soltinho. Drinque Brasil tropical Ingredientes 1 xícara de jabuticaba 1 xícara de acerola 2 cajus 1/2 manga em cubos Gelo a gosto 500 ml de espumante 300 ml cajuína Modo de preparo Faça camadas de frutas e gelo numa jarra bonita. Depois acrescente o espumante e, por fim, a cajuína. Sirva bem gelado. Não deixe de comer as frutas para refrescar.