Câmara cancela passaportes diplomáticos de Eduardo Bolsonaro e Ramagem após cassação dos mandatos

A Câmara dos Deputados cancelou os passaportes diplomáticos dos ex-deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ) após a cassação dos mandatos, formalizada por decisão da Mesa Diretora na última quinta-feira. Os atos administrativos foram expedidos na sexta-feira e comunicados ao Ministério das Relações Exteriores para a adoção das providências cabíveis. Nos dois casos, o cancelamento foi formalizado por meio de ofícios assinados pelo gabinete da Segunda-Secretaria da Câmara, que informam a perda da prerrogativa em razão da vacância do cargo. Os documentos destacam que os passaportes diplomáticos já estavam automaticamente cancelados a partir da data da cassação, conforme prevê o decreto que regula a emissão de documentos oficiais de viagem. Também foram suspensos os passaportes diplomáticos das esposas e dos filhos dos ex-parlamentares, uma vez que a concessão do documento a familiares está vinculada à existência de mandato em exercício. Eduardo Bolsonaro deixou o Brasil em fevereiro e está nos Estados Unidos, onde passou a atuar politicamente em articulações contra autoridades brasileiras envolvidas em investigações que atingem o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados. A Mesa Diretora declarou a perda do mandato com base no Regimento Interno da Câmara, após o deputado ultrapassar o limite de faltas às sessões plenárias. Ele também responde a processo no Supremo Tribunal Federal, acusado de coação no curso do processo judicial. Sem previsão de retorno ao país, o ex-deputado já passou a mencionar a possibilidade de solicitar um passaporte de apátrida como forma de permanecer legalmente fora do Brasil. O documento, concedido em situações específicas pelo país de residência, não confere nacionalidade nem direitos políticos e depende de análise das autoridades migratórias locais. No entorno de Eduardo, a avaliação é que a estratégia busca ganhar tempo no exterior enquanto avançam os processos judiciais no Brasil e se redesenha o cenário da direita para 2026. Já Alexandre Ramagem teve o mandato declarado perdido após condenação definitiva no STF a 16 anos de prisão por participação na tentativa de golpe de Estado. A decisão judicial incluiu, entre as penas, a perda do mandato parlamentar. Para evitar novo embate institucional com o Supremo, a Mesa Diretora optou por declarar a cassação por ato administrativo, sem submeter o caso à votação em plenário. Ramagem está nos Estados Unidos desde setembro e é considerado foragido da Justiça brasileira. A suspensão dos passaportes diplomáticos não impede a permanência no exterior com passaporte comum, mas retira benefícios associados ao status diplomático. A condução dos dois casos marcou uma inflexão na postura da presidência da Câmara, comandada por Hugo Motta (Republicanos-PB), após o desgaste institucional provocado pelo episódio envolvendo a ex-deputada Carla Zambelli (PL-SP). Condenada pelo STF, Zambelli teve inicialmente a perda do mandato submetida ao plenário, que decidiu mantê-la no cargo. A decisão foi revertida horas depois por ordem do ministro Alexandre de Moraes, que determinou o cumprimento imediato da cassação.