O Brasil lançou ontem o foguete HANBIT-Nano, desenvolvido pela empresa privada sul-coreana Innospace, em Alcântara, no Maranhão. A Operação Spaceward, que foi transmitida ao vivo pelo YouTube (veja aqui), é o primeiro lançamento comercial do país — um mercado dominado por EUA, Europa e China. Ela teve a participação de 400 profissionais, sendo 300 militares. Maias x astronomia moderna: Novo estudo mostra como civilização antiga acertava eclipses com horas de precisão Cavernas na lua? Nova descoberta reforça planos de futuras bases humanas debaixo da terra lunar A operação estava marcada inicialmente para novembro. No entanto, foi adiada cinco vezes — quatro desde a terça-feira da semana passada. De acordo com a a Força Aérea Brasileira (FAB), a janela de lançamento — intervalo de tempo para o foguete subir e entrar em órbita com o caminho livre de radares orbitando no caminho, sem lixo espacial ou outros obstáculos — se encerraria ontem. O HANBIT-Nano leva a bordo oito dispositivos — sete brasileiros e um indiano — definidos como “experimentos”. Entre eles estão dois nanossatélites desenvolvidos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que permitirão o estudo de um sistema de comunicação de baixo consumo energético utilizado na aplicação da Internet das Coisas, rede integrada de objetos eletrônicos inteligentes. Logo da Operação Spaceward 2025 em frente ao foguete HANBIT-Nano Divulgação: FAB O foguete também transporta um satélite educacional equipado com versões teste de tecnologias como placas solares e instrumentos de navegação, além de mensagens de alunos da rede pública local, de comunidades quilombolas. Especificações do foguete Arte/O GLOBO Editoria de Arte De acordo com Marco Antônio Chamon, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), que representa a parcela civil do Programa Espacial Brasileiro, os experimentos que serão lançados na órbita brasileira ainda não pertencem à elite da tecnologia do ramo, mas já representam um avanço da exploração nacional e proporcionam novos métodos de pesquisa, mesmo sendo considerados dispositivos de pequeno porte. — Não estamos falando de satélites capazes de transmitir programas de televisão em cadeia nacional, mas sim da possibilidade de se transmitir um sinal para o espaço que será repetido e captado por uma estação em terra, geralmente na própria universidade — esclarece. — Estamos falando de cubos de até 10cm de altura, largura e profundidade e que pesam de um a três quilos. Imagem dos satélites FloripaSat (esquerda); do sistema SNI-GNSS (centro); e do satélite PION-BR2 (direita) Reprodução: FAB / Innospace / UFMA Foguete HANBIT-Nano, que será lançado do Centro de Lançamentos de Alcântara no sábado (22) Divulgação / FAB A dinâmica da Operação Spaceward em Alcântara envolve uma cooperação do setor público com a iniciativa privada. A base é militar e todos os seus sistemas, dos portões às antenas e painéis de controle, são operados por oficiais brasileiros da FAB. A empresa sul-coreana ficou responsável por trazer o foguete desmontado até o país com uma equipe de engenheiros para a montagem e seus próprios sistemas de verificação. Já a AEB atua como entidade reguladora responsável pelo licenciamento, que é dado antes da empresa sequer firmar contrato para a decolagem, e pela fiscalização do foguete e da estrutura montada, realizada às vésperas da operação. Centro de Lançamentos de Alcântara, principal base aeroespacial do Brasil Divulgação: FAB Acidente há 20 anos A operação ocorre 20 anos após o acidente de 2003 que vitimou 21 técnicos e engenheiros civis em Alcântara. Na ocasião, o foguete brasileiro VLS-1 passava por ajustes finais para decolar quando uma ignição prematura de um dos motores resultou em um incêndio e na explosão da estrutura. Imagens da explosão do foguete VLS-1 em Alcântara no ano de 2003 Reprodução / TV Globo Nos últimos dois anos, o governo federal atualizou publicações que guiam a exploração espacial brasileira: o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), que regulamenta o desenvolvimento militar de tecnologia aeroespacial, e o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), que guia o planejamento da exploração civil do setor. Ambos contam com aumento de verbas para desenvolvimento de tecnologias próprias em relação às edições anteriores. De acordo com Chamon, apesar de o Brasil estar defasado em relação ao desenvolvimento de tecnologias aeroespaciais próprias, o país precisa buscar mais autonomia e independência no setor: — A fabricação de foguetes ainda não dominamos completamente e não temos nossos próprios satélites de meteorologia, o que seria bom ter. (*Estagiário sob supervisão de Luã Marinatto) Initial plugin text