Com tensões geopolíticas na Venezuela, ouro e prata atingem máxima histórica

O ouro e a prata dispararam para níveis recordes, à medida que a escalada das tensões geopolíticas e as apostas em novos cortes de juros nos Estados Unidos deram impulso ao melhor desempenho anual em mais de quatro décadas. Para fugir do imposto: Alta nas remessas ao exterior chega a 30% este ano com mudança na tributação de dividendos Petróleo sobe mais de 2% e ouro se aproxima do recorde, com bloqueio de Trump a navios da Venezuela O ouro avançou mais de 1,5%, superando o recorde anterior de US$ 4.381 a onça, estabelecido em outubro, enquanto a prata subiu até 3,4%, aproximando-se de US$ 70 a onça. O movimento amplia os ganhos que colocam ambos os metais firmemente a caminho de seu desempenho anual mais forte desde 1979. A nova alta ocorre em meio a apostas de que o Federal Reserve fará dois cortes de juros em 2026, enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, também defende uma política monetária mais frouxa. Juros mais baixos costumam favorecer os metais preciosos, que não pagam rendimento. As tensões geopolíticas crescentes também reforçam o apelo do ouro e da prata como ativos de proteção. Os Estados Unidos intensificaram um bloqueio ao petróleo da Venezuela, aumentando a pressão sobre o governo do presidente Nicolás Maduro, enquanto a Ucrânia atacou pela primeira vez, no Mar Mediterrâneo, um navio-tanque da chamada frota fantasma da Rússia. Prioridade: Petróleo da Venezuela é um dos focos da campanha de Trump contra Maduro O ouro já acumula alta de quase 70% neste ano, sustentado pelo aumento das compras por bancos centrais e pelos fluxos para fundos negociados em bolsa (ETFs) lastreados em ouro. As iniciativas agressivas de Trump para remodelar o comércio global, além de suas ameaças à independência do banco central americano, deram ainda mais combustível à forte valorização observada no início do ano. Os investidores também ajudaram a impulsionar o ouro, diante do receio de perda de valor de moedas e títulos públicos com o avanço da dívida global. Os fundos lastreados em ouro tiveram entradas nas últimas quatro semanas, e o volume total nesses fundos cresceu em quase todo o ano, segundo dados compilados pela Bloomberg. Números do Conselho Mundial do Ouro mostram ainda que o total de posições nesses fundos subiu em todos os meses deste ano, com exceção de maio. — A alta de hoje é amplamente impulsionada por um posicionamento antecipado em torno das expectativas de corte de juros pelo Fed, amplificado pela baixa liquidez típica do fim de ano — disse Dilin Wu, estrategista do Pepperstone. Entenda: O que a alta do dólar e a queda da Bolsa dizem sobre como o mercado vê a pré-candidatura de Flavio Bolsonaro? Segundo ela, o crescimento fraco do emprego e a inflação dos EUA abaixo do esperado em novembro reforçaram a narrativa de mais cortes de juros. Outros metais preciosos também dispararam, com o paládio avançando mais de 4%. A platina subiu pela oitava sessão consecutiva e foi negociada acima de US$ 2.000 pela primeira vez desde 2008. Após recuar do pico em outubro, quando o rali era visto como excessivamente concentrado e superaquecido, o ouro se recuperou rapidamente e agora está posicionado para levar esses ganhos para o próximo ano. O Goldman Sachs está entre os bancos que projetam novas altas em 2026, com um cenário-base de US$ 4.900 a onça e riscos inclinados para cima. Segundo o banco, investidores em ETFs estão começando a competir com os bancos centrais por uma oferta física limitada. As compras dos bancos centrais, a demanda física e a proteção contra riscos geopolíticos são “âncoras de médio a longo prazo, enquanto a política do Fed e os juros reais continuam a comandar os movimentos cíclicos”, afirmou Wu, do Pepperstone. Após interceptar petroleiro no sábado, EUA tentam abordar outro navio na costa da Venezuela Novos participantes no mercado de ouro, como emissores de stablecoins — caso da Tether Holdings SA — e alguns departamentos de tesouraria corporativa, estariam criando uma “base de capital mais ampla”, o que “aumenta a resiliência da demanda”, escreveu ela em nota. O avanço recente da prata tem sido sustentado por entradas especulativas e por desorganizações persistentes na oferta nos principais centros de negociação, após um histórico short squeeze em outubro. O volume total de negociação dos contratos futuros de prata em Xangai disparou no início deste mês, atingindo níveis próximos aos observados durante o aperto de oferta de alguns meses atrás. A platina, que acumula alta de cerca de 125% neste ano, ganhou ainda mais velocidade nos últimos dias, à medida que o mercado de Londres mostra sinais de aperto. Bancos estão direcionando mais metal para os EUA como proteção contra o risco de tarifas, enquanto as exportações para a China permanecem fortes, com o aumento da demanda e o início das negociações de contratos na Bolsa de Futuros de Guangzhou. Moeda de ouro é leiloada por R$ 18,9 milhões, recorde na Europa: 'Absoluta raridade' O ouro à vista subiu 1,7%, para US$ 4.412,94 a onça, às 9h21 em Londres. A prata avançou 2,6%, para US$ 68,88. O paládio ganhou mais de 3% e a platina subiu 4,3%. O índice Bloomberg Dollar Spot recuou 0,2%. Os principais fatores que afetaram o mercado foram a perspectiva de mais cortes de juros e as “preocupações geopolíticas, particularmente em torno da Ucrânia e da recente estratégia de segurança nacional do governo Trump”, disse Nicholas Frappell, chefe global de mercados institucionais da ABC Refinery, em Sydney. Frappell acrescentou que as tensões entre Japão e China e a situação na Venezuela também estão dando suporte ao ouro.